Os Cinco Filmes Prediletos de Jefferson Ribeiro

s5031192_modNo mês de julho havia inaugurado uma nova seção no blog chamada de Cinco Filmes. Nela, um blogueiro convidado comentava sobre os seus cinco filmes prediletos. Essa ideia surgiu através das minhas constantes visitas no Rotten Tomatoes, site internacional que apresenta esta mesma seção com grandes nomes do cinema. Mas o mundo blogueiro também conta com grandes nomes. A exemplo do Wally, do blog Cine Vita, que foi o primeiro convidado. E agora é a vez do Jefferson, ou simplesmente Jeff.

A nossa amizade virtual iniciou em dezembro do ano passado quando um retribuiu uma visita no blog do outro. Ele é editor do Receio de Remorso e mora no Rio de Janeiro. Além do inegável talento com a escrita, cursa universidade de Cenografia. É também um excelente amigo, como posso afirmar com base em nossas conversas no Messenger. Apesar de não gostar da Renée Zellweger, é um sujeito “muito legal”, como ele mesmo admite. Já o seu bom gosto pode ser testemunhado a seguir através se sua excelente seleção pessoal de filmes prediletos. Obrigado pela colaboração, Jeff!


Magnólia, de Paul Thomas Anderson (1999, Magnolia)Magnólia, de Paul Thomas Anderson (1999, Magnolia)

“É quase uma contradição evitar comentar sobre o meu filme preferido. Mas o receio vem da falta de palavras, da dificuldade de traduzir tudo que “Magnólia” é capaz de me causar. Porque creio que suas qualidades estão ali bem claras. O talento, o domínio e o que Paul Thomas Anderson é capaz de realizar com a câmera, o elenco com grandes interpretações – difícil escolher um único nome -, a bela trilha sonora que interliga junto com a montagem o mosaico de histórias e personagens. Mas isso muitos sabem e podem perceber. Quando assisti “Magnólia” pela primeira vez, sabia que havia vivenciado algo que o cinema não me proporcionara até então. Não compreendi completamente a história e tinha certeza que o filme era mais do que captei. Porém, isso não importou. Eu estava paralisado quando aquele último sorriso antecipou os créditos finais. Fui bombardeado por sentimentos e emoções, maiores que uma simples história de coincidências. Você nunca vai entender o que exatamente senti, até porque não saberei explicar. É uma experiência indescritível e o melhor filme que o cinema ofereceu até hoje.”


Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (1971, A Clockwork Orange)Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (1971, A Clockwork Orange)

“Eu ainda não sei se prefiro este ou “2001: Uma Odisseia no Espaço”, o filme mais lindo de todos os tempos. Tirei uni-duni-tê e saiu “Laranja Mecânica”. Ok, sem problemas. Stanley Kubrick é para mim o melhor diretor que o cinema já possuiu, simplesmente por unir de forma única o que constitui um filme, imagem e som. Em “Laranja Mecânica”, Kubrick brinca com essa união e reúne um amontoado de cenas antológicas e inesquecíveis, desde o olhar de Alex que inicia o longa até o “Eu estava mesmo curado” na cama do hospital. Entre esse dois extremos, me sinto questionado em todo o tempo por ser conquistado por um personagem como Alex, um delinquente dos mais repulsivos, mas que me arranca altas risadas. Se o livro de Burguess se sustente unicamente pela premissa, Kubrick cria uma narração que confronta diretamente a moral do espectador com qualidade visual e técnica que só grandes mestres podem proporcionar.”


Kill Bill Vol. I/Kill Bill Vol. II, de Quentin Tarantino (2003/2004, Kill Bill Vol. I/Kill Bill Vol. II)Kill Bill Vol. I/Kill Bill Vol. II, de Quentin Tarantino (2003/2004, Kill Bill Vol. I/Kill Bill Vol. II)

“Falo, meio brincando, meio sério, que Quentin Tarantino é o melhor diretor vivo. Posso estar exagerando, mas nenhum diretor atual possui uma filmografia com tantas obras-primas como ele. A maior é a saga de vingança da Noiva (duvido que Uma Thurman supere esse seu trabalho), que trato como um único filme, apesar das claras diferenças narrativas. A questão é que Kill Bill me deixa louco, com vontade de pular do sofá de tanta empolgação a cada sequência de luta ou nos diálogos no melhor estilo Tarantino (o discurso de Bill sobre o Superman é genial). O sadismo, o exagero, o bizarro, a violência e o apuro visual do diretor transformam uma história, de certa forma, simples, no melhor filme da década. No mais, não há nada mais arrebatador do que ouvir Uma Thurman falando “bitch” com uma Hattori Hanzo na mão.”


