Nas safras mais recentes do cinema nacional, talvez apenas três filmes atingiram um resultado revolucionário para de fato marcar a história de nossa cinematografia. O primeiro é “Tropa de Elite”, vitimado por uma pirataria que só ampliou a curiosidade em torno de seu desprendimento ao tratar de uma sociedade movida pela corrupção, marginalidade e desigualdade social tendo como centro o BOPE. O segundo é justamente a sua sequência, “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro”. Por fim, temos “O Som ao Redor”, produção modesta que colocou definitivamente o cinema pernambucano no radar de interesse nacional. É uma pena que “O Lobo Atrás da Porta”, superior não somente a qualquer outro filme exibido em 2014 como também aos três marcos citados, não tenha provocado o barulho que merecia, ainda que siga contabilizando prêmios e um ótimo desempenho em outros países. É um filme que insere o thriller brasileiro em um patamar ainda não atingido e que confirma Fernando Coimbra como o diretor e roteirista mais promissor a surgir recentemente.
Vencedor: “O Lobo Atrás da Porta” (produzido por Caio Gullane, Débora Ivanov, Fabiano Gullane e Gabriel Lacerda)
Outros indicados: “Confia em Mim” | “De Menor” | “Eles Voltam” | “O Homem das Multidões“
Em 2013: “O Abismo Prateado”
Em 2012: “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”
Em 2011: “Malu de Bicicleta“
Em 2010: “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro“
Em 2009: “Salve Geral”



Sucesso em festivais de cinema, aclamado pela crítica especializada e exemplo de bom êxito comercial, o documentário “Blackfish – Fúria Animal” não foi uma unanimidade ao chegar em homevideo no ano passado pela Universal. Muitos colegas disseram que a produção erra ao inserir trechos pouco harmoniosos ao registro e diminuíram a relevância da denúncia orquestrada por Gabriela Cowperthwaite. Injusto, pois “Blackfish” não poupa a audiência de passagens fortes e os seus comentários já andam repercutindo em toda a cadeia de parques aquáticos, que ainda precisa ser vigiada com mais rigor para que as consequências negativas em treinadores e orcas a troco de entretenimento não se repitam.

Embora indicado ao César, muitas premiações cinematográficas possivelmente esnobaram o trabalho de Madeline Fontaine em “Yves Saint Laurent” pelo fato dos figurinos terem sido cedidos pelo instituto de Pierre Bergé, o braço-direito do estilista francês. Mas as coisas não foram fáceis nos bastidores. Além das modelos serem supervisionadas a todo o momento para que as peças originais não fossem danificadas – às vezes sob os olhos do próprio Bergé -, Madeline Fontaine teve que se equiparar a Yves Saint Laurent para desenvolver a parte do guarda-roupa desenhada do zero. O resultado é sem dúvida a melhor coisa da cinebiografia, notável somente nos instantes onde o trabalho de Saint Laurent é contemplado de modo cerimonioso em tomadas de desfiles.
Na edição de 2011, “Planeta dos Macacos: A Origem”, filme quedeu novos contornos à franquia iniciada com o original de 1968 estrelado por Charlton Heston, já havia sido reconhecido nesta categoria. Três anos depois, é surpreendente testemunhar os avanços tecnológicos provados em “O Confronto”, uma vez que os símios atingem um novo patamar de perfeição a partir da técnica conhecida como captura de performance. Como consequência, o diretor Matt Reeves efetiva a decisão de conferir maior empatia aos macacos do que aos humanos, pois são Andy Serkis como Caesar, Toby Kebbell como Koba e Judy Greer como Cornelia que obtêm mais expressividade física e emocional em um embate entre espécies.
O americano Robert D. Yeoman tem uma carreira como diretor de fotografia em que se destaca o envolvimento em ótimas comédias, como “As Bem-Armadas” e “Missão Madrinha de Casamento”, ambas dirigidas pro Paul Feig. Como muitos sabem, é difícil o reconhecimento de qualquer profissional em uma comédia, um gênero lamentavelmente considerado pouco lisonjeiro. O jogo vira diante de suas contribuições com Wes Anderson, de quem é parceiro desde o início da carreira. É uma dupla perfeita, pois o rigor de Anderson está sempre em sintonia com o feito de Yeoman em alcançar uma estética simplesmente singular. Com “O Grande Hotel Budapeste”, Yeoman se supera ao traduzir em imagens o universo literário de Stefan Zweig, além do uso consciente de três janelas (1.37 : 1, 1.85 : 1 e 2.35 : 1) para ilustrar três tempos distintos.
O romance “Sob a Pele”, do escritor Michel Faber, é uma ficção científica com estranhamentos fora do comum. A sua adaptação homônima para o cinema é ainda mais desconcertante. No terceiro longa-metragem de Jonathan Glazer, Scarlett Johansson vive uma alienígena que encontra dificuldades para se adaptar a realidade de nosso planeta. Como o esperado, é uma personagem que raramente dialoga, usando a forma humana em que está presa o mecanismo para atrair uma série de anônimos. Temos assim uma obra que preserva a essência do que é dito como sensorial e o designer de som Johnnie Burn e o editor de som Steve Browell são exemplares no processo de buscar um trabalho sonoro que auxilie a desorientação de estar em ambientes que não lhe pertencem.