Resenha Crítica | O Abrigo (2011)

O Abrigo | Take ShelterAmericano nascido em 1974, Michael Shannon tem uma carreira que já cobre duas décadas. Em seus melhores momentos, especializou-se em encarnar tipos obscuros, como o produtor musical Kim Fowley de “Runaways – Garotas do Rock” e o esquizofrênico John Givings de “Foi Apenas Um Sonho“, papel que lhe rendeu sua primeira e única indicação ao Oscar. Como Curtis, seu personagem em “O Abrigo”, Michael Shannon poderia reprisar cacoetes de papéis precedentes, mas há algo de fascinante neste ator, capaz de se inovar a cada filme.

Marido de Samantha (Jessica Chastain, no seu melhor desempenho até o momento) e pai de Hannah (Tova Stewart), uma menina com deficiência auditiva, Curtis teme ter herdado a esquizofrenia de sua mãe, uma senhora internada em uma clínica psiquiátrica há anos. Isto porque ele anda tendo presságios sobre o fim do mundo em forma de pesadelos diários.

Conhecido como um homem em pleno controle de sua própria vida, Curtis começa a assustar as pessoas a sua volta ao tomar atitudes drásticas para evitar que os seus pesadelos se tornem reais. Primeiro ele se livra do seu cachorro. Depois, compromete a sua reputação como profissional ao retirar, sem autorização, os equipamentos da empresa para qual trabalha com a intenção de criar um abrigo subterrâneo na propriedade em que vive. Por fim, passa a tratar Samantha com suspeitas a partir do instante em que ela aparece em um dos seus pesadelos.

Mesmo com um orçamento baixíssimo, o jovem diretor Jeff Nichols (que trabalhou com Michael Shannon anteriormente em “Shotgun Stories” e posteriormente em “Mud”) pôde criar um filme de atmosfera assustadora, às vezes lidando com efeitos visuais que só intensificam os pesadelos de seu protagonista. Se o mergulho nos tormentos internos de Curtis chega a oferecer a sensação de que “O Abrigo” está andando em círculos, ao menos Jeff Nichols contorna o pequeno incômodo ao dar maior prioridade no relacionamento de Curtis com a sua família. Emocionam a determinação de Samantha em consolar o seu marido mesmo nas situações mais adversas e a conclusão, de uma dubiedade ímpar.

Título Original: Take Shelter
Ano de Produção: 2011
Direção: Jeff Nichols
Roteiro: Jeff Nichols
Elenco: Michael Shannon, Jessica Chastain, Tova Stewart, Shea Whigham, Katy Mixon, Kathy Baker, Ray McKinnon, Lisa Gay Hamilton e Robert Longstreet

Resenha Crítica | Loucamente Apaixonados (2011)

Loucamente Apaixonados | Like CrazyO cinema independente americano está cheio de talentos que o confirmam como um dos mais autênticos do cenário contemporâneo. Além disso, é quase comovente testemunharmos as grandes barreiras que vários realizadores atravessam para contarem suas pequenas grandes histórias. No caso de “Loucamente Apaixonados”, o diretor Drake Doremus (em seu quarto longa-metragem) não mostrou cansaço ao divulgá-lo em festivais como o de Sundance até garantir sua exibição comercial pela distribuidora Paramount Vantage. Também operou milagres com o baixíssimo orçamento (250 mil dólares), entregando uma obra tecnicamente competente. Protagonistas de “Loucamente Apaixonados”, Anton Yelchin e Felicity Jones também merecem destaque, uma vez que improvisaram uma boa parcela dos diálogos.

A soma de tantos esforços para viabilizar este romance dramático não tem resultado muito positivo, entretanto. “Loucamente Apaixonados” inicia com o pé direito. Alunos de uma mesma instituição nos Estados Unidos, Jacob (Anton Yelchin) e Anna (Felicity Jones) se apaixonam instantaneamente. Mesmo que descubram afinidades e jamais se desgrudam quando a atração se converte em namoro, há algo que os impedem de continuarem juntos. Jacob está bem arranjado com um negócio promissor de móveis, mas Anna mora em Londres e o seu visto não irá demorar para vencer. O fato de ignorar o tempo limite de permanência no país lhe custará bem caro.

