“Enquanto isso, onde está Deus? Esse é um dos sintomas mais inquietantes. Quando você está feliz, tão feliz que não tem nenhuma necessidade Dele… e se volta para Ele com gratidão e louvor, é recebido de braços abertos. Mas vá até Ele quando estiver em desespero, quando tudo parece ter sido em vão, e o que encontrará? Uma porta fechada e o barulho de uma tranca sendo passada duas vezes. Depois disso, um silêncio. Você pode ir embora.”
– C. S. Lewis – “A Anatomia de Uma Dor”.
Richard Attenborough tem uma notável colaboração para o cinema. Com uma carreira como ator em evolução aos 12 anos (hoje Attenborough tem 85 anos de vida), o seu primeiro passo como cineasta foi dado somente em 1969, com o musical “Oh! Que Bela Guerra”. De lá para cá seguiram-se somente onze títulos e na maioria deles foi dedicados a nomes bem famosos. Mohandas Karamchand Gandhi (“Gandhi”, 1982, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Diretor), Steve Biko (“Um Grito de Liberdade”, 1987), Charles Spencer Chaplin (“Chaplin”, 1992), Ernest Hemingway (“No Amor e na Guerra”, 1996) e Archibald Belaney (“O Guerreiro da Paz”, 1999) são algumas pessoas que de fato existiram e que serviram para Attenborough contar a bela história de vida de cada um deles.
Clive Staples Lewis, o famoso autor de “As Crônicas de Nárnia”, é o personagem central de “Terra das Sombras”, drama baseado em um trecho de sua existência. Talvez seja o melhor filme de Richard Attenborough. E, se não fosse o suficiente, o melhor momento de Anthony Hopkins e Debra Winger em toda a carreira, com Winger recebendo a sua terceira nomeação ao Oscar de melhor atriz. Hopkins, como se imagina, é Lewis. No início da década de 1950 o escritor marca um encontro com Joy Gresham (Debra Winger) após receber uma correspondência descrevendo o grande fascínio dela pelo seu trabalho. Viajando ao seu encontro para a Inglaterra, Joy trás consigo o seu jovem filho Douglas (Joseph Mazzello, conhecido pelos sensíveis “A Cura” e “Pequeno Milagre”).
A intenção de Joy além de conhecer pessoalmente Lewis é ouvir a sua opinião sobre os seus poemas, afinal ela também apresenta aptidão pela escrita. O relacionamento entre eles, que resulta numa bela amizade, flui bem, mas Joy tem que voltar para o seu lar. Só que não demora para ela retornar à Inglaterra com uma proposta para Lewis, que é um casamento. Ela passa por problemas com o marido, extremamente violento e que vive com os vícios do álcool. E viver com Lewis na Inglaterra é um novo recomeço. Mas a princípio eles não se amam. Armam o casamento com Lewis concordando passivamente com as propostas de Joy. Eles não viveram como marido e mulher, somente como bons amigos. O ato da união entre os dois consegue ser até cômico. E o amor aparece e num momento bem delicado, quando Joy é diagnosticada com câncer nos ossos.
O roteiro indicado ao Oscar de William Nicholson, que por sua vez se baseia na encenação teatral de sua própria autoria, segue exatamente a linha deixada pelo verdadeiro C. S. Lewis. E Richard Attenborough tem uma direção primorosa. O cineasta capta sequências com uma sensibilidade comovente e não se esquece do tom que predomina as memórias do protagonista através dos seus relatos pessoas no livro “A Anatomia de Uma Dor”. Através de uma referência curiosa com “As Crônicas de Nárnia”, sendo o guarda-roupa escondido no sótão da casa de Lewis onde o filho de Joy não encontra mágica alguma daquela das aventuras dos irmãos Pevensie, “Terra das Sombras” apresenta o mundo como ele é. Um mundo onde todos passam por alegrias, fé e sonhos, mas também por tristezas, descrença e perdas. E com base nesses sentimentos tão contraditórios, Attenborough molda um filme cuja magnitude é tão infinita que avaliações ou mesmo quaisquer palavras não são capazes de representá-lo.
