Retrospectiva 2013

Eis que chegamos ao fim de mais um ano. E o momento é de pura reflexão, de avaliar os erros e os acertos. Afinal, não há como não se arrepender de ter visto determinados filmes, bem como comemorar as ocasiões em que me vi totalmente tocado por uma história simplesmente incrível. Sim, aquelas três horas de “Os Miseráveis” foram uma tortura que nunca devem ser revisitadas, mas nada que não tenha sido compensado por aquelas lágrimas de Jessica Chastain ao final de “A Hora Mais Escura”, toda aquela poesia viva em “As Sessões” ou aquele último ato de “Killer Joe – Matador de Aluguel”, que mostra o quão perturbados podemos ser.

A retrospectiva, no entanto, não foi feita para compartilhar esses devaneios particulares, mas para eternizar no Cine Resenhas os acontecimentos que marcaram o cinema em 2013. Não poderiam escapar as premiações e os resultados que amamos reclamar, as pessoas que nos marcaram ou que partiram para sempre e algumas tendências que podem ditar o que o próximo ano pode nos reservar.

Desejamos a todos os leitores um excelente ano novo. Não deixem de voltar aqui em 2014, viu?

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70º GLOBO DE OURO

Tommy Lee Jones Golden GlobesTommy Lee Jones feliz como se não houvesse amanhã.

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Eis que os responsáveis pelo Globo de Ouro finalmente acertaram em sua mais recente edição. Além de ter subido a audiência e a qualidade das gracinhas ao convocarem as fantásticas Tina Fey e Amy Poehler para apresentarem o show (as comediantes já foram confirmadas como hosts na edição do ano que vem), não houve a presença de filmes ou celebridades que faziam crescer a forte impressão de farsa que sempre rodeou o evento – para quem não lembra, ano retrasado o remake “O Turista” fisgou de modo suspeito indicações na categoria de Melhor Filme – Comédia e Musical, Melhor Ator (Johnny Depp) e Melhor Atriz (Angelina Jolie). Foi uma rara ocasião em que os vencedores casaram com aqueles anunciados no Oscar, mas ainda assim o Globo de Ouro conferiu reconhecimento merecido ao trabalho da atriz Jessica Chastain em “A Hora Mais Escura” e do ator Hugh Jackman em “Os Miseráveis”, uma das poucas coisas a saírem ilesas desse musical horrendo. Já divulgada, a lista de indicados ao Globo de Ouro 2014 prova que a Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood voltou a trilhar um caminho certo e respeitável.

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85º OSCAR

Jennifer Lawrence Falls at OscarsJennifer Lawrence vence o Oscar de Melhor Atriz, mas quem comemora é Quvenzhané Wallis – pronuncia-se “quan-vem-je-ney”, mané!

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Fazia tempo que os membros da Academia não se viam em uma barca furada. Quando os indicados ao Oscar 2013 foram divulgados, “Argo” cresceu diante do público e da crítica de modo inesperado. O único detalhe é que o nome de Ben Affleck não foi mencionado na categoria de Melhor Diretor. É um fenômeno estranho, pois todas as premiações americanas de cinema buscam dar crédito ao trabalho de um diretor cujo filme está entre os favoritos. Era tarde demais para rever a decisão e a atitude tomada foi dividir as estatuetas em quantidades quase inexpressivas. No fim das contas, “Argo” se deu bem em apenas três categorias: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Montagem. Recordista em vitórias, “As Aventuras de Pi” conquistou quatro Oscars, o que incluiu um reconhecimento para lá de surpreendente para Ang Lee. Triste foi o caso de “A Hora Mais Escura”. Melhor e mais importante filme entre os indicados, “A Hora Mais Escura” teve de se contentar com uma mera vitória em Melhor Edição de Som. Detalhe: o prêmio foi dividido com os profissionais de “007 – Operação Skyfall”.

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66º FESTIVAL DE CANNES

 Carey Mulligan and Justin Timberlake at CannesCarey Mulligan e Justin Timberlake tirando onda com os franceses.