Como se supõe, “Loucamente Apaixonados” fala sobre um tema que envolve muitos casais: o relacionamento à distância. No mundo globalizado em que vivemos, tem sido fácil se envolver com alguém que vive em outra cidade, senão em outro país. “Loucamente Apaixonados” se desenvolve muito bem ao mostrar as vulnerabilidades do relacionamento entre Jacob e Anna, impedidos de conviverem juntos pelos milhares de quilômetros que os distanciam.

O que impede que tenhamos apego por esta história crível é justamente o casal central. Mesmo que a imperfeição seja algo inerente ao ser humano, fica difícil nos importarmos com Jacob e Anna assim que desvendamos que por trás de dois jovens apaixonados como loucos se escondem indivíduos egoístas. É de partir o coração ver Sam (Jennifer Lawrence) se apaixonar por Jacob e Simon (Charlie Bewley), por Anna. Introduzidos no meio da narrativa, sabemos que ambos são objetos usados por Jacob e Anna apenas para suprir suas carências amorosas. Não estabelecer qualquer consequência para este comportamento rende um grande aborrecimento.

Título Original: Like Crazy
Ano de Produção: 2011
Direção: Drake Doremus
Roteiro: Ben York Jones e Drake Doremus
Elenco: Anton Yelchin, Felicity Jones, Jennifer Lawrence, Charlie Bewley, Alex Kingston, Oliver Muirhead, Finola Hughes, Chris Messina, Ben York Jones, Jamie Thomas King, Amanda Carlin, Barry Sabath, Keeley Hazell, Kayla Barr, James Messer, Natalie Hoflin, Robert Pike Daniel, James Tamborello, Meredith Landman, David Foster, Iris Taylor Cameron, Michael Lovett

Ted

TedSeth MacFarlane é um sujeito bem conhecido lá fora. Nascido em Connecticut, ele é o criador da animação “Family Guy”, famosa pela audiência e pelo humor despudorado. O anúncio de que estrearia como diretor de longa-metragem com a comédia “Ted” foi recebido com muito entusiasmo e talvez por isto o público tenha respondido positivamente ao filme, um dos maiores sucessos nas bilheterias americanas no ano passado.

O próprio Seth MacFarlane dá voz ao personagem-título, um urso de pelúcia vindo para atender a um pedido de natal do pequeno John Bennett. Obviamente, todos se surpreendem com o urso falante, mas os anos passaram e Ted é encarado como um anônimo como qualquer um de nós. Isto porque Ted e John (que na fase adulta é interpretado por Mark Wahlberg) são trintões que se comportam como adolescentes. Sem um emprego decente ou grandes planos para o futuro, os melhores amigos passam a maior parte do dia fumando maconha, conversando asneiras e revendo a ficção-científica de qualidade questionável “Flash Gordon”.

A ideia de enganar o público convertendo em baixaria aquilo que parece fofo (desavisados podem assistir ao filme com a namorada e terminar a sessão com algumas discussões pelo humor misógino) poderia proporcionar uma comédia impagável. No entanto, “Ted” não demora para transmitir a sensação de que suas piadas são bem limitadas. Além do pelúcia Ted enfiar referências cinematográfica em cada besteira que diz, há ainda participações especiais pífias. Ver a cantora careta Norah Jones fazendo uma moça de reputação duvidosa ou Ryan Reynolds fazendo um homossexual pode parecer engraçado, mas em “Ted” tudo não passa de tentativas aleatórias para extrair graça. Pior do que isto, só os planos de fazer uma inexplicável sequência.

Título Original: Ted
Ano de Produção: 2012
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Alec Sulkin, Seth MacFarlane e Wellesley Wild
Elenco: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Giovanni Ribisi, Seth MacFarlane, Patrick Warburton, Laura Vandervoort, Jessica Stroup, Joel McHale, Alex Borstein, Ray Romano, Ryan Reynolds, Norah Jones, Tom Skerritt, Sam J. Jones e Bretton Manley. Com voz de Seth MacFarlane e narração de Patrick Stewart

10 Melhores Cenas do Cinema em 2012

PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN
Precisamos Falar Sobre o Kevin | We Need to Talk About KevinPorque é tarde demais para questionar.

HISTÓRIAS CRUZADAS
Histórias Cruzadas | The HelpPorque o caminho contra o preconceito ainda é longo.

O ARTISTA
O Artista | The ArtistPorque prender o fôlego é uma reação maravilhosa.

