Melhores de 2016: Documentário

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Ainda que o documentário seja exclusivamente sobre as experiências dramáticas de Laurie Anderson ao longo de sua própria vida, não se pode caracterizá-lo como uma cinebiografia. A diretora rejeita uma linha do tempo linear e dá um novo sentido aos fragmentos de sua memória, sempre testando o potencial de uma linguagem que não se relaciona desde o curta-metragem de 2005 “Hidden Inside Mountains”.

Desenhos em movimento, justaposições, registros captados pelos mais variados suportes e uma narração terna formam um panorama reflexivo universal a partir da ideologia budista de Anderson para aplacar a tristeza de uma existência que segue testemunhando vários finais ao seu redor. Uma tristeza que Anderson não autoriza que a consuma até a vinda de seu próprio fim.

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OUTROS DESTAQUES:
De Palma • Espaço Além: Marina Abramovic e o Brasil • São Paulo em Hi-Fi • Um Caso de Família

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Em 2015: Amy
Em 2014:
 Blackfish – Fúria Animal
Em 2013: 
Marina Abramovic: Artista Presente
Em 2012:
A Vida em Um Dia
Em 2009:
Loki – Arnaldo Baptista

Melhores de 2016: Roteiro Original

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A faxineira do hotel o ajudou. Ele não conseguia entender por quê. Então, ele decidiu transformá-la num animal. Perguntei muitas vezes em que animal ele a transformou, mas sempre respondia o mesmo: “Não é da sua conta.” Naquela noite, ele saiu do hotel, de uma vez por todas. E começou a correm sem saber para onde ia. Mas ele corria em nossa direção. Esse foi o começo de sua nova vida. Na época, ele não sabia como dói ficar sozinho, como dói não conseguir passar gel analgésico nas costas e estar sempre com dor.

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OUTROS DESTAQUES:
A Garota de Fogo • Decisão de RiscoSpotlight: Segredos ReveladosTangerine

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Em 2015: Mistress America
Em 2014: 
Nebraska
Em 2013:
A Hora Mais Escura
Em 2012:
A Outra Terra
Em 2011: Melancolia
Em 2010: Minhas Mães e Meu Pai
Em 2009: Tudo Azul
Em 2008: Um Plano Brilhante
Em 2007:  Babel

Melhores de 2016: Roteiro Adaptado

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– Parabenize-me, querida. Os tios de Frederica a levaram de volta a Churchill.
– Achei que estava gostando da companhia de Frederica.
– Comparativamente, um pouco. Mas não quero me chafurdar na companhia de uma criança.
– Temo que este seja nosso último encontro. Pelo menos enquanto o Sr. Johnson estiver vivo. Os negócios dele em Hartford estão extensos. Se eu continuar a vê-la, ele jurou que iria para Connecticut.
– Você poderia ser escalpelada! Eu sentia que a palavra “respeitável” um dia nos separaria. Eu abomino seu marido, mas devemos ceder à necessidade. Nosso afeto não pode ser afetado por isso. Em tempos mais felizes, quando você for independente como eu, nos uniremos novamente. Por isto esperarei impacientemente.
– Eu também.
– Que o próximo ataque de gota do Sr. Johnson termine mais favoravelmente!

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OUTROS DESTAQUES:
Desafiando a Arte • ElleO Quarto de Jack • O Silêncio do Céu

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Em 2015: A Pele de Vênus
Em 2014: 
Philomena
Em 2013:
Antes da Meia-Noite
Em 2012:
A Delicadeza do Amor
Em 2011: Incêndios
Em 2010: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres
Em 2009: Dúvida
Em 2008: Desejo e Reparação
Em 2007: Possuídos

Melhores de 2016: Figurino

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Como afirmado em na Melhor Maquiagem de 2016, é uma pena que os contornos um tanto sombrios em “A Vingança Está na Moda” fizeram com que muitos se mantivessem cegos quanto às virtudes inquestionáveis da realização. A mais exemplar delas é sem dúvida o guarda-roupa criado por Margot Wilson e Marion Boyce, injustamente esquecido no Oscar de Melhor Figurino deste ano. Não poderia se esperar algo diferente em um filme cuja premissa exalta uma costureira que usa a sofisticação de sua aparência para ludibriar uma comunidade com a qual tem contas a acertar. O fato de Kate Winslet ser velha demais para o papel acaba se transformando em mero detalhe justamente pela autoridade com a qual ela encarna uma mulher ressentida e vingativa, com a própria Margot Wilson encarregada de construir cada uma das peças de cores vibrantes com a qual ela se camufla.

