Construindo Pontes, de Heloísa Passos
.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Mais do que nunca, há hoje uma divergência de ideologias que separa uma geração de jovens e adultos, pais e filhos. Isso se dá com o fim de certas convenções determinadas com a virada do último século, libertando das correntes pautas como o feminismo e os direitos da comunidade LGBT, somente para citar alguns exemplos.
O documentário “Construindo Pontes” confirma outro tema discutido com muito calor em nossa contemporaneidade: a política. Possivelmente um sintoma da propagação das redes sociais, assegurando a todos um palanque virtual para expor as suas convicções quanto aos poderes que regem a sociedade.
No entanto, o registo de Heloísa Passos foca um conflito de opiniões e defesas de longa data, em que uma ruptura entre ela e seu pai Alvaro se deu quando a ditadura militar se dissolvia no país. Um rompimento não exatamente de relação familiar, mas de que seria impossível um convívio pacífico entre duas pessoas com pensamentos que se confrontam.
Trata-se, portanto, de um documentário bem particular, à moda “Os Dias com Ele”, embora aqui não haja um pai com sequelas dos tempos de chumbo, mas, assim como outros de sua época, um tanto coniventes com a ordem estabelecida por militares. São memórias revividas em projeções de Super 8, em que imagens de usinas hidrelétricas confirmam um passado de glória de Alvaro como arquiteto.
Diretora de fotografia com vasto repertório, Heloísa Passos busca na linguagem documental uma reconciliação com intenções ficcionais, especialmente em um terceiro ato em que caça o plano perfeito. É uma história que termina sem fim – com Heloísa incompreendendo com fúria um Alvaro com perspectiva diferente quanto ao que aconteceu e acontece no Brasil. Ainda assim, não deixa de apontar para um rumo de tolerância, possível quando se constata que os anseios são os mesmos, ainda que seguindo por lados opostos.
