You Were Never Really Here, de Lynne Ramsay
Mesmo quando surgiu em 1998 com “O Lixo e o Sonho” e apresentou “Morvern Callar” quatro anos depois, a diretora escocesa Lynne Ramsay já encontrava uma certa dificuldade para ser uma completa unanimidade. Tal recepção é mais do que bem-vinda para cineastas que sonham com a divisão das opiniões como recurso para o debate.
A armadilha dessa corda bamba é justamente o extremismo que lhe é natural. Houve quem amou e odiou com a mesma intensidade “Precisamos Falar Sobre o Kevin“, adaptação controversa e sem meias palavras do best seller homônimo de Lionel Shriver. Encontrar aqueles que consigam estabelecer um equilíbrio entre dois sentimentos tão opostos também será uma tarefa difícil diante do seu novo “Você Nunca Esteve Realmente Aqui”.
Se a sua leitura chegou até aqui, definitivamente não terá uma breve impressão positiva sobre essa adaptação do romance de Jonathan Ames, ainda não publicado no Brasil. Já no Festival de Cannes do ano passado, a resposta foi diferente: em versão que a própria Ramsay definiu como inacabada, “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” ainda assim rendeu para si um prêmio de Melhor Roteiro e para Joaquin Phoenix o de Melhor Ator.
A premissa surrada do anônimo errante que parece encontrar um caminho de redenção ao executar um trabalho sujo é revista por Ramsay com todas as pretensões do chamado cinema de arte. Assim, enche de floreios os passos de Joe (Phoenix), um assassino de aluguel cuja existência só parece importar para a mãe inválida (interpretada por Judith Roberts).
O desenvolvimento de “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” é tão presunçoso que a sensação provocada é a de completo desprezo de Ramsay pelo material que tem em mãos. O efeito é compatível com o de uma paródia que se propusesse a sacanear com os méritos de obras cinematográficas de respeito.
O porte bear de Joaquin Phoenix potencializa a impressão de uma fera pronta para atacar, mas que dentro de si conserva um bom coração, fazendo-o manusear desde as gomas comestíveis de seu mandante (uma cena patética, por sinal) ao martelo que usa como ferramenta para destroçar crânios.
Essas chantagens emocionais que Ramsay tenta camuflar com frieza só corroboram não somente para uma indiferença com esse protagonista, mas também com todas as intervenções externas que buscam humanizá-lo a partir da missão de resgatar a filha (Ekaterina Samsonov) de uma figura política, sequestrada para servir ao tráfico sexual.
Se isso tudo ainda não te convencer, não se preocupe. “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” está infestado de flashbacks de infância abusiva para clamar por empatia para o velho Joe. Até papo mole com capenga prestes a morrer está presente na cartela de bingo manipulador de Ramsay.