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Com a ausência de Ben Affleck na seleção dos melhores diretores no Oscar 2013, era certa a consagração de Steven Spielberg com o seu “Lincoln”. Não foi bem o que aconteceu. Apesar do balde de água fria, Spielberg foi convocado na sequência para assumir a direção do júri do Festival de Cannes neste ano – até trouxe a bordo Ang Lee, justamente o sujeito que levou a estatueta de Melhor Diretor no Oscar. Visto os filmes esquálidos que vêm dirigindo nos últimos anos, foi uma agradável surpresa que Spielberg tenha dado a Palma de Ouro justamente para “Azul é a Cor Mais Quente”, um drama romântico lésbico contemporâneo e impactante no modo como constrói e destrói um relacionamento. E o reconhecimento fez nascer um fenômeno inédito em Cannes: além do filme, um prêmio especial foi dado ao diretor Abdellatif Kechiche e as atrizes Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux. “Um momento de breve felicidade diante do inferno que viria”, teria dito Kechiche: após os louros em Cannes, o diretor driblaria com a estrela Léa Seydoux uma série de discussões amplamente cobertas pela imprensa que só fez aumentar a curiosidade em torno de “Azul é a Cor Mais Quente”.

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O FRACASSO DE “O CAVALEIRO SOLITÁRIO”

Johnny Depp falls in The Lone RangerSim, Johnny Depp quase morreu no set de filmagens.

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Ao contrário do que se supõe, o fracasso comercial de “O Cavaleiro Solitário”, filme que ao todo custou 500 milhões de dólares e que faturou metade disso, não deveria ser apenas um mero item a figurar em um relatório sobre os filmes que não obteram um bom desempenho nas bilheterias. É um acontecimento que definitivamente mudará o jogo de como produzir um blockbuster. Midas dos filmes pipoca, Jerry Bruckheimer iniciou a carreira como produtor dando passos pequenos, o que lhe garantiu muita grana ao viabilizar filmes independentes como “Flashdance” e “Um Tira da Pesada”. Atualmente, Bruckheimer tem o seu nome envolvido nas produções mais caras do momento, mas só vem garantindo sucesso estrondoso com a franquia “Piratas do Caribe”. Pois nem Jack Sparrow consegue se livrar de todas as ameaças, uma vez que os números risíveis de “O Cavaleiro Solitário” fizeram com que Bruckheimer perdesse todo o seu prestígio diante dos donos do cofre da Disney. “Piratas do Caribe 5” irá acontecer, não tenha dúvidas, mas “O Cavaleiro Solitário” deixou uma mancha tão negra em 2013 que a partir de agora os lemas dos “poderosos chefões” serão cortar custos e não seguir com qualquer projeto que ameace ser um risco difícil de ser contornado.

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VETERANOS VOLTAM AO PASSADO

TwixtUm gorducho Val Kilmer e Elle Fanning mostram o que é terror de verdade em “Virginia”.

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Lançados neste ano no Brasil ou ainda inéditos por aqui, alguns títulos de grandes cineastas retomaram uma tendência curiosa: a volta às origens. Dirigido por Pedro Almodóvar, “Os Amantes Passageiros” traz o espanhol revendo o início cômico de sua carreira após duas décadas lidando com projetos de grande densidade. Adiado para o ano que vem, “Passion” mostra Brian De Palma emulando a si mesmo ao adicionar em sua história os elementos que o tornaram um mestre do suspense: surrealismo, duplicidade, erotismo e o uso de técnicas como o split-screen. Mais dois cineastas com obras ainda inéditas no país que relembraram com carinho suas origens soturnas são Neil Jordan e Francis Ford Coppola, respectivamente por “Byzantium” (uma história de vampiros) e “Virgínia” (um mistério de horror com direito a presença de Edgar Allan Poe). Até mesmo William Friedkin parece reviver os seus anos mais rebeldes com “Killer Joe – Matador de Aluguel”. O que todos os títulos apontados têm em comum além da nostalgia e dos grandes realizadores que os conceberam? Ninguém foi vê-los nos cinemas. Estaria o público de hoje desinteressado por essas experiências que revivem os ápices das artes particulares de cada um desses cineastas?

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MULHERES EM AÇÃO

The HeatSandra Bullock e Melissa McCarthy mostram quem manda na parada.