A VIDA EM UM DIA
4Porque a vida é extraordinária, mesmo que não estejamos em um momento especial.

A DELICADEZA DO AMOR
A Delicadeza do Amor | La DélicatessePorque sempre haverá uma oportunidade para amarmos outra vez.

PROMETHEUS
PrometheusPorque é um dos poucos instantes em que estamos diante do mesmo Ridley Scott de “Alien – O Oitavo Passageiro”.

A OUTRA TERRA
A Outra Terra | Another EarthPorque uma segunda chance surge de uma forma que jamais imaginamos.

A SAGA CREPÚSCULO – AMANHECER – PARTE II, O FINAL
A Saga Crepúsculo - Amanhecer – Parte II, o Final | The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2Porque cabeças vão rolar. Ou não.

ENTRE O AMOR E A PAIXÃO
Entre o Amor e a Paixão | Take This WaltzPorque a vida não permite espaço para fantasias.

O HOBBIT – UMA JORNADA INESPERADA
O Hobbit - Uma Jornada Inesperada | The Hobbit - An Unexpected JourneyPorque Gollum é o personagem digital mais fascinante da história do cinema.

Resenha Crítica | A Saga Crepúsculo – Amanhecer – Parte II, o Final (2012)

A Saga Crepúsculo - Amanhecer – Parte II, o Final | The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2Não há dúvidas que Stephenie Meyer foi certeira ao introduzir mudanças radicais em toda a mitologia vampírica, criando uma história de amor adolescente ambientada em um universo dividido entre o realismo e o fantástico. Porém, aqueles que chegaram em “Amanhecer”, capítulo derradeiro de “A Saga Crepúsculo”, não precisarão refletir por muito tempo sobre as bizarrices que habitam a criação da escritora. O romance tem um previsível final feliz, mas as surpresas estão no fato de um vampiro com mais de cem anos se apaixonar por uma menor de idade. Ok, podemos dizer que a mentalidade de Edward estagnou ao ser transformado em vampiro ainda na juventude, mas o que dizer de Jacob, lobisomem que tem um imprinting por uma vampira-humana recém-nascida?

Tantas inconsistências (sem esquecer de acrescentar o fenômeno que faz vampiros brilharem ao serem expostos à luz solar, bem como o dom que cada um adquire, como ler mentes, antecipar o futuro ou manipular os elementos) entregam: é preciso aceitá-las se a intenção é acompanhar cada um dos volumes que compõem “A Saga Crepúsculo”. Se você chegou a “Amanhecer – Parte II, o Final”, provavelmente aceitou este desafio.

A história reservada para a conclusão é uma sequência direta dos eventos de “Amanhecer – Parte I”, facilmente o pior entre todos os capítulos da adaptação cinematográfica (como é sabido, o livro “Amanhecer” foi dividido em duas partes ao ser transportado para a telona). Bella (Kristen Stewart) agora é uma vampira e transita livre, leve e solta na gélida Forks para desvendar os benefícios de sua nova condição. O problema é que antes de se transformar em uma criatura que tem sede de sangue (descrição descuidada, pois as criaturas de Stephenie Meyer conseguem controlar seus impulsos ferozes sem muita dificuldade), Bella concebeu Renesmee na lua de mel com Edward. Meio vampira, meio humana, Renesmee representa não apenas um desequilíbrio entre os vampiros, como uma ameaça. Uma vez que Aro, líder dos Volturi, é informado sobre a existência de Renesmee, dá-se início a uma guerra para protegê-la.

A divisão de “Amanhecer” em duas partes comprometeu o trabalho do experiente cineasta Bill Condon, notório pelo Oscar recebido pelo texto de “Deuses e Monstros”. No entanto, se em “Amanhecer – Parte I” havia excesso de gordura ao ponto de tornar todo este universo de “A Saga Crepúsculo” mais patético do que já demonstrara nos filmes precedentes, em “Amanhecer – Parte II, o Final” Condon encontra uma oportunidade para se sobressair. Aqui, o casal principal está menos insosso e há um espaço mais amplo para alguns personagens secundários (Lee Pace como Garrett e Casey LaBow como Kate estão muito bem). Porém, é na preparação do aguardado confronto entre os Volturi e o pequeno “exército” liderado pelos Cullen que “Amanhecer – Parte II, o Final” atinge o potencial que a cinessérie jamais alcançou.

