Não importa o quão prevenidos possamos ser, os filmes ruins sempre vão sempre nos perseguir. Eles podem ser tanto produções europeias que inexplicavelmente arrebataram inúmeros prêmios em festivais e premiações mundo afora quanto aqueles projetos de cineastas que até então nunca haviam errado.
Provando que essas possibilidades são verdadeiras, organizamos a nossa seleção dos piores filmes lançados nos cinemas e em homevideo ao longo do ano passado. Na nossa seleção, há filmes que vão dos nacionais e blockbusters de verão até obras apreciadas em festivais como o de Cannes. Ninguém saiu ileso, inclusive o pobre espectador que desembolsou tempo e dinheiro. De bônus, também apontamos aquelas que foram as piores interpretações masculinas e femininas do ano passado. Vale lembrar que há filmes que possuem resenhas completas – para lê-las, basta clicar no sinal de adição após o título em negrito.
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01. Silent Hill – Revelação 3D +
Após o espetacular “O Pacto dos Lobos”, Christophe Gans desembarcou em Hollywood para atingir um feito inédito: adaptar um jogo e entregar um resultado que é válido tanto como cinema quanto como uma emulação da experiência proporcionada por um videogame. Pois “Terror em Silent Hill” fez bons números e uma sequência era mera questão de tempo. A maior parte do elenco original está de volta, mas muitas coisas mudaram. Se o original custou 50 milhões de dólares para ser produzido, “Silent Hill – Revelação 3D” teve um orçamento de 20 milhões de dólares, o que para uma indústria de cinema estabelecida equivale ao mesmo que comprar duas dúzias de banana em fim de feira. Mas o pior mesmo é a mudança na direção. Michael J. Bassett é quem assume a condução dos eventos que assolam uma adulta Heather (Adelaide Clemens) e o que se vê é uma narrativa redundante em que prevalece a tosquice de criaturas que já não assustam como no original de Gans. Que saudades dos filmes de Uwe Boll.
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02. Todo Mundo Hispânico, de Javier Ruiz Caldera
Em sua estreia na direção de longa-metragem, o cineasta nascido em Barcelona Javier Ruiz Caldera teve uma boa ideia: parodiar as produções espanholas mais populares. Tudo indicava que a brincadeira havia dado certo vendo os nomes de alguns diretores que toparam fazer piada com as suas obras, a exemplo de J.A. Bayona (“O Orfanato”), Alejandro Amenábar (“Preso na Escuridão”) e a dupla Jaume Balagueró e Paco Plaza (de “[REC]”). Astro das paródias americanas, até Leslie Nielsen (em seu último papel no cinema) dá o ar da graça em uma participação especial. Apesar da expectativa, o resultado é de uma falta de graça revoltante. Mesmo caracterizando cenários e personagens de modo a associá-los aos filmes espanhóis mais bem-sucedidos dos últimos dez anos, as piadas não devem em nada a um “Zorra Total”. Lançado direto em DVD com três anos de atraso, “Todo Mundo Hispânico” não vale nem como mera curiosidade.
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03. Uma Família em Apuros, de Andy Fickman +
Às vezes não há programa mais agradável do que um filme censura livre. “Uma Família em Apuros” indicava que seria a opção mais divertida dessa categoria no ano. Afinal, temos aqui os veteranos Billy Crystal e Bette Midler com o privilégio de protagonizarem uma história sobre as disfunções de uma família com gerações educadas de modo muito distinto. Ledo engano. O novo filme de Andy Fickman, baseado em experiências particulares do próprio Billy Crystal, não passa de uma sucessão de pegadinhas pregadas por um trio de crianças mimadas e aborrecidas que evidenciam a imaturidade de “Uma Família em Apuros”. No show de horrores em que Crystal não passa de um paspalho atingido a todo o momento nas partes baixas (seja com um golpe ou com uma arma de brinquedo que dispara arma) enquanto Midler o observa incrédulo, somente a doce Marisa Tomei sai ilesa.