O Segredo de Brokeback Moutain, de Ang Lee (2005, Brokeback Mountain)O Segredo de Brokeback Moutain, de Ang Lee (2005, Brokeback Mountain)

“Assisti “O Segredo de Brokeback Moutain” uma centena de vezes. E a cada assistida, sou atingido da mesma forma como na primeira vez. Choro copiosamente nos mesmos momentos e termino num estado de tristeza que permanece nos instantes seguintes. Não necessariamente pelo romance não se concretizar devido a fatalidade com um dos personagens, mas pela dificuldade que nos impomos de amar. São obstáculos e preconceitos que nascem na sociedade, mas que muitas vezes não deixamos de também possuir, ainda que não queiramos. No caso de Ennis Del Mar, suas imposições foram maiores que seu amor. Graças ao tratamento de Ang Lee, o amor é apresentado sem limites e a homossexualidade é tratada de forma natural, como sempre deve ser. Possui uma das minhas trilhas sonoras favoritas e a prova do talento do saudoso Heath Leadger.”


O Rei Leão, de Rob Minkoff e Roger Allers (1994, The Lion King)O Rei Leão, de Rob Minkoff e Roger Allers (1994, The Lion King)

“Minha primeira experiência na tela grande, meu primeiro VHS da minha coleção de desenhos Disney e não há filme que eu tenha assistido mais na vida que “O Rei Leão”. Até hoje, faço questão de rever, no mínimo, uma vez ao ano. Assisto cantando as músicas, falando juntos com os personagens e repetindo seus gestos e expressões. E toda vez é como se o filme trouxesse o clima da minha infância, mas sem deixar de atingir meus sentimentos. Pois ainda me arrepio facilmente na abertura – mais precisamente no verso “É o ciclo que sem fim que nos guiará” – ou quando Simba sobe na Pedra do Reino e assume o trono. Apesar de questões pessoais que me fazem amar “O Rei Leão” como nenhuma outra animação, não deixo de salientar a profunda história de autoconhecimento, de redescobertas, de redenção, de perdão pessoal que o desenho oferece. Há uma forte carga dramática que não deve ser ignorada, mas, sinceramente, isso é o que menos busco em “O Rei Leão”. O que importa é rever os grandes personagens da minha vida.”

10 Sequências Que Não Deveriam Existir

Muitos cinéfilos se queixam que o cinema contemporâneo muito se sustenta através de sequências, especialmente em Hollywood. E é uma reclamação que de fato precisa ser avaliada, pois ao contrário de décadas atrás, que sempre víamos continuações que chegavam até mesmo a superar o filme original (como é considerado ter se sucedido com séries de grande prestígio), a indústria hoje não encontrou maneiras mais originais de sobreviver do que em adaptar aquilo que foi garantia de sucesso em outras gerações e especialmente dar andamento a um produto que rendeu boas cifras em sua estreia na tela grande. Mas a qualidade nem sempre é garantida, como pode ser visto através da lista das piores sequências já vistas pelo blog.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, 2008
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, 2008

Depois de quase duas décadas em planejamento finalmente o filme foi lançado no ano passado. Mas nem o retorno de Steven Spielberg e Harrison Ford foram capazes de amenizar o gosto amargo que esta quarta aventura deixa. Se não bastasse o ritmo frouxo da ação, o roteiro ainda cria uma trama para lá de esquecível e patética. Sem dizer Cate Blanchett, no pior momento de sua bem-sucedida carreira. Leia a resenha completa clicando aqui.

