Resenha Crítica | M3GAN 2.0 (2025)

Sequência anunciada quando o original nem tinha concluído a sua carreira comercial nos cinemas, “M3GAN 2.0” poderia facilmente se basear em tudo o que deu certo por uma segunda vez, sobretudo porque o filme de 2022 estava estufado de sacadas transformadas em memes instantâneos, das expressões da boneca comandada por inteligência artificial até as danças prontas para serem reprisadas no TikTok.

Outra vez no comando da direção (e agora do roteiro), o neozelandês Gerard Johnstone, no entanto, quer transferir tudo para outro território, em proposta e em tom.

Rejeitando repetir o argumento da “boneca amaldiçoada” no contexto da tecnologia do amanhã, “M3GAN 2.0” se apresenta para nós mais como uma ficção científica do que propriamente um terror, agora com uma ameaça de amplitude global que ensaia ser uma versão feminina de “O Exterminador do Futuro”.

A intenção soa muito saborosa, mas o resultado frustra. Embora não tenha perdido a sua comicidade, essa é uma continuação que se perde demais tentando explicar as coisas, do funcionamento das bonecas-robôs até todos os dilemas morais envolvidos.

O resultado não é apenas algo mais longo do que deveria, mas que também se esquece de se divertir no processo. Pior: traz M3GAN como coadjuvante em seu próprio filme, havendo pouco espaço para o seu sarcasmo e com chances reduzidas de repetir o que a tornou um ícone, a exemplo de quando resolve cantar novamente, agora “This Woman’s Work”, da Kate Bush.

Lembra muito o que a gente vivenciou em “A Morte Te Dá Parabéns 2”, outro caso raro em que preferia o mais do mesmo do que algo todo desconstruído.

★★
Direção de Gerard Johnstone
Em exibição nos cinemas (Universal Pictures)

Resenha Crítica | Extermínio: A Evolução (2025)

Com o seu nome pouco reverberado nos últimos anos após uma sequência de “Trainspotting” que ninguém deu muita bola e alguns projetos televisivos ignorados pelo grande público, o diretor britânico Danny Boyle agora retoma “Extermínio”, uma promessa de franquia esquecida há 18 anos. 

O tom político dos dois primeiros filmes foi deixado de lado para compreender o funcionamento do que restou do nosso planeta, com um sem número de tribos isoladas em santuários protegidos das ameaças de humanos zumbificados. 

Esse é um dos aspectos mais curiosos de “Extermínio: A Evolução”, pois observa como vivos e mortos-vivos estão adaptados aos novos tempos, de zumbis alfa até a promessa de uma gangue de ninjas punk que deverá ser explorada na sequência já em pós-produção conduzida por Nia DaCosta (do mais recente “Candyman” e de “As Marvels” – medo, muito medo!).

Outra novidade ótima é como Danny Boyle lida com um cinema com o suporte digital já consolidado. Todos os planos têm uma distorção causada pela proporção de aspecto 2.76 : 1 e há glitches intencionais, sobretudo nas cenas de combate. Diretor de fotografia que basicamente ditou a estética do Dogma 95 e do “Extermínio” original, Anthony Dod Mantle volta aqui para operar com iPhone 15 Pro Max.

Não é um filme maior do que deseja porque o protagonismo acaba sendo a noção de família pela perspectiva de um pré-adolescente desorientado entre o modo de vida selvagem pregado pelo pai e o afeto da mãe enferma, com a primeira parte comprometida pela total inaptidão de Aaron Taylor-Johnson em ser um bom ator. Sem dizer que “Extermínio 2” já havia abordado essas distinções entre um casal com filhos de modo superior.

★★★
Direção de Danny Boyle
Em exibição nos cinemas (Sony Pictures)

Resenha Crítica | Meu Nome é Maria (2024)

Ao mesmo tempo em que “O Último Tango em Paris” foi abraçado como um clássico instantâneo em seu lançamento, a imprensa e o público estavam cientes desde a estreia no fim de 1972 sobre os bastidores da infame cena da manteiga, aproximando o drama romântico de Bernardo Bertolucci ao fetichismo erótico barato.

É uma obra cinematográfica sempre usada como um modelo de estudo sobre os limites da arte: ultrapassar os códigos éticos é um jogo justo dentro da busca de uma autenticidade que a ficção nem sempre corresponde ou é melhor apostar no famoso “o combinado não sai caro” mesmo que isso culmine em algo menos avassalador?

A diretora Jessica Palud fez parte em sua juventude da equipe de locações de “Os Sonhadores” (feito por Bertolucci em 2003) e essa experiência a faz ter propriedade para rever a perspectiva de Maria Schneider dentro de seu trauma em “O Último Tango em Paris”. E o resultado é bastante complexo, uma vez que nos mostra o que fez Maria chegar a essa proposta, a princípio irrecusável, de contracenar com Marlon Brando e qual foi o peso que carregou nas costas ao lidar sozinha com a repercussão francesa ao filme.

Embora a narrativa possa soar bastante fragmentada na abordagem das relações interpessoais de Maria Schneider (pai e mãe somem de cena em determinado momento). ainda assim é um filme que se fortalece por não querer fazer apenas uma reencenação dos bastidores de “O Último Tango em Paris”. Isso humaniza ainda mais Maria, mesmo que essa seja uma qualidade já devidamente preenchida com a formidável interpretação de Anamaria Vartolomei.

★★★
Direção de Jessica Palud
Disponível no Reserva Imovision

CCBB SP inicia Mostra Cinema de Resistência, dedicada à diretora Lucia Murat

De 4 a 29 de junho, o Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB SP) recebe a mostra gratuita “Cinema de Resistência: um olhar sobre o Brasil invisível”, dedicada à trajetória da premiada cineasta Lucia Murat. Serão exibidas 34 produções, entre longas, médias, curtas e séries, organizadas em torno de temas como ditadura, feminismo, desigualdade social e povos originários.

Reconhecida por entrelaçar memória pessoal e histórica em sua obra, Murat é a cineasta latino-americana com o maior número de longas realizados para o cinema. Aos 76 anos, ela continua ativa, com prêmios recentes como o recebido na Berlinale 2025.

A programação inclui sessões comentadas e debates com artistas e especialistas, abordando temas urgentes da sociedade brasileira. Os encontros acontecerão aos domingos, com destaque para a abertura em 4/6 com Tata Amaral, Amelinha Teles e a própria Lucia Murat.

Entrada gratuita. Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do CCBB SP ou pelo site bb.com.br/cultura.

SERVIÇO
Mostra “Cinema de Resistência: um olhar sobre o Brasil invisível” – Retrospectiva Lucia Murat
Período: 4 a 29 de junho de 2025
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico – SP
Entrada Gratuita: Ingressos disponíveis 1 hora antes de cada sessão na bilheteria do CCBB e em bb.com.br/cultura