
Assim como o seu contemporâneo Ken Russell, John Boorman é aquele realizador britânico estimulante de se explorar, uma caixa-surpresa que pode te presentear tanto com um filme apreciado por todos os públicos (“Amargo Pesadelo”, “Esperança e Glória”) quanto com uma bomba capaz de demolir a própria carreira (“O Exorcista 2: O Herege”).
Evidentemente, “Zardoz” faz parte do segundo grupo, uma ficção científica, ao mesmo tempo, cafona e fascinante, onde coloca Sean Connery no traje sumário mais ridículo da história do cinema. Inclusive, há boatos de que o escocês teve sérias dificuldades de se desvincular de James Bond e que foi um amor ao trabalhar com Boorman, ainda que fique evidentemente, em determinado momento, onde ele se camufla com um vestido de noiva, de que se arrependeu amargamente de assinar o contrato.
“Zardoz” é aquela autoindulgência que faz falta em Hollywood, hoje cada vez mais rara de ser viabilizada (como “Megalópolis”, de Francis Ford Coppola), mas que tem aquele gosto especial porque as birutices que sustenta ao menos são originais, como se nunca visto/feito antes.
Agradeço de coração até aos executivos da Twentieth Century Fox, que obrigaram Boorman a inserir um prólogo didático simplesmente maravilhoso, onde o deus Zardoz, uma cabeça de concreto flutuante, aterrissa cuspindo armar e munições enquanto seus súditos defendem a execução de humanos em detrimento de seus órgãos reprodutores.
Bem como “O Exorcista 2: O Herege”, uma continuação que defenderei fervorosamente até o último dia da minha vida, há achados visuais extraordinários aqui além da breguice. Além disso, não entendo como não levar a sério as distopias do roteiro, que nos transportam para um 2293 dividido entre diferentes grupos excêntricos e que encontrou em “O Mágico de Oz” a sua fundação ilusória.
★★★
Direção de John Boorman
Disponível na Darkflix