Instinto Selvagem 2, 2006
Instinto Selvagem 2, 2006

Uma sequência para “Instinto Selvagem” até que não era uma má ideia. Bem, isto até Paul Verhoeven desistir de dirigi-lo e o filme, que mal saiu do papel, enfrentar um monte de problemas no tribunal (Sharon Stone chegou a processar os produtores). E olha que o filme quase foi estrelado por Ashley Judd e Kurt Russell! Mas tudo se resolveu e o resultado não poderia ser diferente: um fiasco em todos os sentidos. Nem a (pouca) nudez da atriz valeu a pena.

Mulher Solteira Procura 2, 2005
Mulher Solteira Procura 2, 2005

A subestimada obra-prima de Barbet Schroeder não merecia uma sequência tão vergonhosa. Para falar a verdade, o filme nem se trata de uma sequência direta do original e sim uma obra posterior que emula praticamente tudo dele. É a mesma história, a ambientação do clímax também, mas com a diferença de que o suspense foi trocado pelo constrangimento.

Legalmente Loira 2, 2003
Legalmente Loira 2, 2003

A ótima e simpática comédia de Robert Luketic parecia uma homenagem a aquelas que são conhecidas como “loiras burras”. Mas se nos primeiros minutos pensamos que a trama vai ser conduzido através das futilidades que Elle Woods (Reese Witherspoon) aprecia aos poucos vai se tornando uma diversão inteligente de uma loira que cursa direito e que move tudo ao seu favor com o conhecimento… das futilidades que aprecia. Já na sequência, o diretor Charles Herman-Wurmfeld (do elogiado “Beijando Jessica Stein”) arma um desastre de proporções gigantescas com uma história tolinha de Elle em defesa dos animais, inclusive da mãe do seu cachorrinho que, por sua vez, é gay. Por favor…

MIB - Homens de Preto 2, 2002
MIB – Homens de Preto 2, 2002

Uma química inusitada aconteceu com Tommy Lee Jones e Will Smith em “MIB – Homens de Preto”. Se isso já não era um ótimo atrativo o filme ainda contava com efeitos especiais e maquiagem de tirar o fôlego. Tudo para sustentar uma aventura de ficção para lá de divertida e bem-humorada. Nada disto se repete em “MIB – Homens de Preto 2”, comandado pelo mesmo Barry Sonnenfeld do sucesso de 1997. E apesar das boas curvas, Lara Flynn Boyle não merecia pagar o mico que foi o de viver a vilã.

A Bruxa de Blair 2 - O Livro das Sombras, 2000
A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras, 2000

“A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras” também poderia entrar na lista dos filmes mais oportunistas já feitos. Se aproveitando do surpreendente fenômeno da obra assustadora da dupla Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, a sequência foca um grupo de jovens que vão à floresta que marcaram o filme anterior para estudarem se de fato a Bruxa de Blair existe.

Ring 2 - Chamado, 1999
Ring 2 – Chamado, 1999

Já admiti que considero “O Chamado” de Gore Verbinski um filme superior em todos os sentidos em comparação de “Ring – O Chamado”, o cult oriental que o inspirou. Mas o filme de Hideo Nakata também era assustador, embora em uma potência menos elevada. Mas nada se salva em “Ring 2 – O Chamado”. Raramente se vê uma história sendo executada de maneira tão desenfreada. Ou mesmo uma vilã que parece ter sido confeccionada com Durepox.

A Experiência 2 - A Mutação, 1998
A Experiência 2 – A Mutação, 1998

É verdade que “A Experiência” de 1995 não é uma obra cultuada como deveria, mas este que é o melhor filme de Roger Donaldson foi uma excelente ficção B com os nomes de peso de Ben Kingsley, Forest Whitaker e Alfred Molina no topo dos créditos. E ainda tinha a maravilhosa Natasha Henstridge, cuja carreira estacionou definitivamente no exato momento em que topou protagonizar a risível continuação.

O Rei Leão 2 - O Reino de Simba, 1998
O Rei Leão 2 – O Reino de Simba, 1998

“O Rei Leão”, eterno jovem clássico que povoa a mente de todo o público, também se tornou vítima de uma sequência muito, muito ruim. Enquanto a produção era uma animação emocionante e até mesmo bem pesada a continuação acompanha Kiara, leoa que enfrenta os seguidores do terrível Scar do filme de 1994. Totalmente insípido.

