Mobile Homes, de Vladimir de Fontenay
.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Uma imagem que sempre provocou estranheza, quando não um efeito cômico, apresentada com certo costume na produção internacional falada em inglês é da residência completa em uma caminhão de transporte, quase uma casa de bonecas em tamanho gigante. Pois como bem antecipa o título em inglês deste segundo longa-metragem do francês Vladimir de Fontenay (o primeiro em direção solo), adentraremos aqui um pouco nesse universo dos lares manufaturados.
Ali (Imogen Poots) e Evan (Callum Turner) formam um casal sem nenhuma base que vive o dia presente tentando garantir que no seguinte tenha um teto para dormir ou um restaurante à beira de estrada para comer e fugir sem pagar. Nem o fato de existir um filho, Bone (Frank Oulton), força a busca por um mínimo de estabilidade. Porém, o choque de realidade bate quando um acidente acontece, com Ali precisando fazer as coisas por conta própria.
O envolvimento de Ali com Robert (Callum Keith Rennie), boa-praça que atua em uma empresa de casas modulares, vai evidenciando a metáfora óbvia do roteiro. Trata-se dessa dificuldade de enraizamento, de viajar quase à deriva sem estabelecer conexões emocionais com as pessoas e os locais que habitam.
Mesmo com talento estético perceptível, principalmente pela melancolia que extrai das paisagens mortas canadenses, Fontenay parece depositar em Imogen Poots o fardo de ser a única emissora de uma emoção verdadeiramente genuína. É o que assegura o interesse por “Mobile Homes”, pois a atriz inglesa é daquelas de uma beleza singular que comunica um universo de possibilidades em sua face, fazendo com que sejamos cúmplices de sua Ali mesmo em suas medidas mais inconsequentes.
