
Uma nova versão de “Corra que a Polícia Vem Aí” era tudo o que precisávamos atualmente. Não somente com o desprestígio da comédia americana como experiência coletiva na sala de cinema, mas também pela extinção desse modelo de humor que o trio ZAZ dominava, onde o alvo central era a satirização de um gênero ou de um determinado lote de clássicos modernos emoldurada pelo besteirol.
Embora David Zucker tenha caído em desgraça pelo fracasso de seus últimos projetos para cinema e por abraçar o trumpismo, o espaço que ocupa na história do cinema com as suas melhores comédias é incontestável e um novo “Corra que a Polícia Vem Aí” que não tenha se preocupado sequer com a sua benção é uma antecipação de que algo de errado aconteceu no processo criativo de elaboração de um novo filme.Pois não se deixem enganar pelo bom material publicitário e pela recepção prévia bem acalorada: o novo “Corra que a Polícia Vem Aí” é um desastre monumental, um projeto em que nenhum dos envolvidos parece saber ao certo o que pretende reverenciar e o que de novo quer apresentar.
As escalações de Liam Neeson (antes um ator super sério que revirou a carreira como astro de ação na terceira idade) e de Pamela Anderson (que volta a abraçar o humor também após um processo radical de mudanças artística e pessoal) soam perfeitas na teoria para ocupar as posições que eram no passado de Leslie Nielsen e Priscilla Presley, mas o resultado é um desperdício: na boca do primeiro, enfiam um monte de piadas que ele não entende (sobretudo aquelas que citam coisas como “Buffy”, Janet Jackson ou The Black Eyed Peas); para a segunda, restou a personagem etariamente equivalente que se perde a todo o momento na história.
História é uma coisa que inclusive não faz qualquer sentido aqui, seja na sua incapacidade de entender os nossos tempos ou de oferecer deixas para gags visuais. Se nos dois primeiros filmes da série tínhamos comentários subliminares sobre figuras de autoridade, como a rainha britânica ou o presidente americano, aqui restou um plot idiota de uma tecnologia capaz de controlar o temperamento das pessoas. Pior: a coisa é feita num tom até desproporcionalmente sério, tingindo o filme com uma estética às vezes sombria que elimina qualquer chance da gente se divertir – as poucas piadas realmente boas estão todas no trailer, eu juro!
Entendo o apreço que algumas pessoas têm pelo Seth MacFarlane, que se popularizou por suas criações animadas para a televisão. Da minha parte, sempre soou como um comediante meio intragável e que aqui arruína para as novas gerações o que no passado foi um material brilhante. O que ele viabiliza aqui com o seu diretor e os seus roteiristas é digno de prisão perpétua.
Definitivamente, um dos piores filmes de 2025!
★
Direção de Akiva Schaffer
Em exibição nos cinemas (Paramount Pictures)
