A Moça do Calendário, de Helena Ignez
.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Helena Ignez de fato se ocupou da responsabilidade de preservar o legado de seu marido Rogério Sganzerla, o maior cineasta do dito cinema de invenção. Não somente fez uma sequência tardia para “O Bandido da Luz Vermelha” em 2010 com “Luz nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha”, como seguiu preservando os seus ideais em “Ralé”.
“A Moça do Calendário” segue reverenciando Sganzerla, com um roteiro cujo argumento foi originalmente concebido por ele, mas a voz de Ignez ressoa mais forte aqui. Há até certo empoderamento em suas personagens femininas, que aqui não são apenas fetichizadas, como a personagem-título vivida pela filha de Ignez e Sganzerla, Djin.
Inácio (interpretado pelo carismático André Guerreiro Lopes) vive com um pé fora da realidade enquanto se conforma com a profissão de mecânico enquanto insiste no desejo de uma carreira artística, mesmo ciente de que a idade talvez tenha passado para persegui-lo. Ou mesmo a crise de emprego que atualmente assola o país.
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Com um pé no humor, Ignez ainda conduz uma trama simples que respira liberdade principalmente por seu encanto pelos pontos mais periféricos de São Paulo, livrando “A Moça do Calendário” da claustrofobia dos cenários e locações que costuma artificializar a nossa cinematografia. A isso, também se integra a bela fotografia de Tiago Pastoreli e a uma possibilidade de encontrar alguma perspectiva positiva mesmo diante dos fracassos em que Inácio tropeçará inúmeras vezes.
