
Xi you, de Tsai Ming-liang
.:: INDIE 2014 Festival Cinema ::.
Está cada vez mais recorrente nos surpreendemos com declarações públicas de cineastas que confirmam uma aposentadoria na função. Steven Soderbergh, que atualmente está envolvido com o seriado “The Knick”, já foi e voltou atrás inúmeras vezes e Hayao Miyazaki se arrependeu da decisão de apresentar “Vidas ao Vento” como o seu último filme. Antes que repense a decisão, “Jornada ao Oeste” é o adeus de Tsai Ming-liang no cinema.
Se a escolha é para valer, antes fosse “Cães Errantes” o seu último filme, este repleto de elementos que podem ser compreendidos como uma despedida. Ao invés disso, Tsai Ming-liang decidiu dar um ponto final na série cinematográfica “Walker”, até então apresentada através de curtas. A perspectiva é a mesma: acompanhar um monge (Lee Kang-sheng) com vestes vermelhas em sua peregrinação incansável e sem fim em inúmeros ambientes.
O principal atrativo está na presença de Denis Lavant, o muso do cineasta Leos Carax. É com um close em seu rosto que “Jornada ao Oeste” inicia, interrompendo o registro de suas linhas faciais e a sua respiração somente quando uma lágrima se anuncia. “Jornada ao Oeste” tem somente 56 minutos e ao menos 7 deles se passaram com este único plano-sequência. O dobro de tempo é consumido em outras duas ocasiões: uma em que o monge reprisado por Lee Kang-sheng desce a escadaria de uma estação e outra em que o personagem de Lavant o segue próximo a uma esquina.
É comum para Tsai Ming-liang reavaliar o tempo e o espaço em suas obras. A paciência que seria necessária para contemplar uma ação (ou a ausência dela) é substituída por uma admiração vinda com as leituras deflagradas em cada plano-sequência que forma um todo muito significativo. A costura desses planos em “Jornada ao Oeste”, no entanto, se assemelha a uma colcha de retalhos que representa uma intenção já decodificada antes mesmo que o filme apresente o terceiro ou quarto percurso do monge.
Quando o monge é cercado pelas reações mais diversas nos ambientes urbanos, é evidente que Tsai Ming-liang reflete sobre a histeria que tomou os nossos tempos. As multidões, os transportes, os barulhos e as inúmeras informações processadas por segundo permitem que o monge seja encarado como uma presença à parte pela sua concentração em buscar uma paz de espírito em meio a tormenta de nosso cotidiano. Possivelmente um sujeito à margem da sociedade, o personagem de Denis Lavant evidentemente o persegue para apanhar essa serenidade. Bonito, mas nada de muito diferente do que se vê em uma videoinstalação.

Mais um excelente texto, Alex. Não conheço muito desse diretor, mas parece ser um profissional bem interessante.
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Kamila, conheci Tsai Ming-liang ano passado na Mostra através de “Cães Errantes”. Caçarei outras de suas obras, uma vez que “Jornada ao Oeste” foi declarado o seu último trabalho.
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