36ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
No início de “O Cordeiro”, o casal Liz (Aoife Duffin) e Joe (Michael Mason) está dormindo em um carro velho estacionado em uma paisagem gélida. Liz é a primeira a despertar e percebe que o cão que tinham como companhia morreu, obviamente pela falta de zelo deles para com o animal. A situação serve para confirmar a decadência que ambos atingiram em suas vidas.
Em seu primeiro longa-metragem, o diretor e roteirista John McIlduff faz um road movie cujo destino dos protagonistas não é chegar apenas em algum lugar, mas também lidar assuntos mal resolvidos. No entanto, Joe não acompanhará Liz nesta viagem, pois ele foge assim que o seu pai chamado Eddie (Nigel O’Neill) aparece.
Joe trabalha com drogas e o seu pai, uma figura até então ausente, deseja livrá-lo de um grande problema com um traficante. Assim, suplica pela ajuda de Liz para que possa conduzi-lo a um endereço para retirar um cordeiro, que tem dentro de si uma grande quantidade de drogas. Embora Liz concorde em auxiliá-lo, ela tem uma motivação por traz de tudo, que é a possibilidade de reencontrar Kevin, um filho que abandonou.
Produzido com poucos recursos (algo evidenciado pela fotografia granulada), John McIlduff, que concebeu uma história singela, bela e por vezes bizarra, apoia-se exclusivamente no talento de Aoife Duffin e Nigel O’Neill. Além de apresentarem uma excelente química, a dupla faz funcionar todos os momentos de humor da história, que são muitos. Merece menção especial as tentativas de roubo de um automóvel justamente quando os proprietários dos veículos usam um banheiro público. Se há uma mudança de tom no terceiro ato de “O Cordeiro”, ao menos John McIlduff responde com coerência o vazio existencial de seus personagens, indivíduos perdidos diante dos laços familiares desfeitos.
Título Original: Behold the Lamb
Ano de Produção: 2011
Direção: John McIlduff
Roteiro: John McIlduff
Elenco: Aoife Duffin, Nigel O’Neill, Michael Mason, Sandra Ni Bhroin, Barry Etherson, Andrew Harris, Rose Henderson, Jacynth King, Shaun Paul Mcgrath, Paddy Rocks e Oisin Murray

36ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
John Waters em “Poucas e Boas”
A morte do americano Edgar Allan Poe foi cercada pelo mesmo mistério presente em suas obras literárias. Antes de partir, Poe foi visto vagando pelas ruas de Baltimore, soltando palavras que formavam sentenças sem qualquer sentido. Como não foi desvendada a causa de sua morte (muitos acreditam que o seu vício por bebidas alcoólicas o levou à ruína), os roteiristas Ben Livingston e Hannah Shakespeare se encontraram livres para encenar uma versão ficcional dos últimos dias de Edgar Allan Poe.
Quando bem escrito e dirigido, um horror fantasmagórico funciona porque ele atinge um ponto sensível no espectador, aquele em que ele não há como provar o que lhe aguarda no plano espiritual. Após morrermos, desaparecemos? Continuamos habitando a Terra de outra maneira? Existe um lugar chamado Paraíso e outro Inferno em que as nossas almas habitarão para todo o sempre? Filmes ainda recentes como “O Sexto Sentido” e “Os Outros” são irretocáveis justamente por apresentarem uma resposta mais do que coerente para compreendermos este mistério que ronda o fim de nossa existência. “O Despertar” até tenta, mas não chega ao mesmo patamar.
Apesar das piadas de mau gosto, a franquia “American Pie” conseguiu superar os preconceitos com a plateia mais puritana e obteve um grande volume de fãs ao mostrar, sem qualquer sutileza, os receios que abatem os jovens na hora de perder a virgindade, se apaixonar e manter a força da amizade inabalável. A intenção de “American Pie: O Reencontro” é reconquistar este nicho, que foi se desfazendo com as péssimas sequências que vieram após “American Pie: O Casamento”, todas lançadas especialmente para o mercado de homevideo.
Qualquer um já quis pular aquela etapa da vida em que tudo parece dar errado. O desejo, por mais inacreditável que seja, é deitar a cabeça no travesseiro e despertar em uma realidade em que anos se passaram e que atitudes foram tomadas automaticamente – se todas tiveram consequências positivas, melhor ainda. No entanto, esta não é a vontade de Marie (Juliette Binoche) e ela acorda em um cenário que parece não pertencer.