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Uma das coisas mais absurdas que ocorrem em Hollywood é a falta de confiança nas mulheres como protagonistas de fitas geralmente protagonizadas por homens. Com exceção de Angelina Jolie e Milla Jovovich, nenhuma outra atriz foi capaz de tornar um sucesso suas empreitadas em projetos que exigem muita adrenalina. Felizmente, isso mudou em 2013. Isso se deve a um fator muito importante: o modo como a ação é conduzida através de uma narrativa. Sandra Bullock quebrou inúmeros paradigmas ao estampar o seu nome no topo dos créditos de dois filmes: “Gravidade” e “As Bem-Armadas”. Na ficção de Alfonso Cuarón, sua personagem, Ryan, toma a frente de uma missão no espaço quando ela já não pode ser conduzida por George Clooney. Já na comédia de ação em que divide a cena com Melissa McCarthy, há a velha história de dois agentes da lei que não se dão muito bem, mas agora representados por duas mulheres fantásticas na arte de fazer rir. Jennifer Lawrence também entra nessa ala ao dar continuidade à franquia “Jogos Vorazes”, onde será representada como líder de uma revolução decisiva. Também não podemos nos esquecer de Jessica Chastain em “A Hora Mais Escura”. Rara presença feminina em uma história cercada por soldados e burocratas, Chastain prova que não será apenas a força bruta que irá assegurar a captura de ninguém menos que Osama Bin Laden. Que Sylvester Stallone e sua trupe tomem muito cuidado.

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.O ANO FOI DE J-LAW

Jennifer Lawrece is coolSim, nós já sabemos, Jennifer.

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Há muito que Hollywood solicita aos deuses cinéfilos que alguém promissor cruze o seu caminho. Hoje já consagrados ou pagando caro pelos seus erros profissionais e pessoais, nomes como Brad Pitt, Johnny Depp, Winona Ryder e Macaulay Culkin foram talentos que estouraram na infância ou adolescência. Havia expectativa que esses astros jovens dos anos 1980 e 1990 ganhassem representantes à altura neste século ainda novo, mas tudo não passou de promessas que não se cumpriram. Antes queridinhas, as agora bagaceiras Lindsay Lohan e Amanda Bynes são alguns exemplos de talentos que pisaram na bola. Somente Anne Hathaway, que ganhou este ano um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Os Miseráveis”, saiu do mundo encantado da Disney e fez uma carreira digna. Tudo isso para dizer que Jennifer Lawrence é o destaque do ano porque é a jovem mais poderosa em Hollywood. Mesmo com o Oscar por “O Lado Bom da Vida” e vários sucessos consecutivos de bilheteria, Lawrence se porta como uma verdadeira estrela ao mostrar ser dona de um carisma que definitivamente encanta a todos.

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 R.I.P.

Lawrence of Arabia

O grande Peter O’ Toole em “Lawrence da Arábia”.

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Na mesma proporção que novos artistas se apresentam no cinema mundial, outras se despedem. Alguns de modo natural. Outros, de modo trágico. Protagonista da franquia “Velozes e Furiosos”, Paul Walker sofreu um acidente automobilístico grave antes que pudesse finalizar as filmagens de “Velozes e Furiosos 7”. Outro que partiu cedo foi o astro da série “Glee” Cory Monteith, que não resistiu após consumir uma mistura de bebidas alcóolicas com heroína. Também não podemos nos esquecer do veterano Peter O’ Toole, oito vezes indicado ao Oscar (recebeu um honorário dez anos atrás) e também a musa Esther Williams, que saiu das piscinas para mergulhar no mundo do cinema. Outras perdas sentidas: James Gandolfini, que antes de morrer de ataque cardíacio nos deixou uma interpretação emocionante em “À Procura do Amor”; Harry Reems, que ficou marcado negativamente para o resto de sua vida após participar de “Garganta Profunda”; Karen Black, que teve o privilégio de estrelar o último filme de Alfred Hitchcock, “Trama Macabra”; Wojciech Kilar, que fez as músicas extraordinárias de “Drácula de Bram Stoker”, “Retrato de Uma Mulher” e “O Pianista” e Besedka Johnson, que provou ser uma grande atriz aos 85 anos em seu primeiro e último papel no cinema em “Uma Estranha Amizade”.

