Em Um Mundo Interior, de Flavio Frederico e Mariana Pamplona
Recentemente, o longa-metragem de ficção “Tudo Que Quero” exibiu de modo agridoce, mas competente, a rotina diariamente seguida por uma autista interpretada por Dakota Fanning. Há também a inclusão do modo particular de como ela se relaciona com as pessoas e as coisas, a exemplo de sua reação de defesa diante de um toque humano.
Quem viu a esse filme de Ben Lewin e desejou saber mais sobre pelo autismo deve ficar ainda mais consciente sobre a vida de indivíduos nessa condição no documentário brasileiro “Em Um Mundo Interior”, realizado por Flavio Frederico e Mariana Pamplona. E a dupla fez um bom trabalho de observação, dando conta de diferentes perspectivas ao acompanhar sete famílias de categorias sociais diferentes situadas em estados diferentes do Brasil.
Aqui, o autismo não é classificado como uma doença, mas sim um modo de estar no mundo. E há maneiras distintas como os personagens o ocupam. Há desde Eric, um rapaz de 18 anos que encontrou no exercício de inúmeras atividades um recurso para ser funcional e que faz até viagens sozinho para fora do país, até Betinho, com 10 anos a todo o momento assistido para não agredir a si mesmo.
Flavio e Mariana buscam se esquivar do didatismo esperado de um documentário com tal tema, tentando incrementar algo além do acompanhamento dessas crianças e adolescentes nos ambientes familiar e escolar e dos depoimentos de especialistas. A saída foi solicitar que cada um deles registrasse cenas do cotidiano com câmeras de fácil manuseio, mas o recurso soa deslocado até mesmo pela baixa adesão de interessados.
Assim, o diferencial é encontrado na contenção do sentimentalismo, buscando não intervir com a música e com as lágrimas de pais por vezes desolados as saídas para conscientizar sobre a necessidade do respeito a uma minoria que se percebe na vida de uma maneira diferente da nossa. E não há nada mais reconfortante do que testemunhar ao final os grandes progressos dessas pessoas ao serem abraçados como são.
