
Elaborar um body horror para tratar sobre a dinâmica atual dos relacionamentos pode até ser uma obviedade, mas “Juntos” realmente levanta pontos bem pertinentes para quem tem a sua cara-metade e vai arriscar levá-la ao cinema para uma sessão do filme – aos solteiros, haverá um cardápio muito vasto de motivos para continuar sozinhos.
Embora a reputação artística de Michael Shanks ainda esteja em jogo por conta de um processo movido pelas semelhanças que “Juntos” apresenta com a comédia “Better Half” (o diretor e roteirista alega ter recibos de que a sua história estava em desenvolvimento desde 2018; os envolvidos pela outra produção de 2023 até menção às “Spice Girls” apresenta), não há como negar a sua excelente sacada ao escalar Dave Franco e Alison Brie, ambos também um casal na realidade.
Bastante comprometidos com o projeto, Dave e Alison conferem aquela dose de intimidade que a dinâmica do casal ficcional exige sem necessariamente borrar as barreiras com a realidade. É bastante efetiva a escalação, pois há aqui uma atração emocional e física – além de um entendimento do amargor que existe em parcerias de vida – que não existiria caso tivéssemos outra opção de dupla como protagonista.
Agora, tenho feito uma leitura um pouco diferente dos amigos com quem tive a oportunidade de trocar impressões sobre “Juntos”. Parece um consenso de que o personagem de Dave Franco é a ponta tóxica do relacionamento, mas não acho que tudo seja tão maniqueísta assim – e olha que é muito fácil eu não ter a simpatia pelo irmão do James Franco.
Não vejo o filme somente pelo lado do quanto o casamento é, acima de tudo, uma imposição social, mas como determinados casais parecem impedidos de desfrutar da felicidade plena quando têm os seus pactos interferidos pelo julgamento de terceiros. Gosto muito dessa particularidade do Dave não saber dirigir e da Alison não saber cozinhar e de como isso vira um problema somente quando é observado por alguém de fora. Mesma coisa quando se discute sobre desistência de sonhos em prol de uma companhia.
Enfim, penso se tratar muito mais de um terror sobre dependência emocional (ou esse entendimento de que somos criaturas condicionadas a se desvincular da solidão independente do custo) do que meramente sobre uma relação tóxica, como grande parte do público defende.
★★★
Direção de Michael Shanks
Em exibição nos cinemas (Diamond Films Brasil)