 

OUTROS DESTAQUES:
A Garota DinamarquesaAmor & Amizade • Carol • Ninguém Deseja a Noite

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Em 2015: A Colina Escarlate
Em 2014: 
Yves Saint Laurent
Em 2013:
O Grande Gatsby
Em 2012:
Espelho, Espelho Meu
Em 2011:
Potiche – Esposa Troféu
Em 2010: Alice no País das Maravilhas
Em 2009: Os Delírios de Consumo de Becky Bloom
Em 2008: Sex and the City – O Filme
Em 2007: Hairspray – Em Busca da Fama

Melhores de 2016: Efeitos Visuais

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Se há um ponto a ser exaltado em “Caça-Fantasmas” além da reformulação de personagens é um viés artístico que se testemunha a partir do uso dos efeitos visuais. Existe um risco em pincelar digitalmente um frame com a mistura de cores primárias (alguém lembra de “Speed Racer”?), mas o supervisor dessa categoria técnica, Peter G. Travers,  eleva a estética pretendida a um nível que deve ser apreciado no melhor cinema que tem o filme em exibição. Uma pena que a impopularidade tenha falado mais alto, pois os envolvidos mereciam repetir a dose com uma sequência.

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OUTROS DESTAQUES:
Alice Através do Espelho • Capitão América: Guerra Civil • Doutor Estranho • O Regresso

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Em 2015: Ex-Machina: Instinto Artificial
Em 2014: 
Planeta dos Macacos: O Confronto
Em 2013:
Gravidade
Em 2012:
As Aventuras de Pi
Em 2011: Planeta dos Macacos – A Origem
Em 2010: Alice no País das Maravilhas
Em 2009: Avatar
Em 2008: As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian
Em 2007:  A Bússola de Ouro

Melhores de 2016: Fotografia

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Exibidos em competição no Festival de Cannes em 1998, “Festa de Família” e “Os Idiotas” surgiram não somente como uma proposta de vanguarda com o Dogma 95, mas também como um marco que revolucionaria o cinema: a transição do analógico para o digital. Hoje, viabilizar uma produção em película tem se tornado uma realidade cada vez mais distante e as próprias salas de cinema já se modernizaram com as exibições digitais.

Pode-se dizer que “Tangerine” marca um novo passo adiante: até onde se tem registro, é o primeiro longa-metragem totalmente captado em iPhone. Há quem possa estranhar a princípio o movimento constante das imagens captadas com extrema liberdade por Radium Cheung e Sean Baker, mais logo as cores vivas do submundo de Los Angeles passam a se comunicar totalmente com a jornada de 24 horas enfrentada pelas amigas Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) e Alexandra (Mya Taylor). Muito mais do que uma comédia com tons dramáticos que presta um serviço imenso em tempos em que a diversidade é a palavra de ordem, “Tangerine” é também uma prova de que a linguagem cinematográfica nunca se esgotará em possibilidades.

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OUTROS DESTAQUES:
A BruxaCarol • Ninguém Deseja a Noite • O Regresso

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Em 2015: Sicario: Terra de Ninguém
Em 2014: 
O Grande Hotel Budapeste
Em 2013:
Branca de Neve
Em 2012:
Precisamos Falar Sobre o Kevin
Em 2011: Melancolia
Em 2010:
Direito de Amar
Em 2009: Anticristo
Em 2008: Sem Medo de Morrer
Em 2007: Babel

Melhores de 2016: Maquiagem

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Que os americanos não digeriram muito bem os rumos por vezes ousados de “A Vingança Está na Moda” não é nenhuma surpresa. No entanto, é uma pena que essa produção australiana, que marca o retorno de Jocelyn Moorhouse à direção após 18 anos afastada do ofício, teve as suas virtudes indiscutíveis esquecidas na última award season. Uma delas é a maquiagem a cargo de Ivana Primorac e Shane Thomas, ambas com indicações ao Bafta, mas nunca lembradas no Oscar. A princípio, é Judy Davis a intérprete a sofrer a maior transformação aqui, mas logo os nossos olhos passam a testemunhar a galeria de tipos bizarros que habitam a cidadezinha na qual a protagonista de Kate Winslet regressa, uma atenção redobrada que investimos justamente em aparências por vezes escondidas com máscaras.