Halloween III - A Noite das Bruxas, 1982
Halloween III – A Noite das Bruxas, 1982

A série “Halloween” pode até ir bem das pernas sem a presença de Laurie Strode. Mas sem Michael Myers não dá! Mas vocês acreditam que isso já aconteceu? Pois é. Tudo pode ser apreciado em “Halloween III”, que se trata de uma história maluca onde crianças são mortas ao vestirem máscaras do Dia das Bruxas.

Resenha Crítica | Peggy Sue: Seu Passado A Espera (1986)

Francis Ford Coppola se despediu da década de 1970 com o aclamado “Apocalypse Now”, filme de guerra repleto de grandes astros daquela época e que recebeu muitas menções nos principais prêmios de cinema. A década posterior também lhe trouxe prestígio através de “Vidas Sem Rumo” e “O Selvagem da Motocicleta”. Mas aquele que foi o seu longa mais bem-sucedido naquele período foi mesmo “Peggy Sue – Seu Passado a Espera”. E há razões para isto, embora, com injustiça, o filme não seja tão lembrado ou celebrado quanto foi no seu lançamento há mais de vinte anos.

Peggy Sue Kelcher Bodell (maravilhosamente interpretada por Kathleen Turner), é uma mãe e esposa (que enfrenta um divórcio) quarentona que desmaia em uma festa colegial que reúne toda a sua turma dos tempos de sua formatura. E isto provoca um estranho fenômeno: o retorno ao seu próprio passado. Ela se recupera na enfermaria do colégio onde estudava quando ainda era adolescente, retornando também a sua jovem aparência de antes. O acontecimento inexplicável a fará ter uma grande oportunidade, que será modificar este passado para que as coisas se concretizem de formas diferentes em seu futuro, pois em sua memória ainda estão armazenados tudo pelo que passou antes do seu desmaio.

A sua primeira prioridade é analisar o seu relacionamento com Charlie Bodell (Nicolas Cage), aquele com quem namorou e se casou. Mas serão reavaliados também o seu convívio com a própria família – sendo os seus pais (papéis de Don Murray e Barbara Harris) e a sua irmã mais nova Nancy (Sofia Coppola) – e todos aqueles que ela conheceu em seu primeiro passado. Mas o que se deve fazer para mudar aquela situação onde ela se encontrava quando mais velha, o de uma mulher infeliz pelos rumos que sua vida levou?

Será com essas inúmeras incertezas que o filme se moverá com todos aqueles temas e sentimentos que cercam toda a nossa existência. Os receios de amar, o bem-estar familiar, a companhia de verdadeiras amizades, o medo que o amadurecimento pode trazer e a dor da perda são alguns dos vários desdobramentos da vida de Peggy Sue, que é valorizada pela delicada direção de Coppola, a precisão com a qual alguns departamentos como fotografia e música se encaixam com harmonia no desenvolvimento da história e o elenco, que trás tanto intérpretes em início de carreira e que hoje são muito famosos (como Joan Allen, Helen Hunt e Jim Carrey) quanto Kathleen Turner, linda e extraordinária em um desempenho que lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz. É uma realização honesta, original, nostálgica e que possibilita grande comunicação com o espectador. Um belo filme.

Título Original: Peggy Sue Got Married
Ano de Produção: 1986
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Kathleen Turner, Nicolas Cage, Don Murray, Barbara Harris, Sofia Coppola, Jim Carrey, Joan Allen, Berry Miller, Catherine Hicks e Helen Hunt

Resenha Crítica | A Espiã (2006)

A Espiã | Zwartboek“Conquista Sangrenta”, longa-metragem de 1985 com Rutger Hauer e Jennifer Jason Leigh no elenco, foi o primeiro filme americano do diretor holandês Paul Verhoeven. Após este seu primeiro passo fora de seu cinema de origem Verhoeven se tornou célebre ao registrar o seu nome em três longas espetaculares e que são fontes para influências até hoje: as ficções “Robocop – O Policial do Futuro” e “O Vingador do Futuro” e o ousado suspense “Instinto Selvagem”, cuja cruzada de pernas de Sharon Stone se transformou em um dos retratos a marcar toda a década passada. No entanto, o cineasta errou ao se envolver com “Showgirls”, que certamente deixou uma marca irreversível em sua carreira. É verdade que ele se redimiu com os bem divertidos e caprichados “Tropas Estrelares” e “O Homem Sem Sombra”, mas os amargos resultados de bilheteria provavelmente foram resultantes para o afastamento de anos de Verhoeven.

