Resenha Crítica | Elephant Song (2014)

Elephant Song

Elephant Song, de Charles Binamé

.:: 38ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

A relação entre psiquiatras e seus pacientes foi explorada tantas vezes na ficção que a ânsia do espectador é se deparar com algo que seja capaz de rever os métodos em que ela se dá. No ano passado, Steven Soderbergh foi capaz de oferecer algum frescor ao se deixar inspirar em Adrian Lyne enquanto filmava “Terapia de Risco”. Com uma filmografia inexpressiva, era claro que o belga Charles Binamé não decolaria com o seu “Elephant Song”, drama canadense roteirizado pelo estreante Nicolas Billon, que adapta sua peça homônima.

O jogo proposto por Michael Aleen (Xavier Dolan) em que o doutor Toby Green (Bruce Greenwood, bom ator em interpretação inexpressiva) participa sem perceber é envolvente nos primeiros instantes. Como o previsto, Michael tem um histórico problemático e parece ser o responsável pelo desaparecimento do doutor Lawrence (Colm Feore), um colega de longa data de Toby. Temendo que o pior tenha acontecido, Toby aceita a missão de extrair de Michael a informação de onde encontrar Lawrence.

De um lado, há um jovem que não superou os traumas do convívio com o pai e da rejeição da mãe, uma notória cantora lírica. Do outro, há um homem possivelmente amargurado com o casamento que leva com Olivia (Carrie-Anne Moss, em mais um papel insípido) e com um relacionamento estreito com a enfermeira Susa Peterson (Catherine Keener). Entre dois personagens que ameaçam perder o controle, há a dinâmica do paciente que esconde para o seu médico a verdade de que ele precisa devido a um propósito pouco claro.

Presença tarimbada em festivais europeus e recebido com críticas que passam longe da unanimidade, o jovem cineasta Xavier Dolan está surpreendente em uma rara ocasião em que age como intérprete de outro diretor. Além do inglês impecável, Dolan sustenta os picos emocionais de seu Michael, criando até mesmo uma relação de empatia com o público. Infelizmente, só ele e, vá lá, Catherine Keener, parecem interessados em dar alguma vida ao material que vai se tornando enfadonho enquanto se alonga.

Charles Binamé não é capaz de oferecer um bom acabamento a “Elephant Song” e a todo o instante duvida que sejamos capazes de “pescar” de primeira as obviedades que registra. O ambiente principal não transmite qualquer claustrofobia e a iluminação estourada das janelas representa mais um desleixo estético do que um desejo de fuga dos protagonistas da situação. Há também a alternância de tempos e os diálogos expositivos. Se os flashbacks da sessão de Toby com Michael não dão conta do recado, sempre surge o tempo presente para que Toby relate o que aconteceu, algo que denuncia o despreparo de Charles Binamé para entregar um filme além do regular.

Viver é Fácil com Os Olhos Fechados (2013)

Viver é Fácil com Os Olhos Fechados | Vivir es fácil con los ojos cerrados

Vivir es fácil con los ojos cerrados, de David Trueba

.:: 38ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Volta e meia nos deparamos com filmes que tratam sobre a busca de uma pessoa comum pelo seu ídolo. Como o esperado, esse objetivo permite que a narrativa assuma as estruturas de um road movie e logo a relação com estranhos rende contornos de um drama reflexivo. “Viver é Fácil com Os Olhos Fechados” não faz nenhum esforço para fugir dessa estrutura, mas parece que a Espanha ainda não tinha se deparado com algo parecido. É o que diz o Goya Awards, que deu ao filme seis troféus, inclusive na categoria de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. É também o título escolhido pelo país para tentar uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no próximo Oscar.

Irmão mais novo de Fernando Trueba (“Sedução”, “A Dançarina e o Ladrão”), David Trueba encontrou como atrativo para se articular dentro de um modelo manjado a história verídica de um professor espanhol de Língua Inglesa chamado Antonio, que tem o desejo de se encontrar com John Lennon, seu maior ídolo. Além da oportunidade de conhecer pessoalmente o Beatle, que está província na Almería para a gravação de “Como Eu Ganhei a Guerra”, o professor interpretado por Javier Cámara tem a missão nobre de solicitar ao artista que as letras de suas canções sejam inclusas em seus próximos álbuns para servir de material de auxilio para as suas aulas, sempre embaladas com os maiores sucessos do quarteto de Liverpool.

Ao se apresentar como um sujeito com um coração maior que o seu próprio peito, Antonio encontra no caminho Belén (Natalia de Molina), uma jovem de 21 anos grávida, e Juanjo (Francesc Colome), garoto de 16 anos que abandona o seu lar após uma discussão matinal com o seu pai devido a um corte de cabelo que não quer fazer. Não há choques entre esse trio e David Trueba quase passa batido pelas discussões que o período retratado incitam (a Espanha de 1966 era alvo da Ditadura). De valor, resta Javier Cámara, veterano sempre lembrado por suas parcerias com Pedro Almodóvar e dono de uma ternura implacável para viver homens modestos e retraídos como Antonio.