Embora “Círculo de Fogo” esteja prestes a chegar aos cinemas, o cineasta mexicano Guillermo del Toro estava há cinco anos sem dirigir um filme. Ao se desligar da direção de “O Hobbit – Uma Jornada Inesperada” após longos meses envolvido no desenvolvimento do projeto (ao qual foi creditado como um dos roteiristas), usou o tempo livre para viabilizar como produtor alguns filmes independentes de cineastas que ainda dão seus primeiros passos.
Impressiona o gosto apurado de del Toro em trabalhar com jovens realizadores que provaram um domínio louvável de cada imagem que produzem. Algumas evidências disso podem ser vistas em “O Orfanato” e “Os Olhos de Julia”. Respectivamente dirigidos por Juan Antonio Bayona e Guillem Morales, ambos são definitivamente um dos melhores filmes do gênero neste cenário contemporâneo.
Agora, Guillermo del Toro nos apresenta o talento do iniciante Andrés Muschietti, que há aproximadamente três anos fez muitos usuários do Youtube ficarem de cabelos em pé com o curta-metragem “Mamá” (assista-o clicando aqui). Guillermo del Toro ficou surpreso e acreditou que daí poderia surgir um longa-metragem. Encontros com Andrés Muschietti aconteceram e o resultado é “Mama”, um dos mais expressivos sucessos comerciais deste primeiro semestre e forte candidato ao título de melhor filme de horror do ano.
Após presentear o público com uma série de grandes interpretações nos dois últimos anos, Jessica Chastain volta a surpreender como Annabel. Aos poucos assumindo o papel de protagonista da história, Chastain se apresenta como uma integrante de banda de rock com cabelos negros e curtos, postura rude, maquiagem carregada e algumas tatuagens espalhadas pelo corpo – os tentáculos de um polvo que cobrem seu braço revelam muito sobre a personagem.
Meio a contragosto, Annabel precisa assumir o papel de mãe quando seu namorado Lucas (papel de Nikolaj Coster-Waldau) encontra suas duas sobrinhas, Victoria e Lilly (Megan Charpentier e Isabelle Nélisse) após os cinco anos que se passaram de uma tragédia familiar: Jeffrey, irmão de Lucas, mata a mulher e é impedido de fazer o mesmo com suas duas filhas por uma presença maligna que habita uma cabana no meio de uma inóspita floresta. Victoria consegue se readaptar com facilidade, mas Lilly desenvolveu hábitos selvagens incorrigíveis.
O que Annabel e Lucas não sabiam é que tal presença maligna, da qual Victoria e Lilly chamam de Mama, não é fruto da imaginação das meninas e sim o espírito de uma jovem cujo privilégio de ser uma mãe lhe foi tirado em um passado nada recente. Quando o relacionamento entre esta nova família que se forma se estreita, Mama manifesta sua fúria de modo progressivo.
Por se tratar da adaptação de um curta-metragem que não ultrapassa a duração de três minutos, o roteiro escrito por Andrés e Barbara Muschietti com colaboração de Neil Cross derrapa ao inserir dois personagens bem dispensáveis para a narrativa: o psiquiatra que desempenha o papel de detetive nas horas vagas interpretado por Daniel Kash e a tia megera feita pela atriz Jane Moffat que quer a todo o custo obter a custódia de Victoria e Lilly.
Mesmo com esse problema em desenhar com descuido tais personagens secundários, isso não compromete o resultado final de “Mama”, que sutilmente converte o horror a um tom dramático que remete bastante à obra-prima “O Orfanato”. Além de visualmente arrebatador, algo sempre presente em um filme que tem a supervisão de Guillermo del Toro, e ao menos com dois planos-sequência impressionantes, “Mama”, que desde o início antecipa o seu caráter de conto de ninar macabro, chega aos seus momentos finais apresentando um comovente embate entre duas personagens que revelam seus traços maternais. Independente de ser uma presença amedrontadora ou alguém que até então temia por uma gravidez inesperada, Mama e Annabel estão dispostas a qualquer sacrifício para assumirem a figura materna tão ausente na vida de Victoria e Lilly.
Mama, 2013 | Dirigido por Andrés Muschietti | Roteiro de Andrés Muschietti, Barbara Muschietti e Neil Cross | Elenco: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier, Isabelle Nélisse, Daniel Kash, Javier Botet, Jane Moffat, Morgan McGarry, David Fox, Julia Chantrey, Maya Dawe e Sierra Dawe | Distribuição: Universal

“Mama” chama a atenção pela parte estética do filme, que é excelente. Entretanto, tenho problemas sérios com a condução da história, apesar de achar o final pra lá de coerente.
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Kamila, a história realmente apresenta alguns problemas, especialmente pela presença dos dois personagens secundários que cito em minha resenha. No entanto, não achei tão cômodo ao ponto de comprometer totalmente o filme, que considero ótimo.
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Eu acho esse filme um porre, mas entendo quem goste do gênero. É difícil um CGI qualquer me amedrontar.
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Quando a computação gráfica é bem aplicada, o resultado pode ser muito positivo. Particularmente, vejo que este é o caso de “Mama”.
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Olha, eu esperava bem menos do filme. Acabei gostando por alguns planos bem criativos e um ou outro susto, hehe.
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Pedro, a cena do cabo de guerra é fantástica, não? Guillermo del Toro sempre é certeiro ao revelar talentos com um bom olho para a mise-en-scène.
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