Resenha Crítica | Jogo Entre Ladrões (2009)

Jogo Entre Ladrões
O cinema americano produz ao menos uma vez por ano algum título cujo centro é um roubo mirabolante. Se entre os longas do ano passado o destaque foi “Um Plano Brilhante“, este ano o representante até o momento é “Jogo Entre Ladrões”. Quase independente (a fita custou 25 milhões de dólares), o novo filme da diretora Mimi Lader não teve muita sorte. Não chamou atenção quando exibido no Brasil e lá fora, nos Estados Unidos, foi lançado diretamente em DVD. Se já não bastasse, “Jogo Entre Ladrões” originalmente tem dois nomes de batismo: “The Code” e “Thick as Thieves”. Mas não deixa de ser uma eficiente produção do gênero que preserva muitos elementos que garantiram o bom êxito de exemplares anteriores.

O que movimenta a história é a parceria entre os ladrões Gabriel (Antonio Banderas) e Ripley (Morgan Freeman). Eles elaboram um meticuloso plano para roubar um valioso artefato oval em uma joalheria situada na Rússia. Além da dificuldade que há em executar este roubo por conta dos avançados recursos de segurança no local, a dupla tem em seu encalço o Tenente Weber (Robert Forster), que há anos observa as artimanhas de Ripley para poder coletar provas de suas obscuras atividades. Alexandra (Radha Mitchell, em outra excelente performance e incrivelmente sexy), afilhada de Ripley, também marca presença ao se relacionar com Gabriel.

O que vale destacar em “Jogo Entre Ladrões” é a sua diretora, Mimi Leder. Embora a sua pequena filmografia não seja composta por nenhum grande filme e que não seja capaz de reverter este quadro com “Jogo Entre Ladrões”, é surpreendente ver uma mulher de cinquenta e sete anos no comando de um filme de ação. O seu melhor momento foi em “O Pacificador” e aqui ela conduz um divertimento que é extremamente elegante e que distraí bastante durante o seu decorrer conforme visto na aventura com George Clooney e Nicole Kidman. Para confirmar que isto não é pouco, ela deixa no chinelo frustrações como “Treze Homens e um Novo Segredo”, que contava com muita mais grana em jogo e com um elenco cheio de estrelas. O primeiro roteiro para cinema de Ted Humphrey dá as suas escorregadas pelo excesso de reviravoltas no clímax, algumas rapidamente esquecíveis, mas o seu texto é bem esperto ao usar referências de “Rififi” e “Topkapi”. Há até uma passagem hilariante, onde Gabriel se apresenta para o Tenente Weber como Jules Dassin. Mesmo com as ressalvas, o resultado é positivo, especialmente pela ótima sintonia entre o elenco central.

Título Original: “The Code” / “Thick as Thieves”
Ano de Produção: 2009
Direção: Mimi Leder
Elenco: Morgan Freeman, Antonio Banderas, Radha Mitchell, Robert Forster, Michael Hayden, Marcel Iures, Gary Werntz e Rade Serbedzija.
Nota: 6.0

The Spirit – O Filme

The Spirit - O Filme

Mais conhecido pela sua contribuição no universo das histórias em quadrinhos, Frank Miller já havia se aventurado no universo cinematográfico como roteirista (ele escreveu as sequências de “Robocop – O Policial do Fururo) e co-diretor (“Sin City – A Cidade do Pecado”). Como diretor no comando de tudo a oportunidade, no entanto, veio somente agora com “The Spirit – O Filme”. Os quadrinhos de Will Eisner, desenhista americano que faleceu em 2005, é o material adaptado por Frank Miller para o cinema. Antes, “The Spirit” serviu também como base para outra adaptação, esta televisiva, em 1987. Bill Pope (“Homem-Aranha 3“) e Rosario Provenza (“Funcionário do Mês”) são, respectivamente, diretor de fotografia e diretor de arte e cenários e desenvolvem juntos com efeitos especiais uma experiência visual deslumbrante, formidável. Mas um filme depende de outras características para fluir agradavelmente. E o problema de “The Spirit – O Filme” se concentra naquela que jamais deve ser mal desenvolvida: a narrativa.
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O personagem de Gabriel Macht, o detetive Denny Colt, foi criado por Eisner na década de 1940. O filme inicia com informação acerca de como este homem se tornou o herói Spirit ao voltar do mundo dos mortos. Quando Central City grita por socorro diante do perigo o destemido Spirit impede os crimes que a rondam. Mas o protagonista só confronta um vilão de fato ameaçador quando aparece Octopus (Samuel L. Jackson, em desempenho propositalmente caricatural) que com os serviços de sua assistente Silken Floss (Scarlett Johansson) busca por um misterioso vaso capaz de proporcionar a imortalidade para aquele que resgatá-lo.

