Chega de Fiu Fiu, de Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão
Concebida há quase cinco anos, a campanha Chega de Fiu Fiu veio como uma iniciativa de combate ao assédio sexual em espaços públicos contra as mulheres, que se dá desde o famoso assobio em forma de cantada até avanços mais agressivos. Organização por trás da iniciativa, a Think Olga consegue agora expandi-la para outras plataformas, com um documentário viabilizado por financiamento coletivo aberto no Catarse.
Embora a jornalista Juliana de Faria, a principal idealizadora da campanha, seja uma presença importante para a coleta de depoimentos, as realizadoras Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão optaram por selecionar três figuras femininas para exibir os inúmeros tipos de situações constrangedoras e arriscadas que as mulheres passam a partir de uma abordagem masculina nos ambientes públicos. Os resultados são assombrosos, evidenciando uma cultura enraizada que resiste.
Além de pertencerem a diferentes estados do Brasil, Raquel Braga, Teresa Chaves e Rosa Cruz carregam históricos de vida dispares. Enquanto Raquel é uma negra que vive em uma comunidade humilde, Teresa vive na grande São Paulo e Rosa mata um leão por dia na posição de uma mulher trans no Distrito Federal. O documentário assim exibe que não há modelo feminino que esteja livre do assédio, ainda que essa seja uma questão às vezes secundária no filme com o destaque à Rosa, que geralmente expõe outras problemáticas.
Correto, o documentário contribui para o debate especialmente por duas decisões. A primeira é a de pedir que Raquel, Teresa e Rosa registrem em seus celulares os instantes em que são abordadas por desconhecidos. A segunda é em reunir em uma roda homens que discutem sobre os seus comportamentos em cantadas, trazendo uma falta de compreensão tão grande quanto paquera e consentimento que apenas reafirmam a importância de campanhas como a Chega de Fiu Fiu.
