Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan
Faz-tudo em três condomínios, Lee Chandler (Casey Affleck) pode ser muito justo na franqueza de suas palavras com os inquilinos por vezes insaciáveis. Porém, nas primeiras cenas de “Manchester à Beira-Mar” se nota que há um peso incalculável sobre os ombros desse homem de 30 e poucos anos de olhar cabisbaixo e que busca controlar a sua agressividade interior na embriaguez e em brigas aleatórias em bares.
À primeira vista, a razão para a sua melancolia parece se justificar somente com o aviso já aguardado da morte de seu irmão mais velho, Joe Chandler (Kyle Chandler), vítima de uma doença degenerativa. Porém, a perda familiar que o obriga a voltar à Manchester desencadeia uma série de circunstâncias de seu passado que o faz inclusive encarar com indignação o pedido deixado por Joe para que seja o tutor de seu filho único, o adolescente Patrick (Lucas Hedges, filho de Peter Hedges, diretor de “Do Jeito que Ela É”).
Diretor e roteirista, Kenneth Lonergan costura “Manchester à Beira-Mar” a partir do regresso temido por Lee com fragmentos, trazendo à toa a sucessão de acontecimentos que o transformaram em um indivíduo amargo e estagnado na vida. Retalhos que dão forma a uma consequência inesperada e dolorosa, buscando ressinificar comportamentos que se dão quando sentimentos não verbalizados adequadamente.
De algum modo, “Manchester à Beira-Mar” tem mais sintonia do que o esperado com “Margaret”, o tumultuado drama rodado anteriormente por Lonergan que conseguiu ganhar a luz do dia com poucos arranhos após ficar perdido durante anos na ilha de edição. Em comum com Lisa Cohen (Anna Paquin), a protagonista de “Margaret”, Lee tem justamente essa dificuldade em processar a perda, desacreditando que amadureceu para lidar com grandes responsabilidades.
Porém, ao contrário de “Margaret” e todos os seus momentos exemplarmente concebidos, há em “Manchester à Beira-Mar” um alcance de méritos que parecem partir mais da junção de fatores secundários. Não são muitos os instantes em que Lonergan expressa uma angústia com recursos visuais e textuais, ainda que o cenário central carregue todas as tonalidades frias para isso.
Por um lado, a música de Lesley Barber escolhe tons operísticos para conferir um senso de tragédia que as imagens de Lonergan não conseguem corresponder. Por outro, essas mesmas imagens só ganham impulso porque a montagem de Jennifer Lame consegue encontrar a combinação entre passado e presente para que resultem densas. De qualquer modo, não é só de ausência de méritos que consiste os esforços de Lonergan, que encontrou um elenco acima da média para representar do modo mais crível possível o buraco emocional que nunca se preenche em sua totalidade.