Assim como visto em “Sin City – A Cidade do Pecado”, “The Spirit – O Filme” recheia todos os espaços com femmes fatales, detetives, mistérios, jogo de sombras, narração em off, entre outros elementos que remetem ao film noir. Frank Miller tem sintonia com cada um desses pontos, mas os costuram em uma história que resulta em exaustão. Há também algumas situações e personagens que incomodam. O primeiro encontro entre Spirit e Octopus exagera no ridículo e os clones Ethos, Logos e Pathos, todos incorporados pelo ator Louis Lombardi, irritam. Vale lembrar que “The Spirit – O Filme” não é um “Sin City – A Cidade do Pecado”, mas se Miller tivesse contado com o auxílio de uma pessoa mais experiente em cinema, como aconteceu na sua parceria com Robert Rodriguez, teria recebido algum mérito por mais uma obra-prima.

Título Original: The Spirit
Ano de Produção: 2008
Direção: Frank Miller
Elenco: Gabriel Macht, Samuel L. Jackson, Eva Mendes, Scarlett Johansson, Sarah Paulson, Jaime King, Dan Lauria, Eric Balfour, Louis Lombardi e Paz Vega.
Nota: 6.0

Resenha Crítica | Coraline e o Mundo Secreto (2009)

Coraline, de Henry Selick

Henry Selick orquestrou aquela que é considerada uma das melhores animações em longa-metragem já realizadas, “O Estranho Mundo de Jack”. “Coraline e o Mundo Secreto” é uma realização em stop-motion (lançada em alguns cinemas no recurso 3D) e apresenta uma interessante atmosfera gótica que muito remete ao argumento de Tim Burton sobre Jack Skellington. É um atrativo, mas “Coraline e o Mundo Secreto” tem um sério problema de ritmo.

Baseado em um livro do britânico Neil Gaiman, a história destaca a monotonia de Coraline (voz de Dakota Fanning) em seu novo lar. Ela não tem amigos, não tem nada para se distrair e os seus pais (vozes de Teri Hatcher e John Hodgman), ambos escritores, não lhe dão a devida atenção. Explorando cada cômodo do enorme casarão que agora habita, Coraline encontra um minúsculo portal que a transfere para um mundo paralelo. A diferença até o primeiro momento é o seu pai e sua mãe, bem mais dóceis do que são no mundo real e com botões nos lugares dos olhos.

Essas idas e vindas da realidade para a fantasia fazem com que “Coraline e o Mundo Secreto” se torne uma animada aventura sombria pouco envolvente. O filme só toma pique na sua última meia hora de metragem, quando as coisas ficam de fato aterradoras e vibrantes. É o instante onde o filme de Selick de fato se sobressai, especialmente no que se diz respeito ao trabalho visual. Conta pontos também a moral presente no desfecho de “Coraline e o Mundo Secreto”, sobre a aceitação de pessoas diante de suas imperfeições. É um tema adulto que pode ser processado por crianças e isso é o que faz a animação acabar valendo um pouco a pena.

3 Macacos

3 Macacos
O título do longa-metragem dramático dirigido na Turquia e também escrito por Nuri Bilge Ceylan corresponde aos Três Macacos Sábios, figuras do folclore japonês. Eles são Kikazaru (o que tapa os ouvidos), Mizaru (o que tapa os olhos) e Iwazaru (o que tapa a boca). Os três símios representam assim três ações como “não ouvir o mal”, “não ver o mal” e “não falar o mal”. Isto também é representado através dos três personagens centrais de “3 Macacos”, uma família composta por um casal e um filho.

