Coração de Cowboy, de Gui Pereira
Gênero musical há um século presente em nossa cultura, o sertanejo atravessou eras e hoje é reformulado por jovens talentos que compõem a sua extensão universitária. A pegada é um pouco diferente daquela que aprendemos a admirar por influência das gerações de nossos pais, pois nomes como Gusttavo Lima, Luan Santana e Lucas Lucco soam mais como popstars que se articulam desapegados das duplas do sertanejo romântico de outrora.
Personagem central de “Coração de Cowboy”, Lucca (interpretado por Gabriel Sater, filho do compositor mato-grossense Almir Sater) é um sintoma dessa nova geração. A questão é que ele não é necessariamente um mero produto, mas sim um rapaz com dilemas ao seguir uma trajetória artística pouco condizente com as suas raízes.
Traumatizado por uma fatalidade familiar em que esteve diretamente ligado e com o desejo de se reconectar com o pai (Jackson Antunes, sempre excelente), Lucca abandona a sua agenda de shows e a gravação de um novo álbum para regressar a sua cidade natal no interior. A pausa é para rever a própria identidade, mas o contato com gente do passado, bem como Paula (Thaila Ayala), a nova gerente do bar em que se apresentava na infância com o seu irmão e Marcelle (Thaís Pacholek), só o deixa mais desnorteado.
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Paulistano com mais de uma dezena de créditos na direção de curtas-metragens, o paulistano Gui Pereira debuta no formato de longa-metragem em um filme de médio porte com apelo para conquistar espectadores que talvez não se reconheçam como um público-alvo. A leitura de um tom crítico quanto ao estado da música é possível, mas o direcionamento para a crise de identidade está mais sintonizada com os descompassos emocionais de Lucca do que necessariamente os artísticos.
Também surpreende como “Coração de Cowboy” vai aos poucos ganhando a nossa empatia. De versão adulta de um plot à lá “Gaby Estrella: O Filme” (a saída do urbano para o interior, a perseguição da agente inescrupulosa interpretada por Françoise Forton, a saúde fragilizada de um personagem chave), vai cedendo espaço para algo mais substancial e com o selo de aprovação de gente que entende do riscado, da participação de Lucas Lima na trilha sonora até as aparições de artistas como Chitãozinho & Xororó, Maurício Manieri e Rio Negro e Solimões.
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