Querida Mamãe, de Jeremias Moreira Filho
Escrito por Maria Adelaide Amaral, “Querida Mamãe” vem recebendo encarnações nos palcos desde 1994. Na primeira delas, Eva Wilma e Eliane Giardini interpretaram mãe e filha enfrentando crises que arrastaram para o teatro 250 mil espectadores. Mais de 20 anos depois, surge finalmente uma versão para o cinema, agora com Selma Egrei e Letícia Sabatella em um texto levemente readequado para servir ao nosso contexto atual.
Dona de casa, Ruth é uma senhora reservada com os seus discos e tricô. A única companhia que costuma desfrutar é a de sua empregada, Cleusa (Graça Andrade). Vez ou outra, recebe a visita de sua filha Helô, mas o clima é sempre tempestuoso. Fruto de uma relação passada mal resolvida, com Helô acreditando que sempre fora preterida diante da irmã mais nova, Beth (Fernanda Viacava), que agora vive no exterior.
Os laços voltam a ficar estreitos quando Helô começa a dar um basta na vida sem graça em que se vê aprisionada por tantos anos. Além de ser médica, profissão que exige dedicação total à uma escala alternativa de trabalho, ela percebe que o seu casamento com o publicitário Sérgio (Marat Descartes) já deu o que tinha de dar. Por tudo isso, acaba respondendo de imediato às investidas de uma de suas pacientes, a pintora Leda (Cláudia Missura).
A grande virtude do texto segue intacta no filme. Trata-se da redescoberta de uma sexualidade perdida, abafada, que volta a aflorar e a trazer consequências específicas para uma mulher acima dos 40 anos com a família estabelecida. Afinal, como se reapresentar para a mãe, o marido e a filha Priscila (Bruna Carvalho) e ainda ser recepcionada por uma sociedade avessa aos relacionamentos homoafetivos?
Porém, excetuando esse aspecto preservado na adaptação da roteirista Jaqueline Vargas e das interpretações corretas das protagonistas, o realizador Jeremias Moreira Filho não justifica a existência de “Querida Mamãe” como cinema. Responsável tanto pela versão original quanto pelo remake de “O Menino da Porteira”, o veterano mais parece fazer um telefilme global, evidente pelo modo como preenche o plano ou mesmo pelo uso desesperado da trilha sonora de Marcos Levy, que se manifesta a cada cena sem qualquer sutileza como recurso para camuflar cenas dramáticas mal dirigidas.










