Córki dancingu, de Agnieszka Smoczynska
.:: 40ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Infelizmente, as distribuidoras independentes ainda não conseguiram tornar um costume o lançamento do que vem sendo produzido pelo cinema polonês, geralmente forte e inusitado em suas temáticas. O Foco Polônia da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo trouxe um bom panorama da produção recente do país e “A Atração”, um dos principais destaques do recorte, é um daqueles filmes em que se testemunha a plateia totalmente desorientada após a conclusão.
Também pudera. Além de protagonizado por duas sereias, essa estreia de Agnieszka Smoczynska na direção de um longa-metragem segue a estrutura de um musical, um dos vários aspectos a causar estranheza até mesmo no mais cult dos cinéfilos. Irmãs, Zwota (Michalina Olszanska) e Srebrna (Marta Mazurek) acabam sendo atraídas por uma família de músicos que trabalha em uma casa noturna de Varsóvia.
Quem conhece a tradição das sereias fora do universo encantado da Disney, sabe o quanto elas são manipuladoras e perigosas, geralmente seduzindo indivíduos desavisados com o seu canto para então devorá-los. Seria o intuito das protagonistas, se Srebrna não inventasse de se apaixonar por Mietek (Jakub Gierszal), guitarrista da banda em que passam a atuar como vocais de apoio.
“A Atração” apresenta números que correspondem à estética do glam rock em novas versões de canções polonesas ou mesmo americanas. Há também os diálogos cantados, estes trazendo a densidade necessária para um conto fantasioso sobre as desilusões do amor e de criaturas como uma ameaça que se dilui diante da presença humana. O fato de Smoczynska conduzir tudo isso em uma mistura de estilos muito bem planejados não somente nos confunde quanto ao conceito final que empregaremos ao filme, como também causa o inevitável desejo de revisitá-lo – e de caçar a sua incrível trilha sonora.
