Aqueles que acompanham pela primeira vez Roberto Carlos Ramos narrando um de seus contos fantasiosos jamais imaginaria que este sujeito, reconhecido como um dos dez melhores contadores de histórias do mundo, teve uma infância difícil e entregue a marginalidade ao ser deixado pela mãe ainda pequeno na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, a FEBEM. É este extenso episódio da vida de Roberto Carlos que o diretor Luiz Villaça se interessa com maior intensidade. Casado com a atriz Denise Fraga, o cineasta, inclusive, deixa para trás a péssima impressão que ficou com o fraco “Cristina Quer Casar”, protagonizado pela sua esposa.
Com seis anos de idade, Roberto Carlos Ramos (nesta fase vivido por Daniel Henrique) vem de uma família pobre, tendo nada menos que nove irmãos. Sua mãe, interpretada por Ju Colombo, assiste a um comercial da FEBEM no vizinho (como narrado no filme, toda a comunidade onde vivia Roberto se juntava para ver televisão somente aos domingos em uma única casa) e acredita que este lugar tornará o futuro de seu filho muito melhor. A sua expectativa é que Roberto saia de lá como um doutor, mas a realidade, aquela que já estamos bem familiarizados, transforma Roberto em um pequeno marginal quando aos sete anos se muda para uma ala frequentada por outros marginais de até catorze anos. Entre uma fuga e outra (foram calculadas nada menos que 132 tentativas), Roberto, agora interpretado por Paulinho Mendes, conhece a pedagoga Margherit Duvas (a portuguesa Maria de Medeiros, em uma interpretação marcada por incríveis sutilezas), que diz estar brevemente no Brasil para uma pesquisa sobre “crianças irrecuperáveis”.
Fica para o espectador interessado em desvendar o choque deste convívio. Basta somente informar que durante esse processo Roberto Carlos descobrirá uma paixão pela leitura. O diretor Luiz Villaça retrata esta história com ternura e não permite que ações cruéis, jamais suavizadas pelo roteiro, transformem o drama em mais um título derivativo de outros argumentos violentos de nosso cinema. A imaginação do personagem não encontra uma tradução muito exemplar na tela. Porém, as mudanças que Margherit impõe na vida de Roberto Carlos são os maiores valores de “O Contador de Histórias”. Não deixem de ver a sequência de créditos finais, onde o verdadeiro contador de histórias dá às caras para entreter ao ar livre um público formado por crianças e adultos.
Título Original: O Contador de Histórias
Ano de Produção: 2009
Direção: Luiz Villaça
Elenco: Paulinho Mendes, Maria de Medeiros, Victor Augusto da Silva, Marco Antonio, Cleiton Santos, Ju Colombo, Malu Galli e Chico Diaz.
Cotação: ![]()

A cineasta de cinquenta anos Anne Fontaine é uma das mais produtivas da indústria francesa de cinema. Exemplo disto é a sua filmografia, onde nada menos que seis títulos constam como lançados ao longo da década passada. O sucesso vem de sua habilidade em trabalhar de maneira acessível os dramas complexos de seus personagens. E “Coco Antes de Chanel”, embora lide com a história real da grande estilista Gabrielle Chanel, não escapa de ser outro filme com personalidade reconhecível da diretora.
“Cavalo Branco: relativo ao instinto, pureza e capacidade do corpo emanar forças poderosas e emocionais, como raiva com subsequente caos e destruição”.
Não há dúvidas de que a Disney sempre conferiu um nível impecável de qualidade em suas animações em longa-metragem. Exemplos como “Branca de Neve e os Sete Anões”, “Alice no País das Maravilhas” e “A Bela e a Fera” não são considerados à toa como grandes clássicos destinados ao público infantil. Recentemente, este harmonioso círculo não foi rompido, mas é possível perceber uma mudança de tendências. Isto se aplica nas pretensões que há de realizadores em fisgarem também o público adulto. Não poderiam terem se saído melhor com “Up – Altas Aventuras”, vencedor do Oscar de melhor animação e de trilha sonora (lindamente composta por Michael Giacchino) além de indicado nas categorias de melhor edição de som, roteiro original e, surpresa, melhor filme.
A princípio, tudo parecia conspirar contra “Preciosa – Uma História de Esperança”. Mesmo sendo uma adaptação de um consagrado romance da poetisa Sapphire, os principais envolvidos não tinham uma boa reputação perante público e crítica no que está relacionado a qualidade de seus trabalhos antes do envolvimento neste projeto independente. Claro exemplo é Mo’Nique, com uma carreira dedicada a papéis simplesmente sofríveis. Ou mesmo Lee Daniels, cujo trabalho anterior, “Matadores de Aluguel”, foi uma primeira experiência frustrante por trás das câmeras. As seis indicações ao Oscar, com duas vitórias nas categorias de roteiro adaptado e atriz coadjuvante, são as chances dos intérpretes e realizador em procurarem a partir de agora por produções mais promissoras e desafiadoras.
Em meio a tantos filmes com suas missões sagradas de focarem os horrores do Holocausto, só mesmo uma mente criativa como a de Quentin Tarantino para revigorar o que já estava começando a se esgotar. Assim como testemunhado em “Kill Bill”, era grande o risco de sua mais recente realização, “Bastardos Inglórios”, passar batido por todos os membros que compõem a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. As oito indicações recebidas na última edição do evento mostram que “Pulp Fiction – Tempo de Violência” não será mais a única obra de Tarantino a ter os seus méritos devidamente reconhecidos.
Peter Jackson vacilou no ano passado com a adaptação do romance de Alice Sebold, “
A cineasta dinamarquesa Lone Scherfig despontou com “Italiano Para Principiantes”, o décimo segundo filme a receber o certificado do movimento Dogma 95, cujas normas estão ligadas a forma modesta de se fazer cinema (câmeras sempre nas mãos ou ombros, filmagens em locações, uso de som direto, entre outras regras). Já no drama que se passa nos anos 1960 “Educação”, Lone trabalha de uma maneira, digamos, menos radical. E isto parece ter satisfeito as plateias e as premiações de cinema, como o Oscar, que o nomeou nas categorias de melhor filme, atriz e roteiro adaptado.