Servet (Ercan Kesal), um homem prestes a se eleger em um cargo político, se envolve em uma morte, atropelando acidentalmente um indivíduo ao final da noite. Não querendo responder por esta situação, pois a placa do seu carro foi anotada por um casal que passou pela estrada um pouco depois do acidente, estabelece uma proposta ao seu motorista Eyüp (Yavuz Bingol), que não estava presente na circunstância que dá início ao filme, sendo o de responder por esta morte e ir preso em troca de muito dinheiro. Ele aceita e é a sua esposa Hacer (Hatice Aslan) e o seu filho Ismail (Rifat Sungar) os beneficiados.

Ao desenvolver essa premissa em seus primeiros trinta minutos, “3 Macacos” trata de nos mostrar as consequências dessa escolha e os estranhos segredos dessa família, que envolve uma tragédia do passado. Premiado em Cannes como melhor diretor, Nuri Bilge Ceylan desenvolve a partir deste ponto um filme que se comunica mais pela imagem do que pela palavra. Informado isso, há de se elogiar o trabalho singular de fotografia de Gökhan Tiryaki. As cores em tons escuros, que em momentos vem acompanhados de chuvas e trovoadas, é impactante. O texto, no entanto, parece deixar de existir. Havendo um equilíbrio maior entre a encenação e a narrativa, “3 Macacos” com toda certeza seria um trabalho com a densidade esperada. Da forma como foi elaborado, o interesse em acompanhar os desdobramentos da vida do trio familiar é zero.

Título Original: Üç maymun
Ano de Produção: 2008
Direção: Nuri Bilge Ceylan
Elenco: Yavuz Bingol, Hatice Aslan, Rifat Sungar, Ercan Kesal, Cafer Köse, Gürkan Aydin.
Nota: 2.0

As Testemunhas

As Testemunhas | Les TémoinsEmbora alguns estudos indiquem que os primeiros casos tenham surgido entre a década de 1940 e 1950, o vírus da AIDS se transformou em algo a se preocupar somente nos anos 1980, pois foi o período onde o contágio se tornou mais presente. A prevenção e o tratamento foram aplicados assim que se teve uma maior base dos sintomas que identificam o vírus e, ainda assim, o número de infectados permanece expressivo e preocupante. Em “As Testemunhas”, o diretor André Téchiné (“Rosas Selvagens”, “Anjo da Guerra”) relata o surgimento da doença, mesmo que os minutos iniciais apontem para algo totalmente diferente.

O ano ao qual se passa a ação é em 1984 e os cenários pertencem a Paris. É o local para onde Manu (Johan Libéreau) vai em busca de um emprego. Como forma de amenizar as despeças ele consegue convencer a sua irmã Julie (Julie Depardieu) em convidá-lo para viver em seu apartamento. Homossexual, Manu faz amizade com o velho médico Adrien (Michel Blanc). É através dele que Manu conhece e se relaciona com o policial Mehdi (Sami Bouajila), que por sua vez tem um casamento incomum com a escritora Sarah (Emmanuelle Béart, em várias cenas de nudez gratuita), a melhor amiga de Adrien.

É aí que Manu se descobre infectado e em seu isolamento André Téchiné, que também colaborou no desenvolvimento do roteiro, tenta nos dar uma percepção de como o vírus da AIDS trouxe tanta insegurança e desmoronou tantas vidas jovens com o seu surgimento. Para isto, seria necessário bons personagens para nos garantir essa inquietação. Não é o que acontece em “As Testemunhas”. Todos os perfis são nada envolventes. A história de cada um deles, ainda mais. Se custa acompanhá-los logo de início, o drama que impera a narrativa da sua metade em diante arranca muitos bocejos. É até intrigante o questionamento que fazemos ao ver que não conseguimos nos importar com o destino de cada personagem, inclusive o de Manu. Registro interessante, mas com resultados nulos.

Título Original: Les Témoins
Ano de Produção: 2007
Direção: André Téchiné
Elenco: Michel Blanc, Emmanuelle Béart, Sami Bouajila, Julie Depardieu, Johan Libéreau, Constance Dollé e Lorenzo Balducci
Cotação: bomba

Um Louco Apaixonado

Um Louco Apaixonado
Com um resultado final positivo ou negativo, comédias como “Um Louco Apaixonado” despontam ao menos algum interesse para que sejam posteriormente avaliadas por um único atrativo: o cômico retrato que tece do mundo do jornalismo e das celebridades. A fita é uma adaptação do famoso livro de Toby Young já lançada no Brasil com a tradução literal “Como Fazer Inimigos e Alienar Pessoas”. Rodado com o valor de 28 Milhões de Dólares, “Um Louco Apaixonado” decidiu tomar grandes liberdades em comparação com os relatos de Young para tentar adquirir algum sucesso nas bilheterias americanas (o jornalista é britânico). Deu com os burros n’água, pois o filme de Robert B. Weide, estreante em longa-metragem, amargou um vergonhoso fracasso.