Assim que os Volturi finalmente vão ao encontro de Bella, Edward, Jacob e companhia, Bill Condon, outrora um realizador de fitas B de horror, preenche o filme com uma tensão que atingirá até o espectador mais desinteressado. Quando a luta finalmente inicia, a tela é tomada por uma brutalidade surpreendente, fazendo até mesmo os responsáveis por “Harry Potter”, até pouco tempo atrás o principal concorrente de “A Saga Crepúsculo” na caça do público juvenil, se envergonharem pelo embate entre Harry Potter e Voldemort. O que vem a seguir pode ser mais do mesmo, mas é possível afirmar que, entre erros e acertos, “A Saga Crepúsculo” conclui satisfatoriamente a sua ingênua história de um amor torto.

Título Original: The Twilight Saga: Breaking Dawn – Part 2
Ano de Produção: 2012
Direção: Bill Condon
Roteiro: Melissa Rosenberg, baseado no romance “Amanhecer”, de Stephenie Meyer
Elenco: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Peter Facinelli, Elizabeth Reaser, Ashley Greene, Jackson Rathbone, Kellan Lutz, Nikki Reed, Billy Burke, Chaske Spencer, Mackenzie Foy, Maggie Grace, Jamie Campbell Bower, Christopher Heyerdahl, Michael Sheen, Lateef Crowder, Daniel Cudmore, Charlie Bewley, Billy Wagenseller, Dakota Fanning, Cameron Bright, Andrea Powell, MyAnna Buring, Casey LaBow, Mía Maestro e Christian Camargo

Retrospectiva 2012

Ao conversar com alguns colegas em dezembro, percebi que todos não estavam plenamente satisfeitos com o que o cinema pôde oferecer ao longo de 2012. Apesar dos bons títulos exibidos entre janeiro e março, realmente não houveram tantos filmes que valessem a ida ao cinema, especialmente no segundo semestre. Ao refletir sobre este incômodo, não pude deixar de iniciar 2013 fazendo uma rápida retrospectiva do que aconteceu no cinema no ano passado. Os principais destaques vocês podem ver a seguir.

Os Mercenários 2

A NOSTALGIA QUE INVADIU O CINEMA EM 2012

O cinema contemporâneo recicla constantemente os elementos que asseguraram o sucesso de filmes do passado, às vezes como homenagem, às vezes como refilmagem. Em 2012, as coisas não foram diferentes, mas houve neste ano em particular uma nostalgia exacerbada. Uma das obras-primas do holandês Paul Verhoeven, “O Vingador do Futuro” ganhou uma refilmagem com cenários que remetem a “Blade Runner – O Caçador de Androides”. Responsável por “Alien – O Oitavo Passageiro”, Ridley Scott fez “Prometheus”, prequel da franquia estrelada por Sigourney Weaver. Já o musical “Rock of Ages – O Filme” tentou (sem sucesso) resgatar o espírito rock n’ roll oitentista. Nesta tendência, quem se saiu melhor foi Sylvester Stallone, que em “Os Mercenários 2” fez não apenas uma sequência que supera a obra original, mas uma oportunidade de reunir astros do passado como Jean-Claude Van Damme, Chuck Norris e Arnold Schwarzenegger. Há também de se mencionar “007 – Operação Skyfall”, capítulo que comemora os cinquenta anos da franquia ao trazer um James Bond em crise com a idade e antiquado nas artimanhas usadas para derrubar o inimigo interpretado por Javier Bardem.

A Invenção de Hugo Cabret | O Artista

“A INVENÇÃO DE HUGO CABRET”, “O ARTISTA” E OS PRIMÓRDIOS DO CINEMA

Em termos de popularidade, não houve filmes mais comentados em 2012 do que “A Invenção de Hugo Cabret” e “O Artista”. O falatório não se concentrou apenas na disputa dos filmes de Martin Scorsese e Michel Hazanavicius no Oscar, mas no valor que estes dois títulos agregam quanto ao interesse pelas origens da sétima arte. Em tom de aventura para toda a família, Scorsese presta a sua homenagem ao cinema ao focar a triste história de um órfão que conhece um Georges Méliès, realizador de “Viagem à Lua”, distante dos seus dias mais gloriosos. Já Hazanavicius analisa as consequências da transição do cinema mudo para o cinema falado através da figura de George Valentin, maior astro de Hollywood que não responde adequadamente a esta mudança.

