
Todd Solondz tem uma aparência que remete a um nerd, conforme costuma dizer a imprensa especializada. Magrelo, usando vestes e calçados esquisitos (especialmente os seus tênis amarelos) e antes portando grandes óculos, o diretor e roteirista já disse que muitos dos dramas que constrói surgem das próprias experiências pessoais que viveu quando era mais jovem (há quem consiga ver paralelos entre ele e Dawn, personagem incorporada por Heather Matarazzo em “Bem-Vindo à Casa de Bonecas”).
Se as experiências poderiam muito bem transformá-lo em um ser humano amargurado elas acabam servindo como oportunidades para este que é uma das mentes mais interessantes do cinema independente. Os seus argumentos se baseiam naquilo que é chamado de sonho americano, mas a sua função é o de apresentar toda a mediocridade e podridão que cercam a sociedade como um todo.
Faltando somente alguns meses para completar cinquenta anos, Todd Solondz sempre foi exaltado pela crítica preguiçosa como o diretor capaz de fazer a plateia rir da tragédia vista na tela e que, simultaneamente, estranha o próprio comportamento. Mas a sua filmografia comentada abaixo traz um realizador que com toda a certeza o marcará por inúmeras razões ainda mais intrigantes.
FILMOGRAFIA
BEM-VINDO À CASA DE BONECAS – 1995
“Bem-Vindo à Casa de Bonecas” não é o primeiro trabalho de Todd Solondz, mas foi o primeiro a conseguir lançamento no Brasil. Heather Matarazzo, excelente em seu primeiro papel aos treze anos, é Dawn, uma menina que é alvo de piadas dos colegas de escola e de desprezo no ambiente familiar. É também a protagonista de um retrato criado por Solondz, onde nem as crianças se encontram livres de uma sociedade moldada por aparências, embora até elas não sejam nada inocentes quando testemunhamos as humilhações passadas por Dawn. Ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance e fez discreto sucesso nas bilheterias americanas.
Cotação: 




FELICIDADE – 1998
A obra máxima do diretor e também o seu filme mais completo. Usando o já hoje surrado recurso onde uma história se movimenta com a ligação entre indivíduos desconhecidos, “Felicidade” toca em temas espinhosos como pedofilia sem nenhum pudor. O drama foca personagens que, ironicamente, podem ser qualquer coisa, menos felizes. Sem este sentimento, Solondz aproveita para revelar que há pessoas mais sórdidas, confusas e melancólicas do que Joy Jordan (Jane Adams), o fio condutor da narrativa.
Cotação: 




HISTÓRIAS PROIBIDAS – 2001
Com o prestígio obtido em “Felicidade”, Todd Solondz decepciona bastante em “Histórias Proibidas”, embora não seja uma fraca produção. O diretor tem um roteiro a princípio interessante, dividindo-o em dois com os títulos de “Ficção” e “Não-Ficção”. A ideia aqui é elaborar duas histórias sérias que são recebidas por personagens secundários de uma maneira inversa da esperada. Mas se “Ficção” é um retrato quase perfeito pela sua acidez, “Não-Ficção” se revela entediante tanto pela sua longa duração (de aproximadamente cinquenta minutos) quanto pelos rumos que levam as filmagens do cotidiano de uma família cujo filho mais velho tem sonhos futuros que levam a plateia as gargalhadas.
Cotação: 




PALÍNDROMOS – 2004
Neste drama inédito em nosso país, Todd Solondz se aproxima do mesmo patamar de “Felicidade”. O tema é a maternidade e o diretor novamente levanta polêmicas ao falar sobre pedofilia. Há também outras consequências sérias aqui mostradas, como o aborto. O filme tem uma complexidade nunca vista igual no cinema de Solondz, construindo Aviva através do corpo de várias atrizes, entre as quais Jennifer Jason Leigh, Sharon Wilkins e Valerie Shusterov. Com isto Solondz consegue transmitir a sensação de que qualquer mulher poderia ter vivido a mesma circunstância. E o palíndromo do título não se dá somente no nome da personagem: independente das mudanças que possam ser impostas, todos sempre serão os mesmos em suas essências.
Cotação: 




ATUAÇÕES

Assim que iniciou a sua carreira nos cinemas em 1985 com o curta-metragem “Schatt’s Last Shot”, Todd Solondz também experimentou a arte de representar, incorporando um jovem que tenta surpreender a garota que gosta em uma partida de basquete no colégio onde estuda. Este foi o primeiro de cinco trabalhos como ator, mas foi somente em “Fear, Anxiety & Depression” (o seu primeiro longa-metragem inédito no Brasil) que Solondz teve um tempo maior em cena. É mais fácil conferir as suas aparições em “De Caso Com A Máfia” e em “Melhor é Impossível”. No primeiro filme, dirigido por Jonathan Demme, ele faz uma ponta como um repórter. Já na comédia de James L. Brooks, Solondz aparece dentro de um ônibus.
PROJETO FUTURO
Sem estar envolvido em qualquer projeto desde “Palíndromos”, Todd Solondz agora volta a dar as caras com a dramédia “Life During Wartime”, que deve ser exibido ainda este ano. Em fase de pós-produção, nada muito detalhado foi divulgado sobre a premissa. Algumas fontes informam que o filme deve seguir a mesma linha de “Felicidade”, mas desenvolvendo personagens diante de uma guerra. O projeto chamou a atenção pelo rumor de Paris Hilton estar envolvida no elenco, algo negado poucas semanas depois. Ainda assim, há outros nomes bem conhecidos, como os de Shirley Henderson (“Hipnose”), Charlotte Rampling (“Swimming Pool – À Beira da Piscina”), Ciarán Hinds (“Margot e o Casamento”) e Allison Janney (“As Horas”). O orçamento de “Life During Wartime” é de aproximadamente cinco milhões de dólares e as suas filmagens iniciaram em outubro do ano passado.
LINKS RELACIONADOS
– IMDb: Conheça a filmografia do diretor
– Todd Solondz: Site sobre a carreira do diretor
– Zeta Filmes: Entrevista com o diretor
– Laranja Psicodélica: Download de “Palíndromos”