Resenha Crítica | Custódia (2017)

Jusqu’à la garde, de Xavier Legrand

.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

.:: Festival Varilux de Cinema Francês 2018 ::.

Produzido em 2013, “Avant que de tout perdre” exibia a desestruturação de uma família, na qual uma mulher e seus dois filhos temiam as ações impulsivas do marido e pai. No ano seguinte, essa história recebeu uma indicação ao Oscar e a vitória no César na categoria de Melhor Curta-Metragem de Ficção.

Agora, o diretor e roteirista Xavier Legrand, que outrora tentou seguir a carreira de ator sem sucesso, retoma a situação e os seus dois protagonistas, Léa Drucker e Denis Ménochet, para encorpar o argumento em “Custódia”. A aclamação se repetiu, desta vez com duas vitórias importantes no último Festival de Veneza (inclusive na categoria de Melhor Direção) e o prêmio da crítica na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, nesta considerado por muitos espectadores como o filme de terror da sua 41ª edição.

Em tempos em que o abuso contra a mulher tem sido uma pauta central de discussão na sociedade, “Custódia” é lançado em um momento oportuno, ainda mais por flagrar o crime dentro do contexto doméstico, talvez o mais ignorado pelas portas que terceiros fecham e trancam como medida para não intervir em crises que acontecem no vizinho na casa do vizinho.

Na realidade, Miriam Besson (papel de Léa Drucker) já tentou dar um basta na situação, efetivando a separação com Antoine (Ménochet). A questão é que, ao contrário da filha mais velha Joséphine (Mathilde Auneveux), Julien (Thomas Gioria) é ainda um pré-adolescente e a justiça de termina que a sua guarda deve ser cedida quinzenalmente ao seu pai.

Como roteirista, é evidente algumas extensões nem sempre bem ajambradas de Xavier Legrand com base em seu curta, como a cerimônia com a qual encena a suspeita de gravidez de Joséphine. Já como diretor, a sua condução é, sem exageros, digna de veterano alçado a gênio.

Isso se dá porque Legrand sabe como sugerir o que se deu ao longo da vida dos Besson, conduzindo um elenco que carrega em olhares e retrações um histórico de violência que dispensa o uso de artificialismos como uma confirmação, a exemplo de flashbacks. Porém, são nas inevitáveis explosões de desequilíbrio que “Custódia” nos torna cúmplices absolutos, culminando em um terceiro ato que se revela um verdadeiro pesadelo imersivo.

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