A boa notícia é que Verhoeven não poderia voltar de maneira melhor para a cadeira de diretor: “A Espiã” é o seu primeiro filme rodado na Holanda após o distante “O Quarto Homem”, de 1983. No filme, a espetacular Carice van Houten vive a judia Rachel Steinn. Tudo é contado através de um flashback, do qual descobrimos a luta desta mulher em plena Segunda Guerra Mundial. O seu esconderijo, situado em uma fazenda, é bombardeado. Após rever a sua família se une com eles em um grupo de refugiados judeus que tentam se esquivar da ameaça nazista. O problema é que todos são surpreendidos por soldados alemães, sendo todos vítimas de disparos. Somente Rachel sobrevive. Após alguns meses e sem nada a perder torna-se espiã para a Resistência Judaica, tingindo os cabelos (e até mesmo os pelos pubianos – Verhoeven filma o ato com descrição) e se passando por alemã tanto para libertar integrantes da Resistência capturados quanto para se tornar amante do oficial Ludwig Müntze (Sebastian Koch), por quem se apaixona verdadeiramente.

Paul Verhoeven põe em cena todas as características do seu próprio cinema e o revigora pelo cenário que selecionou. Há aqui uma protagonista tão forte quanto, por exemplo, Christine Halsslag (“O Quarto Homem”), Anne Lewis (“Robocop – O Policial do Futuro”) e Catherine Tramell (“Instinto Selvagem”). O erotismo que o consagrou também está presente em “A Espiã”. Não há timidez alguma na exibição da nudez. Por fim, também há todo o trunfo visual que se propaga a partir de atos de violência. Mas o que torna “A Espiã” uma obra singular além desses fatores? A resposta está contida na própria narrativa, desenvolvida pelo próprio diretor com a colaboração de Gerard Soeteman. Dramas manipuladores e as velhas bravuras de guerra, elementos que tornaram o grande acontecimento histórico tão saturado no cinema, definitivamente não imperam em “A Espiã”. Conduzindo com elegância e com uma tensão arrepiante, o thriller é totalmente imparcial. Aqui, judeus revelam-se tão desprezíveis, impiedosos e vilões quanto os nazistas que os aterrorizaram.

Título Original: Zwartboek
Ano de Produção: 2006
Direção: Paul Verhoeven
Elenco: Carice van Houten, Sebastian Koch, Thom Hoffman, Halina Reijn, Waldemar Kobus, Derek de Lint, Christian Berkel, Dolf de Vries, Peter Blok, Michiel Huisman e Johnny de Mol.
Cotação: [5star.jpg]

Sugestão de Wally – Cine Vita

Tudo Azul

Tudo Azul - KablueyA frase destacada no poster internacional de “Tudo Azul” nos dá uma clara noção da excentricidade da comédia: “Toda família tem uma ovelha negra. Está é azul”. E a frase é levada a sério por Scott Prendergast, que além de protagonizar também se responsabiliza pela direção e roteiro de “Tudo Azul”. E é bom ficar atento ao nome de Scott Prendergast. Depois de três curtas-metragens, Prendergast tem aqui a sua estreia na direção de um longa-metragem. E o seu primeiro passo se dá com um projeto pequeno, independente. Mas certamente se trata de uma dos títulos mais originais dentro do cinema independente.

