Resenha Crítica | A Cidade do Futuro (2016)

A Cidade do Futuro, de Cláudio Marques e Marília Hughes

Parceiros no cinema e na vida real, o casal Cláudio Marques e Marília Hughes somava sete curtas-metragens produzidos antes de debutar no formato de longa-metragem com “Depois da Chuva”, drama inspirado pela juventude que testemunhou o fim da ditadura militar que manteve em seu lançamento em circuito comercial os bons elogios obtidos em sua première no Festival de Brasília em 2013. Chegando com dois anos de atraso após passagem por inúmeros festivais, “A Cidade do Futuro” soava como um passo seguinte muito promissor.

Em um jovem século que vem problematizando a eficiência dos relacionamentos tradicionais para abrir portas para novas possibilidades de amor (termos como relacionamento aberto e poliamor têm sido recorrentes no vocabulário da atual geração), seduz a proposta de Marques e Hughes em expôr algumas das consequências de quem está disposto a abrir mão das convenções nos pequenos municípios regidos por valores antiquados. No caso de “A Cidade do Futuro”, é Serra do Ramalho o cenário principal.

O município baiano com um pouco mais de 30 mil habitantes abriga o trio protagonista da história: Gilmar (Gilmar Araújo), Igor (Igor Santos) e Mila (Mila Suzarte). Gilmar e Igor sustentam em becos um namoro que, mesmo secreto, já conta com algumas testemunhas indesejáveis. O que era só observado passa a ser verbalizado pelas pessoas ao redor quando Mila, que teve relações sexuais com Gilmar, anuncia estar grávida.

Professor, Gilmar começa a ouvir comentários de alunos. Também professora e sem rumo quanto a sua situação, Mila, como seria com qualquer outra mulher em nosso país machista, é o alvo fácil dos insultos. Já Igor, vaqueiro que passa a se virar com um sem número de bicos, é quem sofre as ameaças físicas de homofóbicos que o perseguem.

O bom argumento, entretanto, está longe de resultar em um filme sequer razoável. Breve em sua duração, “A Cidade do Futuro” está interessado apenas em diagnosticar as tensões que povoam um ambiente extremamente conservador e como os jovens às vezes tentam não se tornar reprises de seus pais e avós. A questão é que não há qualquer pico dramático, consequência da escolha por um elenco de não-profissionais.

Está cada vez mais comum em nossa cinematografia a atração por enveredar por tal opção, tanto para conceber híbridos entre ficção e documentário quanto para buscar por uma verdade pretendida por um elenco não contaminado por técnicas de interpretação. Aqui, Gilmar, Igor e Mila arruínam “A Cidade do Futuro”, com desempenhos engessados que não mostram qualquer entrosamento com a câmera, com quem contracenam, com os espaços que circulam e, principalmente, com os corpos que tocam.

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