Melhores de 2016: Montagem

A cineasta Laurie Anderson provavelmente pensou em “Coração de Cachorro” respeitando uma estrutura tão desordenada quanto a da própria existência humana, repleta de devaneios sobre o passado, o presente e o futuro mesmo nas mais plana de sua etapa. O que exerce é um trabalho experimental, em que sua narração confere leveza a imagens das mais diversas naturezas. Daí a importância da colaboração de Katherine Nolfi e Melody London, auxiliando Laurie a organizar com coerência as suas confissões da vida privada. O resultado é de uma delicadeza sem igual e com um apelo universal.

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OUTROS DESTAQUES:
A Garota de FogoDecisão de Risco • Meu Rei • Spotlight: Segredos Revelados

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Em 2015: Livre
Em 2014:
 O Grande Hotel Budapeste
Em 2013: 
A Hora Mais Escura
Em 2012:
Precisamos Falar Sobre o Kevin
Em 2011:
Incêndios
Em 2010: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
Em 2009:
Bastardos Inglórios
Em 2008: Desejo e Reparação
Em 2007:  Babel

Melhores de 2016: Som

Muitos podem associar o confinamento como a limitação de possibilidades para uma ideia. No fazer cinematográfico, o enclausuramento em um espaço atinge, na maioria das vezes, um resultado extremamente oposto. Espécie de spin off do fraco “Cloverfield: Monstro”, “Rua Cloverfield, 10” fez muito bem em se apropriar somente da força do filme de Matt Reeves como “marca”, apresentando uma história paralela muito mais efetiva. O resultado é daqueles que nos deixa na ponta da poltrona a todo o momento e muito disso se dá graças ao poder de sugestão provocado por uma sonoridade que a todo o instante nos faz dar formas imaginárias a uma ameaça externa que pode ou não existir.

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OUTROS DESTAQUES:
Capitão América: Guerra CivilInvocação do Mal 2O Homem nas TrevasO Regresso

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Em 2015: Whiplash: Em Busca da Perfeição
Em 2014: 
Sob a Pele
Em 2013: 
Gravidade
Em 2012:
Prometheus
Em 2011:
Sucker Punch – Mundo Surreal
Em 2010: 
Guerra ao Terror
Em 2009: Avatar
Em 2008: [REC]
Em 2007: Possuídos

Resenha Crítica | Mistério na Costa Chanel (2016)

Ma Loute, de Bruno Dumont

Há 20 anos em atividade, Bruno Dumont sempre pareceu interessado em estudar a natureza humana a partir da fé defendida com fervor por seus personagens. Foi assim desde a sua estreia com uma leitura contemporânea e marginalizada sobre o cristianismo em “A Vida de Jesus” até “Camille Claudel 1915”, em que vemos a personagem-título enclausurada em um hospício aguardando pelo reencontro com Paul, o seu irmão fundamentalista.

O que Dumont nunca negou foi o seu desejo de que as suas obras obtivessem um amplo alcance, patamar atingido somente em 2014 com “O Pequeno Quinquin”, excelente minissérie dividida em quatro capítulos e posteriormente lançada nos cinemas que atingiu milhares de espectadores quando exibida no canal francês Arte. O mergulho sobre a face obscura do ser humano continuou em pauta, mas dentro de uma roupagem mais acessível e banhada pelo humor negro.

Com tudo isso, chegamos a “Mistério na Costa Chanel”, produção que disputou a Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado muito mais coerente com “O Pequeno Quinquin” do que com qualquer outro título da filmografia de Dumont. Por sinal, a impressão que se tem é a de que o realizar promove uma espécie de segunda temporada de “Quinquin”, partindo de uma história inédita com novos personagens.

Ambientada no verão de 1910, a trama tem como protagonista Ma Loute Brufort (o estreante Brandon Lavieville), que vive com a sua família na ponta menos favorecida da Costa Chanel, trabalhando de carregar turistas para fazer travessias em um rio. Ma Loute é uma das primeiras pessoas abordadas por Machin (Didier Després) e Malfoy (Cyril Rigaux), detetives que estão investigando o desaparecimento expressivo de pessoas que estariam passando férias no local.

Já na ponta mais privilegiada do cartão-postal, temos o casal André e Isabelle Peteghem (Fabrice Luchini e Valeria Bruni Tedeschi), pais de Blanche (Manon Royère) e Gaby (Lauréna Thellier). André aguarda pela vinda de sua irmã Aude (Juliette Binoche), mãe de Billie (Raph), que vem se apresentando a todos com outro gênero. Já Isabelle deve reencontrar o seu irmão Christian (Jean-Luc Vincent). Os Brufort e os Peteghem começam a criar um elo a partir do envolvimento em segredo de Ma Loute com Billie.

As coisas começam a ficar macabras em “Mistério na Costa Chanel” quando Dumont lança elementos estranhos para a evolução da narrativa, bem como a ampliação do tom dos personagens. O que aparenta ser uma mera trama detetivesca logo envolve canibalismo, romances não correspondidos e toques de realismo fantástico. Já as figuras humanas que construiu mais parecem saídas de um cartoon – Machin se move como se fosse um balão inflável, enquanto André porta uma corcunda para lá de exagerada e Aude se entrega a uma histeria em sua última voltagem, uma cortesia do desempenho delicioso de Binoche.

O senão de “Mistério na Costa Chanel” é que ele proporciona uma experiência incômoda justamente por ser difícil de compreender as intenções por trás de tantos aspectos desajustados. A sensação ao final é a de que todas as engrenagens trabalham para somente sugerir uma espécie de abismo social que há entre os núcleos centrais, caracterizando as posturas primitivas e instáveis. Nada que comprometa necessariamente as risadas por vezes doentias que Dumont consegue extrair com o seu humor extremamente peculiar.