
Ao sair da sessão de “Resurrection”, fui abordado por amigos que perguntaram se gostei do filme e também testemunhei outros espectadores fazendo a mesma pergunta para as suas companhias. Acho que gostar ou não gostar é o que menos importa aqui, pois o diretor chinês Bi Gan faz aquele típico filme sensorial em que você vai sentir mil coisas, de vontade de dormir até aquele sentimento de que está realmente diante de algo que está evocando sentimentos muito enriquecedores.
O mais claro aqui é esse desejo de enaltecer o cinema como a arte mais próxima a reproduzir o que experimentamos em sonhos. Para isso, o diretor estabelece uma colcha de retalhos que mais soa como diferentes segmentos com personagens possuindo diferentes corpos.
Em um momento, a gente é cúmplice de uma versão de Nosferatu. Em outra, há um nômade fugindo de credores e que se passa por mágico para fazer dinheiro fácil e fugir. No melhor deles, há um rapaz apaixonado à primeira vista por uma mulher: ela tem o desejo de morder; ele, quer dar o seu primeiro beijo.
Manipulando diferentes janelas, noções de tempo, estéticas e locações, “Resurrection” chegou ao Festival de Cannes sob a lenda de que foi completado à véspera. A curiosidade pode ser usada como arsenal contra o filme por espectadores que o acharam todo desalinhado. Do meu ponto de vista, essa noção de fechamento sob pressão de um deadline é até bem-vinda a algo que pretende seguir o fluxo de um inconsciente.
★★★★
Direção de Bi Gan
Assistido na 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Em breve nos cinemas (Fênix Filmes)
