
Como uma artista que já explorou muitas vidas em seu ofício, de atração infantojuvenil à negação desse passado Disney se refazendo como adulta rebelde, Miley Cyrus parece mais confiante como uma mulher de 32 anos. Ainda assim, sua personalidade artística permanece difusa.
Nada contra quem deseja desbravar os mais diversos territórios — os melhores musicistas muitas vezes vêm daí —, mas falta a Miley algo integralmente coeso. O mais perto disso, para mim, foi ensaiado em “Plastic Hearts”, disco que, descubro hoje, ela detesta uns 50%.
A apresentação para cinema deste visual não eleva “Something Beautiful”, um disco apenas razoável, no qual ela fala majoritariamente sobre sua vida amorosa, sem nunca repetir o potencial de “Flowers”, seu último hit incontestável.
Neste média-metragem (ou compilação de clipes), Miley volta a se reunir com a dupla Brendan Walter e Jacob Bixenman, com quem fez algo semelhante no álbum anterior, “Endless Summer Vacation”. Acertam na estética digital granulada assinada por Benoît Debie, o fotógrafo de Gaspar Noé, mas são poucos os momentos realmente criativos, em que a cantora interage com outros elementos humanos para contar uma história.
Dois terços parecem variações daqueles visuals em looping, quando o artista já não tem mais verba para bancar a superprodução de um videoclipe autêntico. Tudo o que resta é a beleza de Miley nesta era, em que está parecidíssima com uma jovem Jane Fonda.
★★
Direção de Brendan Walter, Jacob Bixenman e Miley Cyrus
Disponível em breve no Disney+