O início do filme se dá com Leslie (Lisa Kudrow, em um grande momento de sua carreira) desesperada com a situação atual de seus filhos endiabrados, Lincoln e Cameron (interpretados respectivamente por Landon Henninger e Cameron Wofford). O seu marido teve que partir para a Guerra no Iraque e ela descobre que só há o seu cunhado Salman (Scott Prendergast) como única pessoa disponível para lhe auxiliar neste momento difícil. Ela o convida para morar em sua casa, com a condição de que terá que cuidar de seus filhos. Mas como as coisas não dão certo (Lincoln e Cameron de fato parecem demônios em miniaturas), Leslie consegue encaixar Salman em uma vaga na estranha empresa onde trabalha, pois assim ele pode contribuir para que as crianças fiquem em uma escola particular por tempo integral.

Pior emprego ele não poderia arrumar. Salman veste a roupa esponjosa do Kabluey, a criatura azul e fofa que estampa o logotipo da empresa comandada por Brad (Jeffrey Dean Morgan, o Comediante de “Watchmen – O Filme“), do qual Leslie é assistente. Mas o seu dever é ainda mais ingrato: ele precisa distribuir panfletos e o local é uma estrada ensolarada e sem qualquer movimento. Mas as adversidades não assolam somente os personagens centrais de “Tudo Azul”, como se pode analisar nas pessoas que cruzarão de maneira inusitada o seu caminho, como a neurótica Suze (a impagável Teri Garr, eternamente lembrada como a melhor amiga de Dustin Hoffman em “Tootsie”).

Os acontecimentos iniciais são hilariantes. A começar, claro, quando vemos Salman se virando naquele que foi o seu último emprego, que era o de plastificar os mais diversos documentos – o sujeito se empolga tanto com o ofício que chega até mesmo a plastificar as cédulas da caixa registradora. Mas o filme segue um caminho parecido com aquele apresentado em “Pequena Miss Sunshine“, com o diferencial de fazê-lo com uma maestria ainda maior. É dentro desse humor que começa a aflorar a sensibilidade do filme, tornando-se um registro comovente sobre os efeitos devastadores que a ausência de afeto pode causar em qualquer ser humano. Este sentimento é visto como metáfora na própria fantasia de Salman, que só é capaz de tocar algum objeto e de se mover com maior leveza quando está presente alguma pessoa que possa ajudá-lo. Isto também é perceptível em Leslie, que se tornou uma pessoa fria após imaginar que o seu marido pode não mais regressar ao seu lar (e Lisa Kudrow eleva ainda mais esta emoção em um devastador plano sequência onde vemos a sua personagem se desintegrando aos poucos), e na conduta dos seus filhos, que obviamente sofrem com a ausência de uma figura paterna. Maravilhoso!

Título Original: Kabluey
Ano de Produção: 2007
Direção: Scott Prendergast
Elenco: Scott Prendergast, Lisa Kudrow, Christine Taylor, Conchata Ferrell, Jeffrey Dean Morgan, Teri Garr, Angela Sarafyan, Cameron Wofford, Landon Henninger, Patricia Buckley e Chris Parnell.
Cotação: 4 Stars

Ele Não Está Tão a Fim de Você

Ele Não Está Tão a Fim de Você
Se o elenco estrelado pelos mais populares jovens de Hollywood (embora alguns já não sejam tão novos assim) é um atrativo forte o suficiente para se assistir a comédia romântica “Ele Não Está Tão a Fim de Você” notamos que a produção trás muitas cartas na manga. Ela se movimenta através de uma premissa original e sustentada por personagens que causam empatia imediata. Méritos do famoso livro “Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você”, da dupla Greg Behrendt e Liz Tuccillo.

A personagem central de “Ele Não Está Tão a Fim de Você” é Gigi (interpretada pela adorável Ginnifer Goodwin, a melhor do elenco). Ela está desesperada para encontrar um homem ideal para namorar, mas eles nunca estabelecem qualquer contato depois do primeiro encontro. Ela é como aquelas garotas esperançosas em receber uma ligação por telefone da paquera no dia seguinte, mas que quebram a cara por ela nunca ser feita. É o passo inicial deste filme que irá envolver muitos personagens, como o dono de um bar chamado Alex (Justin Long), que dará para ela diversos conselhos, e as suas amigas de trabalho Beth (Jennifer Aniston) e Janine (Jennifer Connelly), que por sua vez tem as suas próprias neuras.