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BLOCKBUSTER CHEGA AO FIM

VHS TrackingRebobine, por favor.

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Até dez anos atrás, as vídeo-locadoras eram as melhores opções para quem buscava por um entretenimento barato. O aluguel de filmes e games era o que garantia a felicidade de muitos adolescentes e famílias nos finais de semana, sempre se tornando uma opção para quem nem sempre podia arcar com as despesas de ir ao cinema. Com o advento do DVD, esse cenário mudou. Embora o formato tenha chegado no mercado ainda nos anos 1990, foi apenas na década passada que ele ganhou força ao ponto de tornar o VHS obsoleto. Não há dúvidas de que o DVD abriga muitas virtudes, mas sua tecnologia colaborou para a ruína do homevideo. O DVD é fácil de ser pirateado e a sua comercialização ilegal se transformou no modo de sustento de muita gente excluída do mercado de trabalho. Tudo piorou quando a Internet se tornou item indispensável na residência das famílias brasileiras, possibilitando o download gratuito de filmes de qualquer ano e país. As vídeo-locadoras não iriam suportar por muito tempo e a Blockbuster americana, até então a rede mais poderosa de homevideo, declarou em novembro que fechará todas as suas portas. Já no Brasil, a Blockbuster ainda conta com 160 unidades, mas elas só sobrevivem porque são sustentadas pelo mesmo grupo responsável pelas Lojas Americanas – atualmente, os dois estabelecimentos dividem o mesmo espaço físico em vários municípios do pais. Fim de uma era.

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VIVA O CINEMA BRASILEIRO!

Minha Mãe é Uma PeçaO fantástico Paulo Gustavo assume o topo dos mais vistos com “Minha Mãe é uma Peça – O Filme”.

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2013 definitivamente foi um dos melhores anos para o cinema brasileiro desde a Retomada. Nunca tivemos tantos filmes lançados (estima-se que 115 títulos foram exibidos nos cinemas ao longo do ano) e batemos recorde de faturamento (256 milhões contra os 157 milhões do ano passado). Uma análise mais profunda aponta que grande porcentagem desses números foram garantidos por produções de humor popular, mas é um erro repetir o discurso amargo de vários analistas. Afinal, os dois maiores sucessos do ano, “Minha Mãe é uma Peça – O Filme” e “Vai que dá Certo”, foram certeiros ao fazer humor com temas muito presentes na vida do brasileiro comum, encontrando na empatia e graça os ingredientes secretos para conquistar o público. Culpar os filmes com o selo Globo Filmes por ocupar grande fatia do mercado agora é coisa do passado, como provaram os estrondos provodados por filmes que surpreenderam ao atrair um número expressivo de espectadores. Dado o circuito restrito, “O Som ao Redor” não apenas lotou sessões em festivais nacionais como vendeu mais de 90 mil ingressos durante sua passagem pelo circuito comercial. O resultado dessa boa acolhida foi a oportunidade de disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no próximo Oscar. Até mesmo o documentário “Elena” se saiu perfeitamente bem, tendo ultrapassado a marca de 40 mil espectadores, um número impressionante para um filme de não-ficção. Que esse progresso não seja interrompido em 2014.

Retrospectiva 2012

Ao conversar com alguns colegas em dezembro, percebi que todos não estavam plenamente satisfeitos com o que o cinema pôde oferecer ao longo de 2012. Apesar dos bons títulos exibidos entre janeiro e março, realmente não houveram tantos filmes que valessem a ida ao cinema, especialmente no segundo semestre. Ao refletir sobre este incômodo, não pude deixar de iniciar 2013 fazendo uma rápida retrospectiva do que aconteceu no cinema no ano passado. Os principais destaques vocês podem ver a seguir.