O Artista [Oscar]

A CONSAGRAÇÃO DE “O ARTISTA” NO 84° OSCAR

Nada contra “Quem Quer Ser Um Milionário”, “Guerra ao Terror” e “O Discurso do Rei”, mas já era hora de um filme realmente excelente vencer o Oscar. Isto aconteceu na última edição do evento, que rendeu a “O Artista” os prêmios de melhor filme, melhor direção, melhor ator, melhor trilha-sonora e melhor figurino. Seu maior oponente, “A Invenção de Hugo Cabret”, somou cinco vitórias, mas apenas em categorias técnicas. Embora a tensão se concentrasse no embate entre o filme de Hazanavicius e Scorsese, a edição reservou surpresas bem agradáveis. Ao contrário de suas participações anteriores, Billy Crystal não empolgou nem um pouco como anfritrião da festa, mas os discursos de vitórias representaram os grandes momentos da noite. Destaca-se Meryl Streep, que após anos e mais anos de indicações finalmente conquistou o seu terceiro Oscar por “A Dama de Ferro”. O vacilo da edição foi o esquecimento da interpretação arrasadora de Tilda Swinton em “Precisamos Falar Sobre o Kevin” – a vaga foi ocupada pela superestimada Rooney Mara, que faz uma Lisbeth Salander inferior àquela incorporada por Noomi Rapace na versão sueca de “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”. Em tempo: das premiações pré-Oscar, não deixe de conferir também os comentários sobre os vencedores do último Globo de Ouro e Independent Spirit Awards.

Trilogia Jogos Vorazes

ADOLESCENTES COMO PÚBLICO-ALVO

Com o mercado de literatura juvenil se fortalecendo a cada dia, alguns produtores espertos têm buscado por best-sellers que podem repetir o sucesso nos cinemas com uma adaptação. As franquias “Harry Potter” e “A Saga Crepúsculo” foram concluídas recentemente e registraram números arrasadores nas bilheterias mundiais. Por tudo isto, não poderíamos deixar de relembrar a febre que virou a trilogia “Jogos Vorazes”, suja adaptação cinematográfica foi bem acolhida pelo público e crítica. Só nos Estados Unidos, “Jogos Vorazes” arrecadou mais de 400 milhões de dólares. A recepção comprova que em 2012 o cinema finalmente descobriu como atrair a garotada, lidando com universos em que os anseios da adolescência estão presentes. Como consequência, 2013 estará recheado de novas adaptações de livros juvenis. Entre eles, “A Hospedeira” (cujo romance é escrito pela mesma Stephenie Meyer de “Crepúsculo”), a sequência de “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” e o próprio “Em Chamas”, que dá continuidade à história de “Jogos Vorazes”.

Taylor Kitsch

TAYLOR KITSCH: ESTRELA CADENTE DE HOLLYWOOD

Com astros como Johnny Depp, Brad Pitt e Tom Cruise envelhecendo, Hollywood parece desesperada em selecionar jovens intérpretes que tenham o poder de conquistar o grande público e se tornarem ídolos. Neste ano, duas super-produções apostaram todas as fichas no canadense Taylor Kitsch, protagonista de “John Carter – Entre Dois Mundos” e “Battleship – A Batalha dos Mares”. Tão malhado quanto mau ator, o Gambit de “X-Men Origens: Wolverine” e Tim Riggins do seriado “Friday Night Lights” tem carisma zero e responde por uma boa parcela do fracasso das péssimas aventuras científicas de Andrew Stanton e Peter Berg. Só se deu razoavelmente bem em “Selvagens”, novo filme de Oliver Stone que não ficou no vermelho. É o novo Josh Lucas.

