Anna Karenina. Istoriya Vronskogo, de Karen Shakhnazarov
Entre longas, minisséries e até novelas, o IMDb computa mais de 20 adaptações de “Anna Karenina”, romance que se encontra ao lado de “Guerra e Paz” entre mais queridos da autoria do escritor russo Leo Tolstoy. A trágica heroína já foi vivida por atrizes como Greta Garbo (1935), Vivien Leigh (1948), Sophie Marceau (1997) e Keira Knightley (2012), mas nenhuma dessas e outras versões podem ser consideradas como definitiva.
O veterano realizador Karen Shakhnazarov (de “Assassinato do Tzar”, “Palata N°6” e “Tigre Branco”) tem a vantagem sobre os demais diretores de viver e ambientar a sua adaptação na pátria de Tolstoy. Tenta também uma intervenção narrativa curiosa: integrar à história o conto “Notas de um Médico sobre a Guerra Russo-Japonesa”, este escrito por Vikenty Veresaev.
Portanto, há dois períodos narrativos aqui. No primeiro, temos o conde Vronsky (Max Matveev) em plena guerra na Manchúria de 1904. Ferido em combate, ele recebe os cuidados de Sergey Karenin (Kirill Grebenshchikov), que surge com uma motivação bem específica: interrogá-lo sobre as razões que levaram a sua mãe ao suicídio em uma estação de trem.
Como o esperado, o segundo período narrativo entra em curso, onde ficamos sabendo que a tal figura materna foi Anna Karenina (Elizaveta Boyarskaya, que há 14 anos debutou com “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”). Encena-se aí a história já conhecida de cor e salteado, onde Anna se apaixona por Vronsky enquanto ainda era casada com Karenin (Vitaliy Kishchenko).
Pensado também para atender a mídia televisiva em formato de minissérie dividida em oito partes, Shakhnazarov proporciona algo belo de ser apreciado independente das dimensões da tela, mas a sua visão do romance soa burocrática a partir do momento em que consolida o amor entre Anna Karenina e Vronsky. O primeiro pós-sexo, com os amantes auxiliando um a vestir os trajes do outro, tem um nível de envolvimento que vai se dissipando conforme a relação se transforma em amor destrutivo.
Assim, “Anna Karenina: A História de Vronsky” vai enveredando por raízes mais novelescas, fazendo com que Anna Karenina, uma vítima do conservadorismo da sociedade que habita, se revele uma de suas encarnações mais antipáticas que já se viu. Daí vem o peso de uma história que parece se alongar mais do que o necessário, nos fazendo ter o desejo secreto de que Anna encerre logo a sua existência.
