
Chaiki, de Beata Gårdeler
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Há alguns focos de interesse nesta estreia em longa-metragem da cineasta russa Ella Manzheeva, que tem como bagagem a formação em música e cinema e a direção de dois curtas. O principal talvez seja a opressão sofrida por sua protagonista em uma região pouco conhecida, a República da Calmúquia. Com quase 300 mil habitantes, o local se assemelha a uma aldeia parada no tempo com todas as suas paisagens mortas, a predominância de asiáticos e o budismo como religião central.
Elza (Evgeniya Mandzhieva) é vista no primeiro momento de “Gaivotas” em fuga. Ao desistir, ela retorna ao lar e, assim, conhecemos a sua infelicidade de estar presa a um casamento com Dzhiga (Sergei Adianov), um homem autoritário que garante a renda mensal com a pesca e algumas atividades ilegais. Em mais um dia de rotinas de riscos, Dzhiga desaparece. Há algo além da possibilidade de algo muito ruim ter acontecido. Trata-se de um misticismo que pode condenar o seu regresso.
Também assinado por Ella Manzheeva, o roteiro parte da lenda local do pescador que não volta ao lar se a sua mulher não o aguarda. Vem daí o título do filme: uma vez perdida, a alma do pescador encarna em uma gaivota, sobrevoando o mar em que o seu trajeto foi interrompido.
Não se engane com a sugestão de uma linguagem poética pairando sobre “Gaivotas”. Conduzido com um pulso fraco que se confunde com a administração de uma sensibilidade inexistente, Ella Manzheeva não confere nenhum interesse particular pela sua figura central, extremamente comprometida com a escolha da bela modelo de 30 anos Evgeniya Mandzhieva para incorporá-la. Sequer os focos em temas como tradição e maternidade soltam alguma faísca, causando-nos um sentimento de animosidade para algo que se pretende afetuoso.