No filme, Toby Young é incorporado pelo divertido Simon Pegg e tem o seu nome modificado para Sidney Young. Sempre entrando de penetra em grandes festivais de cinema e festas com astros da indústria, o jornalista parece estar diante do seu objetivo de se tornar um grande e reconhecido profissional na área quando Clayton Harding (Jeff Bridges), editor-chefe da Sharps Magazine, oferece para ele um emprego na redação. Por lá ele conhece Sophie Maes (Megan Fox, de “Transformers”, fraquinha, fraquinha), atriz em ascenção agenciada pela relações públicas Eleanor Johnson (Gillian Anderson), o inescrupuloso Lawrence Maddox (Danny Huston) e Alison Olsen (Kirsten Dunst), com quem faz amizade e que descobre ter uma relação amorosa quase secreta com Lawrence.

Na vida real, Toby Young tem uma história parecida com a relacionada no filme. Só que “Um Louco Apaixonado” prefere não criar grandes polêmicas, trocando o nome de todos os personagens reais e até mesmo o da revista, já que Toby trabalhava na Vanity Fair. Isso diminui a acidez do texto, mas a produção até que funciona como comédia descomprimissada e até pode satisfazer aqueles que aguardavam por algo que se sintonizasse com as experiências profissionais verdadeiras de Toby. Só não dá para digerir o último ato, que foge de qualquer elogio que poderia receber ao converter tudo em uma insatisfatória comédia romântica. Fiquem antenados no início de “Um Louco Apaixonado” na ponta de Thandie Newton, que trabalhou com Simon Pegg em “Maratona do Amor”.

Título Original: How to Lose Friends & Alienate People
Ano de Produção: 2008
Direção: Robert B. Weide
Elenco: Simon Pegg, Kirsten Dunst, Megan Fox, Danny Huston, Jeff Bridges, Miriam Margolyes, Max Minghella e Thandie Newton.
Nota: 6.0

Os Cinco Filmes Prediletos de Wallysson Soares

Wallysson SoaresO Rotten Tomatoes é um site que visito diariamente, pois já que tenho um espaço onde atualizo com análises de filmes contemporâneos nada melhor do que saber a opinião da imprensa antes de receber a oportunidade de assistir o filme e escrever as minhas impressões. O Rotten Tomatoes tem uma seção atualizada com frequência ao qual gosto muito, onde intérpretes, diretores, roteiristas, entre outros profissionais do cinema, comentam sobre os seus cinco filmes prediletos. Para rechear mais o Cine Resenhas acabei adaptando esta idéia. Mas os grandes nomes que convidarei são vocês, blogueiros cinéfilos.

Estava com uma relação com vários nomes consideráveis para convidar, mas a primeira pessoa que pensei mesmo foi o Wally. Editor do Cine Vita, blog hospedado no WordPress desde setembro de 2007, Wallysson Soares é um dos meus melhores amigos virtuais. Conversamos pela Internet com grande frequência e já tocamos alguns projetos juntos. O CineCast, que teve os seus dois volumes editado pelo Luciano Lima (do site A Sala), é um. O extinto Cinemateque (que espero que em breve retorne com as suas atualizações) foi outro. Vale também destacar a sua contribuição para o site da DVD Magazine.

Prestes a completar dezoito anos, Wally é cinéfilo de carteirinha. De extremo bom gosto, o jovem blogueiro tem uma filosofia bem interessante sobre o cinema com o mundo de hoje. “Tento fugir de rótulos e procuro ver as cores do mundo refletidas na tela”, admite. Outra coisa interessante no Wally como cinéfilo é a sua admiração pelo cinema contemporâneo, que muitos sujeitos metidos a sabichões julgam como não sendo capaz de criar obras equivalentes a aquelas produzidas em gerações anteriores. “O poder de grande parte dos filmes de hoje se assemelham aos de ontem – e futuramente serão eles os clássicos”. Wally é apaixonado pelas obras de diretores célebres como Steven Spielberg, Martin Scorsese, Paul Thomas Anderson e Sam Mendes, mas não esconde o seu fascínio pelo mundo literário de J.K. Rowling (“Isso mesmo!”). Já os seus títulos cinematográficos prediletos vocês conferem a seguir, com comentários do próprio blogueiro.

