Babygirl (2024)

Babygirl (2024)

Outra vez, temos Nicole Kidman naquele modo que amamos: totalmente destemida e cúmplice de seu cineasta-autor para ser instrumento central de uma narrativa que não navegará as marés mais calmas.

Mesmo que Nicole tenha 57 anos e eu seja um fã desde as minhas primeiras memórias, ainda fico surpreso como ela sempre sobe mais um lance de escadas quando deduzo que ela já atingiu um limite em cena, aqui fazendo uma mulher com família consolidada e mais do que bem-sucedida profissionalmente que é frustrada sexualmente ao não colocar desejos de submissão em prática.

Grande parte de “Babygirl” é concentrado na relação dessa mulher madura com o seu estagiário, um rapaz enigmático que fareja de longe a sua repressão carnal. E o melhor de tudo é que, ao contrário do que se espera, não temos aqui um thriller erótico, pois as cartas são colocadas na mesa logo de cara nessa dinâmica, que não visa chantagem profissional. É ainda melhor o fato de o passado de ambos não ser explanado para definir as figuras que se formaram.

É acima da média, mas não excelente. Atriz em “A Espiã”, Halina Reijn trocou o ofício pela direção a partir de “Instinto”, merecidamente associado pelos poucos que o assistiram a “Elle”. Naquele filme, ela não largava a mão de sua protagonista de jeito nenhum, indo até as últimas consequências para compreender a sua natureza sombria, gerando uma conclusão desconcertante. Aqui, Romy também é plenamente saciada, mas pela resolução menos convidativa, na qual todas as lacunas são devidamente preenchidas como um comercial erótico de margarina.

★★★
Direção de Halina Reijn
Em exibição nos cinemas (Diamond Films)

Nosferatu (2024)

Nosferatu (2024)

A pior coisa que você pode fazer para arruinar a carreira de um cineasta promissor é conferir a ele a alcunha de gênio logo em seus primeiros passos. M. Night Shyamalan, Richard Kelly, Ari Aster são apenas alguns dos vários nomes contemporâneos que caíram feio do cavalo e o mesmo acontece com Robert Eggers, que em seu quarto filme já aparece com a pretensão de resgatar “Nosferatu” para ser a versão definitiva de um jovem século.

O cineasta novamente aposta em um estética gótica austera para o seu novo conto de época, às vezes com isso estabelecendo um bom jogo de sombras, mas que descolore totalmente o sangue humano, exibido aqui com uma timidez bem questionável.

Pautando o seu elenco com um roteiro com um vocabulário por vezes arcaico, o resultado ficou totalmente desigual: enquanto grandes atores como Willem Dafoe, Ralph Ineson e Simon McBurney tiram o texto de letra, o núcleo mais inexperiente é difícil de lidar – e vocês ainda têm a pachorra de pegar no pé dos pobres Winona Ryder e Keanu Reeves na versão do Coppola.

Outro fator complicado aqui é como o filme parece mal regido ao ponto de estabelecer uma falta de continuidade de lógica e de ordem emocional. Se já não fosse um absurdo um jovem adoecido chegar ao seu destino a cavalo antes de um algoz no navio ou de um idoso alcançar uma dupla correndo para uma execução, há aqueles momentos mal costurados, como a declaração de amor que procede um sexo desesperado e um jump scare aleatório.

Enfim, um filme mais sem alma que um cadáver sem sangue.

★★
Direção de Robert Eggers
Em exibição nos cinemas