Resenha Crítica | Assumindo a Direção (2014)

Learning to Drive, de Isabel Coixet

Você é um bom homem. Você é minha fé.

Mesmo com dois anos de atraso, a comédia dramática “Assumindo a Direção” chegou a Brasil em homevideo em um momento perfeito para se unir a um nicho de produções independentes que colocam em evidência alguns dilemas enfrentados por mulheres que atravessam a terceira idade com alguma amargura. Os resultados têm sido para lá de agradáveis, especialmente pelo prazer em ver grandes atrizes veteranas em uma rara posição de protagonistas.

Interpretada pela sempre notável Patricia Clarkson, Wendy é uma crítica literária de Manhattan que vê a sua estabilidade ruir com o desinteresse de seu marido Ted (Jake Weber) em prosseguir com um casamento que dura há anos. Sua única filha Tasha (Grace Gummer) está com a vida feita e não há nada de especial em seu espaçoso apartamento para aplacar a solidão que se manifesta.

De alguma maneira, Wendy acredita que o fato de não saber dirigir e o desejo de finalmente obter uma carta se tornarão uma saída terapêutica para colocar as coisas em perspectiva, logo solicitando os serviços de Darwan (Ben Kingsley), indiano que atua como instrutor durante o dia e como taxista à noite. Trata-se também de um personagem importante para o roteiro de Sarah Kernochan, tendo o seu drama de permanência em uma terra estranha e o casamento arranjado com Jasleen (Sarita Choudhury, maravilhosa) os contornos necessários para ir de encontro com o temperamento de Wendy.

Há anos em desenvolvimento, “Assumindo a Direção” só ganhou vida quando a sugestão de Patricia Clarkson e Ben Kingsley em convidar Isabel Coixet para o longa foi devidamente aceita. A presença da realizadora catalã, com quem a dupla de intérpretes trabalhou em “Fatal”, faz toda a diferença, pois Coixet é daquelas autoras que transformam em ouro o mais singelo dos gestos e interações.

Muito mais do que a condução de um veículo como uma metáfora óbvia para o modo como Wendy e Darwan dirigem as suas vidas, Coixet prefere priorizar o choque cultural entre duas pessoas que pertencem a realidades totalmente diferentes e o quanto isso as completam. É um relacionamento muito mais rico do que o amoroso, com um homem e uma mulher encontrando novas possibilidades a partir da sabedoria e respeito que compartilham entre si.

Resenha Crítica | O Convite (2015)

The Invitation, de Karyn Kusama

Gravado há três meses, o nosso comentário sobre o suspense “O Convite” finalmente pode ser conferido no YouTube, em uma tentativa de reviver o nosso canal recém-criado. Trata-se de uma investida da cineasta Karyn Kusama em voltar às raízes autorais após duas tentativas frustradas em Hollywood com “Æon Flux” e “Garota Infernal“. O resultado não é só melhor do que o esperado, como causa um belo frio na espinha.

Em uma trama concentrada em uma bela casa de Los Angeles, Kusama assume se inspirar na versão de Philip Kaufman de “Invasores de Corpos” para centrar as suas atenções em um protagonista confuso não somente pelos traumas que carrega, como também com as máscaras que cercam um jantar com direcionamentos cada vez mais perigosos. É aquele tipo de produção que está dando novos ares a um gênero, mas que você lamentavelmente não terá a chance de ver no cinema: “O Convite” foi adicionado ao catálogo da Netflix sem uma passagem pela tela grande. Mas é como gostamos de defender: não são as dimensões que reduzirão a experiência de reconhecer um verdadeiro filmão.