Beleza Americana, de Sam Mendes (1999, American Beauty)Beleza Americana, de Sam Mendes (1999, American Beauty)

“Jovem e até pouco tempo peixe novo no mundo cinematográfico, posso dizer de forma bem segura que a estréia brilhante de Sam Mendes na direção, com o magistral “Beleza Americana”, se destaca – ainda hoje – como uma das ações mais explícitas que me levaram à reação de cinéfilo. O roteiro poético e real de Alan Ball não só tocou em feridas provocadoras relacionadas ao “sonho americano”, mas amplificou seu retrato ao analisar, de forma sincera e bela, o valor da vida – e da morte. O filme é engraçado, ácido, terno e impactante em suas verdades cortantes. Construído em cima de elenco, trilha e fotografia impecáveis, é inegavelmente o filme mais fascinante – e impressionante – que tive o prazer de conferir. Não tem como segurar às lágrimas ao fim.”

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de Michel Gondry (2004, Eternal Sunshine of the Spotless Mind)Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de Michel Gondry (2004, Eternal Sunshine of the Spotless Mind)

“Acredito que ninguém terá encontrado a verdadeira originalidade se ainda não tiverem visto um filme roteirizado por Charlie Kaufman. Genial escritor e dono de uma visão bizarramente bela sobre as relações humanas, a ousadia e a originalidade de Kaufman pavimentam este que acredito ser o romance mais bonito do cinema. Michel Gondry, por sua vez, extrai do texto de Kaufman uma experiência cinematográfica sensorial e emocional rica e meticulosa. O filme é um exemplo concreto de puro frescor, e uma obra composta com tamanha paixão que me afetou profundamente. Suas análises sobre nossos temores diante do amor e da fragilidade de nossas escolhas, unem-se ao seu retrato cheio de humor de nosso subconsciente para se tornar um filme belíssimo.”

O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1972, The Godfather)O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1972, The Godfather)

“Clichê em qualquer lista de melhores, a obra-prima de Coppola é irrefutável em seu poder como cinema de uma força maior. É intimidante analisar a película, que possui elementos tão sincronizados, fluidos e virtuosos que almejam nos transportar não só ao mundo dos personagens, mas aos seus mais densos pensamentos. Contando com as brilhantes performances de Marlon Brando e Al Pacino – o filme marcou época e se mantém, mais de 30 anos depois, mais atual do que nunca. Forte, lírico e complexo, é o filme definitivo do sub-gênero, e talvez a obra que mais exemplifique a pura perfeição cinematográfica. Tendo lido o rico livro de Mario Puzo, é ainda necessário declarar que esta é, de longe, a minha adaptação literária preferida.”

 

A Lista de Schindler, de Steven Spielberg (1993, Schindler's List)A Lista de Schindler, de Steven Spielberg (1993, Schindler’s List)

“Filmado em um preto e branco belo e poético, a obra máxima de Spielberg é o filme mais sensível e extraordinário à trazer às telas o Holocausto. Cheio de nuances, enquadramentos inesquecíveis e acompanhado pela trilha comovente de John Williams, é um filme de beleza bruta e rara, que nos pega desprevenidos ao retratar o ser humano e sua situação social com grande desenvoltura e crueza. A cena que traz a inocência surgindo em forma vermelha do caos preto e branco ainda se mantém como uma das mais significativas da história da sétima arte.”


Magnólia, de Paul Thomas Anderson (1999, Magnolia)

“Um daqueles filmes de pura identificação, Magnólia não só é cinematograficamente perfeito, mas uma obra-prima de sentimento e humanismo. Composto por uma direção simbólica e intimista, e um roteiro densamente intricado em seu retrato da solidão, o longa de Paul Thomas Anderson é irresistível em seu ode às nossas particularidades como seres, e energicamente vivo graças à um elenco irretocável em sua maestria. Uma vez foi o suficiente para embuti-lo à minha mente. Mas que graça teria de vê-lo apenas uma vez?”