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OUTROS DESTAQUES:
Alice Através do Espelho • Ninguém Deseja a Noite • O Regresso • Rastro de Maldade

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Em 2015: Mad Mad: Estrada da Fúria
Em 2014:
 O Grande Hotel Budapeste
Em 2013:
Hitchcock
Em 2012:
O Hobbit – Uma Jornada Inesperada
Em 2011: A Minha Versão do Amor
Em 2010:
O Lobisomem
Em 2009: O Curioso Caso de Benjamin Button
Em 2008: As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian
Em 2007:  Apocalypto

Melhores de 2016: Direção de Arte

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Assistir a “Carol” é como ver inúmeras pinturas em movimento de Edward Hopper, referência evidente no resultado obtido por seu realizador Todd Haynes. Ambientado nos anos 1950, a relação entre Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara) ganha tintas ainda mais dramáticas por uma atenção especial pelos ambientes em que transitam, tão importantes para servirem de palco para uma cumplicidade de sentimentos desenhados com discrição. Assinada por Heather Loeffler e Judy Becker, a cenografia age em “Carol” não somente como a recuperação de uma época, mas também de toda a repressão amorosa tão característica dela.

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OUTROS DESTAQUES:
A BruxaA Garota DinamarquesaCafé SocietyInvocação do Mal 2

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Em 2015: Expresso do Amanhã
Em 2014: 
O Grande Hotel Budapeste
Em 2013: 
Branca de Neve
Em 2012:
O Artista
Em 2011:
Alexandria
Em 2010: Alice no País das Maravilhas
Em 2009: Bastardos Inglórios
Em 2008: Um Plano Brilhante
Em 2007: Harry Potter e a Ordem da Fênix

Resenha Crítica | Personal Shopper (2016)

Personal Shopper, de Olivier Assayas

Mesmo com uma carreira que já dura há mais de 30 anos, o realizador francês Olivier Assayas parece ter se permitido a renovar sutilmente as suas pautas ao encontrar na jovem Kristen Stewart uma nova musa inspiradora. Além de ter se revelado uma grata surpresa em um papel secundário em “Acima das Nuvens”, pelo qual inclusive se tornou a primeira atriz americana a ganhar um César, Stewart é agora o centro de “Personal Shopper”, um drama sobrenatural estranho na filmografia de Assayas.

Maureen Cartwright (Stewart) é uma americana que se mantém em Paris trabalhando como personal shopper, como são chamadas as assistentes de compras de celebridades sem muito tempo ou disposição para experimentar o guarda-roupa que vestirá em um evento de gala. É uma função com a qual executa a contragosto, especialmente após a morte recente de Lewis, o seu irmão gêmeo.

Porém, outro dado muito importante sobre Maureen é o seu dom como sensitiva, sendo convocada para identificar na mansão que um casal deseja habitar se há algum espírito rondando os cômodos. É uma responsabilidade que lida sem conhecer a teoria sobre se comunicar com espíritos, mas a qual se encarrega como oportunidade de cumprir uma promessa de reconexão fora do plano material com Lewis.

A vitória de Olivier Assayas no Festival de Cannes em 2016 na categoria de Melhor Diretor (prêmio que dividiu com Cristian Mungiu por “Graduação”) pode soar exagerada, mas não há dúvidas de que cumpre excepcionalmente com a proposta de ofertar uma experiência pouco usual em algo que é possível categorizar informalmente como uma história de terror. Não somente ectoplasmas assombram as visões de Maureen, como também um stalker que lhe envia mensagens no celular que pode muito bem ser Lewis, induzindo a uma conversação instantânea conduzida com interesse por Assayas e que toma todo o segundo ato de seu filme.

Outra decisão que enriquece o seu mistério é uma consequência física que insere quando se deduz que respostas começarão a ser apresentadas, nebulando as certezas tanto da protagonista quanto a nossa. A lamentar somente o apego obsessivo justamente por esta busca por uma verdade que possa anular todas as demais, vinda com uma conclusão que dignificaria “Personal Shooper” muito mais caso tivesse cinco segundos a menos.