Paraíso Perdido, de Monique Gardenberg
Mesmo com as convenções, já se estabeleceu com este jovem século que os relacionamentos amorosos não se comportam mais nas estruturas daquilo que se testemunhou nas gerações passadas. Consequentemente, os modelos de família também sofreram mutação, não atendendo somente aos elos de sangue e heteronormativos.
É certo que esse fenômeno impactou a diretora e roteirista baiana Monique Gardenberg na concepção de “Paraíso Perdido”, filme-mosaico que apresenta certo parentesco com “Exótica”, obra-prima de Atom Egoyan produzida em 1994. Entretanto, aqui a conexão entre personagens não se dá necessariamente por um mistério, mas sim por uma família que se fortalece ao enfrentar as adversidades e ao abrigar os estranhos que adentram o night club que trabalham, justamente batizado como Paraíso Perdido.
Gerente do estabelecimento, José (Erasmo Carlos) é viúvo e pai do cantor Ângelo (Júlio Andrade) e da presidiária Eva (Hermila Guedes), além de avô da drag queen Imã (o jovem cantor e compositor carioca Jaloo, o melhor do elenco), para quem contrata os serviços do policial Odair (Lee Taylor) como segurança particular após sofrer um ataque homofóbico a caminho do Paraíso Perdido. Há outros personagens que vão se juntando a essa ciranda, como o professor de inglês interpretado por Humberto Carrão apaixonado por Imã, a também presidiária de Marjorie Estiano e o motoboy amigo de José feito por Seu Jorge.
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Em seu primeiro longa de ficção desde “Ó Paí, Ó” (2007), Gardenberg volta a inserir a sua história em um universo pautado em muitas circunstâncias por canções. Aqui, alguns de seus personagens geralmente cantam as suas dores de amores a partir de uma seleção totalmente voltada à música romântica brasileira, popularmente categorizadas como brega.
São belos números banhados com aquela luz neon típica, mas que nem sempre ganham correspondência com a história que está sendo contada, funcionando muitas vezes mais como um toque estilístico do que necessariamente complementar. O mais desapontador, no entanto, é forçar um caminho utópico, em que as diferenças se abraçam literalmente em um carrossel. A resolução mesmo só deve convencer os menos céticos dos espectadores.
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+ Entrevista com Jaloo, Lee Taylor e Humberto Carrão
+ Entrevista com Seu Jorge, Julia Konrad e Júlio Andrade
