Resenha Crítica | Baronesa + Travessia (2017)

Baronesa, de Juliana Antunes
Travessia, de Safira Moreira

Atuante na direção de segunda unidade de “Arábia“, Juliana Antunes desenvolvia paralelamente um projeto a princípio concebido como um trabalho universitário. Intrigada pelos bairros periféricos de Belo Horizonte serem batizados com nomes femininos, a jovem fez uma imersão de seis meses em um deles após um largo período de pesquisa para acompanhar duas mulheres.

Elas são Andreia e Leid. A primeira está construindo por conta própria um novo lar para morar. A segunda, cuida dos filhos enquanto aguarda que o seu marido presidiário conclua a pena pelo crime que cometeu. Aos poucos, vai se desenhando a relação de ambas com um ambiente hostil, em que as mulheres estão com os seus destinos nas mãos dos homens que as rondam e da violência das quais são autores.

A péssima ideia envolvendo “Baronesa” é a opção por um cinema híbrido, em que a veracidade da vida se mistura com cenas ficcionais. É um vício que anda predominando mais do que deveria a cinematografia brasileira independente, que apresenta uma defesa de protagonismo de uma minoria invisível/marginalizada para ressaltar discursos.

É um trabalho de observação quase desonesto, pois a encenação parece existir porque não se consegue com a espera alguma ocorrência de risco, a exemplo de uma em que se brinca com uma arma. Afora uma conversa de laje que termina em um tiroteio imprevisto aos arredores, “Baronesa” nada de novo apresenta, mesmo com as suas inúmeras possibilidades de narrativas dentro de horas e mais horas de material bruto.

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Entrevista com a diretora de “Baronesa” Juliana Antunes:

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Para complementar a sessão de “Baronesa”, que ao todo tem somente 71 minutos de duração, a distribuidora Vitrine Filmes, dentro do quadro Sessão Vitrine Petrobras, projetará antes o curta-metragem “Travessia”. Também de 2017, aqui a diretora Safira Moreira se apropria do texto “Vozes-Mulheres”, no qual a escritora mineira Conceição Evaristo narra as suas gerações passadas e posteriores e como a condição do negro foi se modificando de um regime de escravidão para uma perspectiva de liberdade futura. A leitura de Inaê Moreira é o que vale em uma realização desprovida de virtudes.

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