Os Mercenários 2

A NOSTALGIA QUE INVADIU O CINEMA EM 2012

O cinema contemporâneo recicla constantemente os elementos que asseguraram o sucesso de filmes do passado, às vezes como homenagem, às vezes como refilmagem. Em 2012, as coisas não foram diferentes, mas houve neste ano em particular uma nostalgia exacerbada. Uma das obras-primas do holandês Paul Verhoeven, “O Vingador do Futuro” ganhou uma refilmagem com cenários que remetem a “Blade Runner – O Caçador de Androides”. Responsável por “Alien – O Oitavo Passageiro”, Ridley Scott fez “Prometheus”, prequel da franquia estrelada por Sigourney Weaver. Já o musical “Rock of Ages – O Filme” tentou (sem sucesso) resgatar o espírito rock n’ roll oitentista. Nesta tendência, quem se saiu melhor foi Sylvester Stallone, que em “Os Mercenários 2” fez não apenas uma sequência que supera a obra original, mas uma oportunidade de reunir astros do passado como Jean-Claude Van Damme, Chuck Norris e Arnold Schwarzenegger. Há também de se mencionar “007 – Operação Skyfall”, capítulo que comemora os cinquenta anos da franquia ao trazer um James Bond em crise com a idade e antiquado nas artimanhas usadas para derrubar o inimigo interpretado por Javier Bardem.

A Invenção de Hugo Cabret | O Artista

“A INVENÇÃO DE HUGO CABRET”, “O ARTISTA” E OS PRIMÓRDIOS DO CINEMA

Em termos de popularidade, não houve filmes mais comentados em 2012 do que “A Invenção de Hugo Cabret” e “O Artista”. O falatório não se concentrou apenas na disputa dos filmes de Martin Scorsese e Michel Hazanavicius no Oscar, mas no valor que estes dois títulos agregam quanto ao interesse pelas origens da sétima arte. Em tom de aventura para toda a família, Scorsese presta a sua homenagem ao cinema ao focar a triste história de um órfão que conhece um Georges Méliès, realizador de “Viagem à Lua”, distante dos seus dias mais gloriosos. Já Hazanavicius analisa as consequências da transição do cinema mudo para o cinema falado através da figura de George Valentin, maior astro de Hollywood que não responde adequadamente a esta mudança.

O Artista [Oscar]

A CONSAGRAÇÃO DE “O ARTISTA” NO 84° OSCAR

Nada contra “Quem Quer Ser Um Milionário”, “Guerra ao Terror” e “O Discurso do Rei”, mas já era hora de um filme realmente excelente vencer o Oscar. Isto aconteceu na última edição do evento, que rendeu a “O Artista” os prêmios de melhor filme, melhor direção, melhor ator, melhor trilha-sonora e melhor figurino. Seu maior oponente, “A Invenção de Hugo Cabret”, somou cinco vitórias, mas apenas em categorias técnicas. Embora a tensão se concentrasse no embate entre o filme de Hazanavicius e Scorsese, a edição reservou surpresas bem agradáveis. Ao contrário de suas participações anteriores, Billy Crystal não empolgou nem um pouco como anfritrião da festa, mas os discursos de vitórias representaram os grandes momentos da noite. Destaca-se Meryl Streep, que após anos e mais anos de indicações finalmente conquistou o seu terceiro Oscar por “A Dama de Ferro”. O vacilo da edição foi o esquecimento da interpretação arrasadora de Tilda Swinton em “Precisamos Falar Sobre o Kevin” – a vaga foi ocupada pela superestimada Rooney Mara, que faz uma Lisbeth Salander inferior àquela incorporada por Noomi Rapace na versão sueca de “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”. Em tempo: das premiações pré-Oscar, não deixe de conferir também os comentários sobre os vencedores do último Globo de Ouro e Independent Spirit Awards.

Trilogia Jogos Vorazes

ADOLESCENTES COMO PÚBLICO-ALVO

Com o mercado de literatura juvenil se fortalecendo a cada dia, alguns produtores espertos têm buscado por best-sellers que podem repetir o sucesso nos cinemas com uma adaptação. As franquias “Harry Potter” e “A Saga Crepúsculo” foram concluídas recentemente e registraram números arrasadores nas bilheterias mundiais. Por tudo isto, não poderíamos deixar de relembrar a febre que virou a trilogia “Jogos Vorazes”, suja adaptação cinematográfica foi bem acolhida pelo público e crítica. Só nos Estados Unidos, “Jogos Vorazes” arrecadou mais de 400 milhões de dólares. A recepção comprova que em 2012 o cinema finalmente descobriu como atrair a garotada, lidando com universos em que os anseios da adolescência estão presentes. Como consequência, 2013 estará recheado de novas adaptações de livros juvenis. Entre eles, “A Hospedeira” (cujo romance é escrito pela mesma Stephenie Meyer de “Crepúsculo”), a sequência de “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” e o próprio “Em Chamas”, que dá continuidade à história de “Jogos Vorazes”.