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04. Depois de Lúcia, de Michel Franco +
Afinal, o que o cineasta Michel Franco pretendia com “Depois de Lúcia”? Sua intenção está em contar uma história sobre o bullying ou o luto? Independente da leitura, este vencedor da Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes se mostra grosseiro. Afinal, a humilhação da qual Alejandra (Tessa Ia) é alvo é tão obscena que impossibilita a emissão de qualquer discurso sobre a perversidade que habita o universo jovem. Isso não é modificado se interpretarmos a passividade da protagonista como um modo de processar a dor de perder a mãe, uma vez que ela não havia sequer sugerido a ausência materna antes de ser submetida aos ataques mais cruéis de seus colegas de classe. “Depois de Lúcia” é um filme incapaz de oferecer algo além do choque passageiro.
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05. O Homem de Aço, de Zack Snyder +
Saudade dos tempos em que a Mulher-Gato tinha sete vidas e Louis Lane era incapaz de diferenciar Clark Kent do Superman. O lema do inglês Christopher Nolan agora é dar uma “visão realista” para as adaptações de histórias em quadrinhos. No pós-11 de Setembro, é preciso situar seu herói em um cenário cercado pela paranoia, nem que para isso o personagem seja totalmente desconstruído. Como roteirista e produtor de “O Homem de Aço”, Nolan não corrompe apenas a direção de Zack Snyder, que, vamos ser francos, sabe usar o melhor da tecnologia para conceber belas imagens. Clark Kent agora é um bocó em conflito consigo mesmo e que nem imagina desempenhar o papel do vilão mais asqueroso possível ao colaborar para a destruição quase integral de Smallville e Metrópolis. Nem Jesus Cristo é poupado das analogias risíveis deste que é o blockbuster mais insuportável desde “Battleship – A Batalha dos Mares”.
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06. É o Fim, de Evan Goldberg e Seth Rogen
Nada contra filmes que acontecem através de uma reunião de amigos que decidem fazer uma brincadeira. Bom, contanto que Seth Rogen, Jay Baruchel e James Franco não sejam elementos do grupo. Astros do besteirol de quinta (um tipo de humor que atrai muitos espectadores americanos para o cinema), o trio convocou uma série de amigos e celebridades (como Jonah Hill e a cantora Rihanna) para “É o Fim”. É até possível imaginar as reuniões de pré-produção, com cada “comediante” testando as péssimas piadas de improviso enquanto estão totalmente chapados. Trata-se de um filme que compreende “subversão” do modo mais equivocado possível. Ou essa galera tão hilária quanto um Danilo Gentili da vida acredita que há graça em ser recebido no paraíso pelos “Backstreet Boys”?
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07. Odeio o Dia dos Namorados, de Roberto Santucci
Ok, “Até que a Sorte nos Separe” está muito longe de ser um bom filme, mas não há dúvidas de que Roberto Santucci fez uma comédia muito melhor que “De Pernas pro Ar”. Há quem aguardasse um novo salto com “Odeio o Dia dos Namorados”, mas o que temos é um verdadeiro retrocesso. Não há em sua nova comédia o mesmo volume de piadas vulgares de “De Pernas pro Ar” e Heloísa Périssé, que é uma comediante de mão cheia, faz o que pode como a protagonista Débora. Por outro lado, “Odeio o Dia dos Namorados” não passa de um pastiche bem sem vergonha do clássico “A Felicidade não se Compra”, trazendo uma workaholic que repensa toda a sua vida após um acidente que pode lhe tirar a vida. Além do mais, todas as tentativas de criar passagens edificantes são destruídas com a intervenção do humor precário. De tão caricatos, Marcelo Saback e Danielle Winits chegam a irritar e há até espaço para fazer graça com a música de Michel Teló. A cereja do bolo de cacto? A conclusão com vários figurantes dançando ao som de “Não Se Reprima” do “Menudos” mostra que, quem diria, “Cinderela Baiana” anda fazendo escolha.