“Por que amar, se perder machuca tanto? Eu não tenho mais respostas: só a vida que eu vivi. Duas vezes nessa vida eu dei a escolha: como um garoto e como um homem.O garoto escolheu a segurança, o homem o sofrimento. A dor de então faz parte da felicidade de agora. Esse é o acordo.”
– Anthony Hopkins, como Clive Staples Lewis – “Terra das Sombras”.
Título Original: Shadowlands
Ano de Produção: 1993
Direção: Richard Attenborough
Elenco: Anthony Hopkins, Debra Winger, Edward Hardwicke, Joseph Mazzello, Peter Firth e Julian Fellowes.
Nota: 10

O jovem cineasta francês Alexandre Aja conseguiu um feito impressionante dentro do gênero ao qual se sustenta desde seu primeiro trabalho: ser exaltado por muitos como o nome mais promissor no cinema de horror com o seu segundo filme, o ousado “Alta Tensão”, protagonizado pela conhecida Cécile De France. O diretor já havia realizado “Furia”, um filme nada conhecido com uma também nada conhecida Marion Cotillard, mas “Alta Tensão” é um filme tão forte em sua brutalidade, da qual não polpa nem mesmo uma criança, que nem o desfecho para lá de manjado fez com que o interesse dos americanos em solicitar os trabalhos do profissional fossem diminuídos. O resultado foi um filme ainda melhor, “Viagem Maldita”, refilmagem de “Quadrilha de Sádicos”.

Embora seja um cineasta cujos filmes destacam um protagonista com sede de vingança e justiça e antes um astro de filmes de ação, como toda a franquia do grande Dirty Harry ou mesmo os western de Sergio Leone, Clint Eastwood já teve os seus momentos mais delicados, rodando filmes onde o centro eram mulheres protagonizando algum quadro muito dramático. O exemplo recente é “Menina de Ouro”, obra-prima de destaque no Oscar 2005. O atual é “A Troca”, baseado em um acontecimento verídico.
Por se tratar de dois longas cujos lançamentos nacionais não são tão distantes, será um espanto para o público que encarar “Quatro Minutos” antes de “O Leitor”. Ou vice-versa. Mas antes de estabelecer as distinções entre estes dois títulos cinematográficos, ambos trazem em seus argumentos um episódio do Holocausto que cada uma das protagonistas não hesita em permanecer oculto, trazendo nas revelações o elemento narrativo de grande importância, sendo capaz de elevar a história em um outro degrau. Monica Bleibtreu e Kate Winslet também recorrem a uma pesada maquiagem para modelar Traude Krüger e Hanna Schmitz, respectivamente. E, por fim, apreciam uma arte: Traude o da música e Hanna o encanto que desperta com a leitura no papel de ouvinte. Mas, desta vez, vamos destacar “Quatro Minutos”.
Filho do falecido pintor Roy Lichtenstein, Mitchell Lichtenstein (que logo completará cinquenta e três anos de idade) investe em “Teeth” a sua primeira experência de diretor de longa-metragem após um longo tempo como ator em alguns filmes (“O Banquete de Casamento”, de Ang Lee) e participações pequenas em seriados televisivos como “Miami Vice” e “Lei & Ordem”. Já com um segundo longa concluído – que estreou na última semana no Festival de Berlim -, “
Kristin Scott Thomas está entre aquelas que são as melhores e mais belas atrizes em atividade. Mas esta extraordinária atriz britânica, que confessa ter iniciado a sua carreira com o pé esquerdo (“Sob o Luar da Riviera”, dirigido por Prince, é o seu primeiro filme), parece ter suas interpretações ignoradas pelo pouca repercussão que seus trabalhos apresentam. E essa falta de atenção se aplica no seu desempenho em “Há Tanto Tempo Que Te Amo”, o melhor da sua carreira. E isto vindo desta magnífica dama que esteve tão bem em “Quatro Casamentos e Um Funeral”, “O Paciente Inglês”, “Assassinato em Gosford Park”, “De Bico Calado” ou “Tempo de Recomeçar” definitivamente não é pouco. Como Juliette Fontaine, Kristin Scott Thomas, antes considerada como uma entre as cinco indicadas ao Oscar 2009 na categoria de melhor performance feminina principal, deixa quase todas as concorrentes pela estatueta numa escala bem abaixo de sua magnitude.