Resenha Crítica | A Sombra da Árvore (2017)

Undir trénu, de Hafsteinn Gunnar Sigurðsson

.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Do pequeno recorte apresentado no Brasil tanto em festivais quanto no circuito comercial, dá para deduzir que os islandeses não têm qualquer pudor em exibir na ficção as suas imperfeições, marcadas por falhas de caráter na formação da própria identidade e mesmo quando maduros solitários ou com famílias constituídas. Como no melhor dessa cinematografia tão particular, “A Sombra da Árvore” nos leva a essa avaliação no curso da narrativa de modo desconcertante.

O prólogo é por si só envolve uma situação embaraçosa, na qual o protagonista Atli (Steinþór Hróar Steinþórsson) é flagrado pela própria esposa, Agnes (Lára Jóhanna Jónsdóttir), se masturbando com um vídeo caseiro em que transa com a sua ex-namorada Rakel (Dóra Jóhannsdóttir). De imediato, é chutado do apartamento que divide com ela e a filha Asa (Sigrídur Sigurpálsdóttir Scheving), forçando-o a viver novamente com os pais, Inga (Edda Björgvinsdóttir) e Baldvin (Sigurður Sigurjónsson).

É esse casal na amargura da terceira idade que aos poucos vai assumindo um papel cada vez mais central no roteiro de “A Sombra da Árvore”, evidenciando interesse de seu realizador Hafsteinn Gunnar Sigurðsson em comprovar que a nossa natureza selvagem é despertada diante de um leve desentendimento ou de um vacilo que condena toda uma relação construída.

Se Atli pena para reassumir os papéis de marido e pai, Inga e Baldvin vão se envolvendo em um imbróglio iniciado com a queixa de seus vizinhos, Eybjorg (Selma Björnsdóttir) e Konrad (Þorsteinn Bachmann), quanto a uma árvore que estaria impedindo a passagem de luz natural no quintal deles. De uma troca de palavras nada cordiais, a coisa vai se transformando em uma disputa, com um casal invadindo o espaço do outro, seja com a surpresa de ter todos os pneus de um carro furados, seja com o aparecimento de anões de jardim em poses indiscretas.

Porém, ao invés de assumir um tom dramático, “A Sombra da Árvore” vai paulatinamente virando uma comédia de humor negro, convidando o público a rir de crueldades uns contra os outros de desafiar a nossa consciência. Pois nada melhor do que um filme provocador para propor uma discussão sobre o apego excessivo que temos por nossas convicções.

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