Sauvage, de Camille Vidal-Naquet
.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Interpretado pelo extraordinário Félix Maritaud, o protagonista de “Selvagem”, Léo, é daqueles que os contadores de história adoram inventar. Sem qualquer informação sobre o seu passado, o espectador assim deve empregar um esforço redobrado para estabelecer e compreender a identidade de um jovem homem que se esvazia emocionalmente pelas constantes pauladas que a vida lhe dá.
Sem vínculos, Léo tem 22 anos e sobrevive como garoto de programa. De jeans e regata, fica em beira de estrada aguardando a abordagem de clientes que passam com os seus carros. Quando o dia acaba, improvisa uma cama em algum parque ou mesmo na calçada, geralmente após se drogar.
No ponto em que atende, nota a presença de uma figura nova, Ahd (Eric Bernard), a quem imediatamente se apresenta e se apaixona. É daqueles amores impossíveis, pois Ahd sequer se reconhece como um homossexual e se prostitui apenas como medida provisória até surgir algo ou alguém que lhe assegure estabilidade financeira.
A insistência de Léo em ter Ahd como um parceiro se intensifica conforme a rejeição vai se tornando agressiva. Tudo é especialmente doloroso para ele, pois sofre de uma falta de afetividade que o apodrece. Um homem que gostaríamos de abraçar para consolá-lo, mas com quase nenhum personagem em cena para cumprir com esse desejo.
Esse debute potente do realizador Camille Vidal-Naquet, que no Festival de Cannes assegurou para Félix Maritaud o prêmio de ator estreante na Semana da Crítica, é explicito na exposição do que há de mais cruel na idealização de um amor e na prática sexual ditada por um desejo de poder. Léo é uma vítima constante das duas situações e contrariar as nossas expectativas e se recolher a uma condição de ser selvagem ao fim causa um efeito demolidor.