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08. O Dobro ou Nada, de Stephen Frears +
Até os grandes cineastas erram. Diretor dos ótimos “Ligações Perigosas”, “Coisas Belas e Sujas” e “A Rainha”, o britânico Stephen Frears é garantia de projetos bem produzidos com atuações fora de série. De uma hora para outra, o cineasta deixou as histórias densas de lado para investir em outras mais descontraídas. Se Frears mandou bem em “O Retorno de Tamara”, o mesmo não pode ser dito a respeito de “O Dobro ou Nada”, que parece uma versão de saias e sem nenhum neurónio de “Rain Man”. Provando que o cinema pode produzir histórias inúteis sobre figuras reais (ou sub-anônimos), Frears conduz a trajetória de Beth Raymer (Rebecca Hall), uma dançarina de striptease que decide tentar a sorte em Las Vegas. Ao trabalhar para Dink (Bruce Willis, mal vestido como nunca), sujeito que chefia um grupo de apostadores, a moça descobrirá ter uma habilidade impressionante com números. Se livre desta roubada!
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09. Um Bom Partido, de Gabriele Muccino
Depois de finalmente conseguir entrar no primeiro time de Hollywood com o sucesso comercial estrondoso de “300”, o escocês Gerard Butler ficou desorientado quanto a carreira mais adequada a seguir. Na indecisão entre ser um galã romântico, um astro de filmes de ação ou um ator sério, Butler acaba participando de bobagens como “Um Bom Partido”. Seria mais um filme que passaria batido entre nós se não fosse o bom elenco pagando mico. Para tornar explicita a misoginia do roteiro, as belas Jessica Biel, Uma Thurman, Catherine Zeta-Jones e Judy Greer são as mulheres que desempenham os papéis mais patéticos para conquistarem o coração de George, o sujeito interpretado por Gerald Butler que perdeu todo o seu prestígio profissional e sequer sabe o que fazer com a própria vida. Após o embaraçoso “Sete Vidas”, o diretor Gabriele Muccino prova com “Um Bom Partido” que o melhor negócio é regressar para a Itália.
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10. Colegas, de Marcelo Galvão
“Colegas” estreou em um momento em que o público brasileiro estava entusiasmado com uma nova etapa para o cinema brasileiro inaugurada com “O Som ao Redor”. A ideia do diretor Marcelo Galvão foi ousada: contar uma história com protagonistas com síndrome de Down. Temos assim um filme que se constrói no instante em que os amigos Stallone (Ariel Goldenberg), Aninha (Rita Pook) e Márcio (Breno Viola) decidem fugir da instituição que habitaram ao longo de toda a vida. O que deveria render uma aventura sobre descobertas, liberdade e o valor da amizade se transforma em algo abominável que busca apaziguar todos os valores tortos construídos em uma trama criminal calcada em títulos como “Thelma & Louise”. É como se “Colegas” acreditasse que teríamos empatia pelos protagonistas pelo simples fato deles serem o que são. Não é bem assim.
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PIORES INTERPRETAÇÕES
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ATORES
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Ben Affleck • Amor Pleno
Ben Kingsley • Homem de Ferro 3
Edu Moraes • Somos Tão Jovens
James Franco • Oz – Mágico e Poderoso
Jaden Smith • Depois da Terra
Kit Harington • Silent Hill – Revelação 3D
Russell Crowe • Os Miseráveis
Ryan Gosling • Caça aos Gângsteres
Tobey Maguire • O Grande Gatsby
Will Smith • Depois da Terra
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ATRIZES
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Adelaide Clemens • Silent Hill – Revelação 3D
Amanda Seyfried • Os Miseráveis
Amy Adams • O Homem de Aço
Antje Traue • O Homem de Aço
Catherine Zeta-Jones • O Dobro ou Nada
Danielle Winits • Odeio o Dia dos Namorados
Dianna Agron • A Família
Rachel Weisz • Oz – Mágico e Poderoso
Rebecca Hall • O Dobro ou Nada
Svetlana Khodchenkova • Wolverine: Imortal
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