Resenha Crítica | Daphne (2017)

Daphne, de Peter Mackie Burns

Daphne (Emily Beecham, uma das protagonistas da série “Into the Badlands”) não está necessariamente vivendo aquela famosa crise dos 30 anos que tem sido retratada com cada vez mais frequência na ficção. É independente, tem as contas pagas e não precisa ter por perto algum familiar para algum tipo de suporte emocional ou financeiro. Mesmo assim, parece viver aquela desilusão que bate na fase adulta em que as coisas parecem estagnadas.

Após quarto curtas-metragens e um documentário, o cineasta britânico Peter Mackie Burns debuta na direção de longa lançando essa curiosidade por uma geração longe dos vícios frequentes na ficção. Isso acontece porque Daphne definitivamente não é uma figura que irá implorar por uma empatia imediata do público, sendo inclusive excessivamente fria com aqueles que a cercam ou que se interessam por ela.

Além de sarcástica com as amigas, ela evita laços muito estreitos com Joe (Tom Vaughan-Lawlor) e outros colegas de trabalho, claramente se afasta de sua mãe Rita (Geraldine James) talvez por não tolerar o sofrimento esperado dos primeiros estágios de um câncer e se permite a ter apenas encontros casuais com os homens. Daphne claramente está incômoda com a pessoa que se tornou e dois acontecimentos irão fazê-la colocar as coisas em perspectiva.

O primeiro vem a ser um ataque em um mercado, no qual o balconista imigrante Benny (Amra Mallassi) é esfaqueado por um assaltante em um momento no qual Daphne é a única cliente. O segundo é a abordagem de um segurança, David (Nathaniel Martello-White), que inicialmente a barrou de permanecer em uma balada e que agora ressurge com o interesse em conhecê-la.

O mais notável nesse pequeno filme é como o seu diretor, ancorado pelo roteiro de Nico Mensinga, encontra na encenação do banal aquela veracidade que nos faz estabelecer um vínculo com uma mulher que não compreende se o seu desprendimento com as pessoas é sintoma da perda de sua humanidade. O fato de “Daphne” não estabelecer uma conclusão que ao menos rascunhe passos efetivos para uma transformação, entretanto, não dissipa o interesse por uma protagonista de evidente magnetismo.

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