O que é legal neste filme conduzido por Ken Kwapis é tornar as tramas paralelas que surgem suficientemente interessantes de serem acompanhadas. Aparentemente ingênuas, elas se tornam maduras o suficiente nos seus desenvolvimentos para fisgar a plateia. Afinal, são retratos sobre relacionamentos amorosos que todos de alguma maneira devem experimentar ou ao menos presenciar. É claro que o filme nem sempre dá conta dessa responsabilidade de equilibrar tudo isso. O casal formado por Jennifer Aniston e Ben Affleck, por exemplo, é bem prejudicado pela superficialidade do conflito (eles moram juntos há sete anos, mas ele não quer casar). A se lamentar também a curta presença de Drew Barrymore, apesar da atriz também estar ocupada com a produção executiva da fita. No entanto, Ken Kwapis continua intacto com aquela sua direção dinâmica apresentada em filmes como o fraquinho “Vida Louca” e o excelente “Quatro Amigas e Um Jeans Viajante”, fazendo assim um programa delicioso e com finais felizes inesperados.

Título Original: He’s Just Not That Into You
Ano de Produção: 2009
Direção: Ken Kwapis
Elenco: Ginnifer Goodwin, Justin Long, Jennifer Connelly, Bradley Cooper, Scarlett Johansson, Jennifer Aniston, Kevin Connolly, Drew Barrymore, Ben Affleck, Wilson Cruz, Kris Kristofferson e Luis Guzmán.
Nota: 7.0

Tinha Que Ser Você

Tinha Que Ser Você

E o cinema volta a visitar aquela situação romântico onde dois estranhos se conhecem e se apaixonam durante um amplo dia de caminhada e bate papo em uma metrópole repleta de cartões-postais. A fórmula, que alcançou o seu ápice com “Antes do Amanhecer” e “Antes do Pôr-do-Sol”, é repetida em “Tinha Que Ser Você”. Mas com um casal bem mais maduro do que aquele interpretado por Ethan Hawke e Julie Delpy. Dustin Hoffman e Emma Thompson, que tiveram as suas performances indicadas na última edição do Globo de Ouro, dividem a tela depois de aparecerem como coadjuvantes de “Mais Estranho que a Ficção”.

Harvey Shine (Hoffman) é um compositor frustrado que vai para Londres rever a sua filha Susan (Liane Balaban) que se casará. Ele também terá que suportar a presença de sua ex-mulher Jean (Kathy Baker). Mas a pior será tolerar a escolha de sua filha Susan, que selecionou o seu padrasto Brian (James Brolin) para levá-la ao altar. É parando para lamentar a sua situação atual que ele conhece Kate Walker (Emma Thompson), que antes havia visto rapidamente no aeroporto do pais e a tratado com grosseria por conta de uma pesquisa que precisava realizar. Mas ambos se entendem e compartilham os mesmos problemas, especialmente os amorosos.

Consagrados no passado, Dustin e Emma continuam mantendo a qualidade tanto nas escolhas de seus papéis quanto nas interpretações, mas os anos foram cruéis com eles, dando poucas oportunidades de terem os seus nomes a frente de uma produção. Só o fato de serem os protagonistas de “Tinha Que Ser Você” já é o suficiente para curtir a saborosa relação de seus personagens. É lamentável, entretanto, que o diretor e roteirista Joel Hopkins, pouco experiente em ambos os ofícios, não valorize este encontro como deveria. Por que? A razão está em diversos problemas de percurso que poderiam ser evitados, como todas as situações envolvendo a personagem de Eileen Atkins (que interpreta a mãe de Kate) e até mesmo um inconvincente problema de saúde que abate um dos personagens, surgindo para prejudicar o reencontro do casal. Há também o morno desfecho. O filme tem o seu charme, bons momentos dramáticos. Só que a sensação que fica é de que este casal admirável de se acompanhar merecia um filme à altura de seu encanto.

Título Original: Last Chance Harvey
Ano de Produção: 2008
Direção: Joel Hopkins
Elenco: Dustin Hoffman, Emma Thompson, Eileen Atkins, Liane Balaban, Kathy Baker, James Brolin e Richard Schiff.
Nota: 7.0