O Leitor

Ainda que não seja um grande feito no cinema do diretor Stephen Daldry, muitos tem agido de forma injusta em relação da recepção dada ao drama “O Leitor” de acordo com as cinco indicações que obteve na última edição do Oscar, uma surpresa, de fato. Muitos interpretaram que foi o longa a ocupar a vaga deixada por “Batman – O Cavaleiro das Trevas” na categoria de melhor filme. Mesmo sendo uma adaptação de quadrinhos mais soturna do que de costume, era improvável que a Academia considerasse o filme em departamentos mais importantes como o de ator coadjuvante para Heath Ledger, que acabara por levar o prêmio póstumo.

No fim das contas, Kate Winslet foi a atriz que arrebatou o prêmio num papel que seria de Nicole Kidman. Antes cotada como atriz coadjuvante, a Academia reverteu tudo considerando-a uma protagonista. Uma escolha acertada, ainda que sua Hanna Schmitz não seja quem conduza o longa, e sim Michael Berg (o soberbo David Kross na fase adolescente e Ralph Fiennes quando mais velho). Há uma pequena alternância de tempos, mas os dois primeiros atos são reservados no relacionamento de Hanna e Michael, então com quinze anos de idade. Depois de passar mal ao retornar do colégio ele é socorrido por Hanna, que trabalha como cobradora em um bonde. Ele terá a sua primeira relação sexual com esta mulher que tem mais do que o dobro de sua idade e crescerá, assim, uma paixão quase obsessiva. Existe também uma troca de “favores”: Hanna oferece sexo enquanto Michel retribui com leituras, já que Hanna é analfabeta. Entre os romances lidos estão “O Amante de Lady Chatterley” (D. H. Lawrence), “A Odisséia” (Homero), “A Dama do Cachorrinho” (Anton Tchékov) e “Guerra e Paz” (Leon Tolstói).

Incompreendido, “O Leitor” despertou certa fúria da crítica e público por um motivo – somando também com o já mencionado reconhecimento na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas -, sendo em relação do seu segundo ato, com ecos sobre a Segunda Guerra Mundial . Neste instante, Michael, já abandonado por Hanna sem razão aparente e um pouco mais velho, cursa direito tendo Rohl (Bruno Ganz) como seu professor. Quando presencia pela primeira vez um julgamento se depara com Hanna, dada como culpada pela morte de centenas de judeus enquanto atuava como vigia no campo de concentração.

Os resultados são tocantes, ainda que não conduzida com a mesma maestria apresentada por Daldry no primeiro ato e em uma sequência nos instantes finais protagonizados por Fiennes e Lena Olin. E neste encontro, mesmo dando margens para diversas interpretações, trás uma descrição mais acertada do que pode ser absorvido sobre “O Leitor”, que é sobre personagens centrais totalmente envolvidos pelo passado trágico que viveram, sendo Michael pela paixão da adolescência da qual não conseguiu superar, Hanna pelos atos monstruosos que cometeu e Ilana (Olin) pela forma como foi atingida pela Alemanha nazista. Nos três casos, somente a coragem em encarar o passado é o caminho para que o episódio seja superado e as dores amenizadas.

Título Original: The Reader
Ano de Produção: 2008
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: David Hare, baseado no livro “O Leitor”, de Bernhard Schlink
Elenco: Kate Winslet, David Kross, Ralph Fiennes, Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara e Lena Olin
Cotação: 3 Stars

Resenha Crítica | Frost/Nixon (2008)

Frost/NixonAdaptação da peça teatral de Peter Morgan, “Frost/Nixon” marcou presença na última cerimônia do Oscar com indicações em cinco categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Frank Langella), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Assim como “Dúvida“, filme que também recebeu cinco nomeações, “Frost/Nixon” saiu de mãos vazias, embora se mostre um filme melhor do que a maioria da concorrência. Frank Langella e Michael Sheen dividiram a cena na peça de Morgan e na versão cinematográfica conduzida por Ron Howard ambos reprisam com maestria os seus papéis.