Michael Haneke em CannesUma vez que não há a ilustre presença de Lars von Trier, o Festival de Cannes automaticamente se livra de ocasiões polêmicas, ainda que se mostre notório pelas suas sessões em que há ovações ou vaias ensurdecedoras. A última edição teve “Moonrise Kingdom” como filme de abertura, escolha que apenas antecipou a manifestação em massa de produções americanas de olho na Palma de Ouro. Pois só “Indomável Sonhadora” levou algo para casa, a Câmera de Ouro, destinada a um filme em competição que conte com um diretor estreante – o júri desta categoria, aliás, foi presidido pelo brasileiro Cacá Diegues. Ainda inédito no Brasil, “Amor” consagrou novamente Michael Haneke, já premiado três anos atrás por “A Fita Branca”. Protagonistas de “Além das Montanhas” (que será lançado por aqui ainda este mês) Cristina Flutur e Cosmina Stratan dividiram o prêmio de melhor atriz enquanto Mads Mikkelsen foi laureado como melhor ator por “A Caça”, de Thomas Vinterberg. Nas demais categorias, Matteo Garrone levou o Grand Prix por “Reality”, Ken Loach o Prêmio do Júri por “A Parte dos Anjos”, Cristian Mungiu pelo roteiro de “Além das Montanhas” e Carlos Reygadas pela direção de “Post Tenebras Lux”.

Peter Jackson, diretor de O Hobbit - Uma Jornada Inesperada

48 QUADROS POR SEGUNDO: NOVA TECNOLOGIA NO CINEMA

Se as gerações anteriores demoravam para experimentarem novas tecnologias no cinema, agora somos submetidos a novas artimanhas que buscam proporcionar um entretenimento mais realista possível. Além da volta com força total do 3D, atualmente contamos com salas de cinema com telas mais amplas e equipamentos de som mais potentes. Sem dizer os benefícios de se ver um filme em casa com a popularização do Blu-ray. Neste ano, uma nova tecnologia foi criada. Trata-se do HFR, ou High Frame Rate, aplicada em “O Hobbit – Uma Viagem Inesperada” e que representa a passagem de 48 quadros (ou fotogramas) por segundo – os filmes que assistimos contém 24 quadros por segundo. O resultado é um trabalho visual mais realista, capaz de nos fazer encarar como crível um universo de fantasia. Mesmo que ainda não tenhamos postado uma resenha para “O Hobbit – Uma Viagem Inesperada”, já assistimos ao filme e recomendamos que seja visto no formato.

Chico Anysio como Professor Raimundo

PERDAS SENTIDAS

Nem todas as retrospectivas são feitas de fatos positivos que aconteceram ao longo de um ano. Em 2012, houve perdas sentidas não apenas no cinema, mas também na televisão e na música. Donas de vozes poderosíssimas, Whitney Houston, Etta James e Donna Summer deixaram como legado canções que permanecem emocionantes e únicas. Não foi um ano fácil para os brasileiros, que perderam dois ícones da televisão. Mesmo diagnosticada com câncer em 2010, Hebe Camargo se mostrou um exemplo de vida ao encarar a adversidade com garra e seu inesquecível bom humor. E falando em humor, o Brasil ficou mais triste dia 23 de março, data que partiu o grande Chico Anysio, sem dúvida o maior comediante que já tivemos. Deixarão saudades também as atrizes Regina Dourado, dona de papéis marcantes em novelas como “Roque Santeiro”, “Tropicaliente” e “Renascer”, e Marly Bueno. Em Hollywood, os veteranos Celeste Holm, Ernest Borgnine e Ben Gazzara tiveram de dar adeus, assim como o diretor Tony Scott (que deixa como obra mais marcante o terror “Fome de Viver”) e Michael Clarke Duncan, grandalhão que emocionou a todos em “À Espera de Um Milagre”, filme para o qual concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Por fim, é preciso também mencionar Sylvia Kristel, de “Emmanuelle”. Ao viver a personagem-título, Kristel brincou com a imaginação de muitos espectadores. Inclusive deste que voz fala.

Os Vingadores [Bilheteria]

FENÔMENOS DE 2012

Antes um feito alcançado apenas por “Titanic”, atingir um bilhão de dólares em bilheterias mundiais não anda sendo uma grande novidade, apesar da alegria dos distribuidores. Em 2012, três títulos ultrapassaram a marca: “Os Vingadores”, “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” e “007 – Operação Skyfall”. Aqui no Brasil, temos uma outra marca, só que muito mais modesta: um milhão de espectadores. Por aqui, tivemos quatro sucessos estrondosos: “E aí, Comeu?” (2,5 milhões de ingressos vendidos), “Até que a Sorte nos Separe” (2,2 milhões), “Os Penetras” (1,6 milhões) e “Gonzaga – De Pai Pra Filho” (1,5 milhões). Lançado no último final de semana, “De Pernas Pro Ar 2” já foi visto por mais de 600 mil espectadores.