Resenha Crítica | Poderia Me Perdoar? (2018)

Can You Ever Forgive Me?, de Marielle Heller

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Após o estouro de “Missão Madrinha de Casamento” e a indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, Melissa McCarthy entrou para o grande time de atrizes em Hollywood, assim conquistando as suas primeiras grandes chances como protagonista. Mesmo com as parcerias que retomou com o diretor Paul Feig, fortaleceu com a direção de seu marido Ben Falcone em “Tammy; Fora de Controle”, “A Chefa” e “Alma da Festa” uma caricatura grosseira de comediante.

O que poucos sabem é que a americana de 48 anos estudou Drama na The Actors Studio enquanto exercia as suas habilidades cômicas em stand ups em Nova York. Fez participações pequenas em “Deixe-me Viver” e “A Vida de David Gale” e o destaque em “Um Santo Vizinho” mostrou o seu potencial para papéis mais densos. Com “Poderia Me Perdoar?”, chega enfim a grande chance para a demonstração de suas habilidades em campos pouco explorados.

A oportunidade é desafiadora. Trata-se a de viver uma figura real e polêmica: a escritora Leonore Carol Israel, que assinou as suas obras como Lee Israel. Além de estar fisicamente transformada, McCarthy incorpora com afinco uma mulher desagradável e no momento mais decadente de sua vida.

Lee Israel é uma escritora desconhecida entre os brasileiros. Iniciou a carreira no início dos anos 1960 sobretudo na função de freelancer. Já entre 1970 e 1980, avançou escrevendo biografias de nomes como Dorothy Kilgallen e Tallulah Bankhead. Nos anos 1990, o período retratado em “Poderia Me Perdoar?”, vem a escassez de oportunidades.

As circunstâncias difíceis e o reencontro com um velho colega universitário, Jack (o grande Richard E. Grant, em um papel que finalmente o colocará como um nome na disputa da temporada de premiações), fazem Lee recorrer a um ato criminoso: a falsificação de cartas como se escritas por grandes talentos da literatura e do cinema e vendê-las para colecionadores.

As consequências foram descritas pela própria Lee Israel em uma biografia publicada em 2008, mas assistir a “Poderia Me Perdoar?” no escuro pode ser bem mais prazeroso. Não somente para evitar antecipações, como também a de apreciar o excelente tratamento conferido pela diretora Marielle Heller, que debutara atrás da câmera no elogiado “O Diário de uma Adolescente”.

Sem julgamentos morais, Heller, com o auxílio do roteiro de Jeff Whitty e Nicole Holofcener (que é também uma notável cineasta), busca compreender antes de mais nada o contexto que cerca a sua protagonista, que não reconhece a sua depressão e os vícios que se inseriu como fuga das adversidades, ampliadas inclusive por uma questão de orientação sexual tratada com muita sutileza. É aquela experiência rara em que calçamos os sapatos de seus personagens antes de qualquer avaliação que se possa fazer sobre os seus passos.

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