
Ao mesmo tempo em que “O Último Tango em Paris” foi abraçado como um clássico instantâneo em seu lançamento, a imprensa e o público estavam cientes desde a estreia no fim de 1972 sobre os bastidores da infame cena da manteiga, aproximando o drama romântico de Bernardo Bertolucci ao fetichismo erótico barato.
É uma obra cinematográfica sempre usada como um modelo de estudo sobre os limites da arte: ultrapassar os códigos éticos é um jogo justo dentro da busca de uma autenticidade que a ficção nem sempre corresponde ou é melhor apostar no famoso “o combinado não sai caro” mesmo que isso culmine em algo menos avassalador?
A diretora Jessica Palud fez parte em sua juventude da equipe de locações de “Os Sonhadores” (feito por Bertolucci em 2003) e essa experiência a faz ter propriedade para rever a perspectiva de Maria Schneider dentro de seu trauma em “O Último Tango em Paris”. E o resultado é bastante complexo, uma vez que nos mostra o que fez Maria chegar a essa proposta, a princípio irrecusável, de contracenar com Marlon Brando e qual foi o peso que carregou nas costas ao lidar sozinha com a repercussão francesa ao filme.
Embora a narrativa possa soar bastante fragmentada na abordagem das relações interpessoais de Maria Schneider (pai e mãe somem de cena em determinado momento). ainda assim é um filme que se fortalece por não querer fazer apenas uma reencenação dos bastidores de “O Último Tango em Paris”. Isso humaniza ainda mais Maria, mesmo que essa seja uma qualidade já devidamente preenchida com a formidável interpretação de Anamaria Vartolomei.
★★★
Direção de Jessica Palud
Disponível no Reserva Imovision