Michael Sheen incorpora o apresentador britânico David Frost e Frank Langella o ex-presidente Richard Nixon. Encarado somente como um showman, Frost tenta reverter o quadro de sua reputação profissional convidando Nixon para a sua primeira entrevista após a renúncia de 1974, ocorrida pelo caso Watergate, o escândalo político de operações ilegais com os quais esteve envolvido. O ex-presidente aceita a proposta depois de um contrato que o faria filmar algumas horas de entrevistas divididas em quatro dias em troca de uma elevada quantia em dinheiro.

E assim segue-se “Frost/Nixon”, revelando todos os bastidores dessa entrevista que, quando apresentada, conquistou a audiência de milhares de espectadores, que ouviram pela primeira vez após a renúncia Frost declarando a decepção que causou à nação americana. O que valoriza esse acontecimento histórico encenado nos cinemas é que não se trata unicamente de uma fita política, escancarando aos poucos o caráter e vulnerabilidade entre entrevistador e entrevistado em um verdadeiro duelo verbal. O resultado só não é melhor pela ausência de tensão que há em diversas passagens da entrevista. Afinal, o melhor momento de “Frost/Nixon”, quando Nixon surpreende Frost em uma ligação noturna, não se passa em uma sala de estar em frente às câmeras.

Título Original: Frost/Nixon
Ano de Produção: 2008
Direção: Ron Howard
Elenco: Frank Langella, Michael Sheen, Kevin Bacon, Rebecca Hall, Matthew Macfadyen, Sam Rockwell, Oliver Platt e Toby Jones.
Cotação: 3 Stars

Resenha Crítica | Quem Quer Ser Um Milionário (2008)

Em sua estréia como diretor em 1994 com “Cova Rasa”, o inglês Danny Boyle já recebeu certa notoriedade ao ponto de realizar os seus projetos posteriores circulando por temáticas e gêneros bem distintos. “Quem Quer Ser Um Milionário?”, o seu oitavo filme, evidencia um cineasta que sequer atinge alguma maestria, ainda mais se considerarmos as irregularidades que permeiam toda a sua filmografia (embora “Trainspotting – Sem Limites” seja uma ótima realização). Mesmo assim, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o Oscar, se mostrou bem generoso ao consolidá-lo com o prêmio de Melhor Diretor no último evento. “Quem Quer Ser Um Milionário?” também arrematou as estatuetas que representavam as categorias de Melhor Canção Original, Melhor Som, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme. Só não dá para fazer muitas queixas pela concorrência não ter sido lá muito forte, já que não havia de fato um longa entre os finalistas que fosse excepcional.

Quem Quer Ser Um Milionário? é uma atração televisiva onde os participantes podem faturar uma bolada se responderem corretamente as questões com quatro alternativas (é parecido com o “Show do Milhão”). E é para este programa que o pobre jovem Jamal (a revelação Dev Patel) se inscreve para chamar a atenção da sua amada Latika (a também revelação – e belíssima – Freida Pinto). O que movimenta a trama é as suspeitas que o próprio apresentador Prem Kumar (o ótimo Anil Kapoor) levanta em relação do Jamal. Praticamente um analfabeto, o rapaz acerta todas as perguntas sobre conhecimentos gerais. Mas Jamal não está trapaceando. Como naqueles lances forçados de destinos cinematográficos, as perguntas tem conexão com a infância e adolescência miseráveis do nosso herói.

Essa história em tom de fábula rende bastante, especialmente no seu empolgante terceiro ato, mas o filme não é digno de todo esse reconhecimento. E nem de tanta fúria. Boyle certamente não se deixou levar pelo sucesso de “Cidade de Deus” ao ponto de influencia-lo na realização deste projeto independente (e nem se o fizesse adquiriria um resulto à altura do obtido pela obra máxima de Fernando Meirelles). Também não é um filme ofensivo, que usa da pobreza presente em favelas indianas para criar um espetáculo. Estamos em tempo de crise financeira e os americanos precisam de uma história que os reconforte de alguma maneira, que os façam pensar que o amor é capaz de substituir a falta de grana. E é este o problema: joga-se na lixeira qualquer mérito artístico em troca de uma “fantasia” com final feliz que todo mundo gostaria de ter.

Título Original: Slumdog Millionaire
Ano de Produção: 2008
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Simon Beaufoy, baseado no romance de Vikas Swarup
Elenco: Dev Patel, Freida Pinto, Anil Kapoor, Irrfan Khan e Madhur Mittal