Taylor Kitsch

TAYLOR KITSCH: ESTRELA CADENTE DE HOLLYWOOD

Com astros como Johnny Depp, Brad Pitt e Tom Cruise envelhecendo, Hollywood parece desesperada em selecionar jovens intérpretes que tenham o poder de conquistar o grande público e se tornarem ídolos. Neste ano, duas super-produções apostaram todas as fichas no canadense Taylor Kitsch, protagonista de “John Carter – Entre Dois Mundos” e “Battleship – A Batalha dos Mares”. Tão malhado quanto mau ator, o Gambit de “X-Men Origens: Wolverine” e Tim Riggins do seriado “Friday Night Lights” tem carisma zero e responde por uma boa parcela do fracasso das péssimas aventuras científicas de Andrew Stanton e Peter Berg. Só se deu razoavelmente bem em “Selvagens”, novo filme de Oliver Stone que não ficou no vermelho. É o novo Josh Lucas.

Michael Haneke em CannesUma vez que não há a ilustre presença de Lars von Trier, o Festival de Cannes automaticamente se livra de ocasiões polêmicas, ainda que se mostre notório pelas suas sessões em que há ovações ou vaias ensurdecedoras. A última edição teve “Moonrise Kingdom” como filme de abertura, escolha que apenas antecipou a manifestação em massa de produções americanas de olho na Palma de Ouro. Pois só “Indomável Sonhadora” levou algo para casa, a Câmera de Ouro, destinada a um filme em competição que conte com um diretor estreante – o júri desta categoria, aliás, foi presidido pelo brasileiro Cacá Diegues. Ainda inédito no Brasil, “Amor” consagrou novamente Michael Haneke, já premiado três anos atrás por “A Fita Branca”. Protagonistas de “Além das Montanhas” (que será lançado por aqui ainda este mês) Cristina Flutur e Cosmina Stratan dividiram o prêmio de melhor atriz enquanto Mads Mikkelsen foi laureado como melhor ator por “A Caça”, de Thomas Vinterberg. Nas demais categorias, Matteo Garrone levou o Grand Prix por “Reality”, Ken Loach o Prêmio do Júri por “A Parte dos Anjos”, Cristian Mungiu pelo roteiro de “Além das Montanhas” e Carlos Reygadas pela direção de “Post Tenebras Lux”.

Peter Jackson, diretor de O Hobbit - Uma Jornada Inesperada

48 QUADROS POR SEGUNDO: NOVA TECNOLOGIA NO CINEMA

Se as gerações anteriores demoravam para experimentarem novas tecnologias no cinema, agora somos submetidos a novas artimanhas que buscam proporcionar um entretenimento mais realista possível. Além da volta com força total do 3D, atualmente contamos com salas de cinema com telas mais amplas e equipamentos de som mais potentes. Sem dizer os benefícios de se ver um filme em casa com a popularização do Blu-ray. Neste ano, uma nova tecnologia foi criada. Trata-se do HFR, ou High Frame Rate, aplicada em “O Hobbit – Uma Viagem Inesperada” e que representa a passagem de 48 quadros (ou fotogramas) por segundo – os filmes que assistimos contém 24 quadros por segundo. O resultado é um trabalho visual mais realista, capaz de nos fazer encarar como crível um universo de fantasia. Mesmo que ainda não tenhamos postado uma resenha para “O Hobbit – Uma Viagem Inesperada”, já assistimos ao filme e recomendamos que seja visto no formato.

Chico Anysio como Professor Raimundo

PERDAS SENTIDAS

Nem todas as retrospectivas são feitas de fatos positivos que aconteceram ao longo de um ano. Em 2012, houve perdas sentidas não apenas no cinema, mas também na televisão e na música. Donas de vozes poderosíssimas, Whitney Houston, Etta James e Donna Summer deixaram como legado canções que permanecem emocionantes e únicas. Não foi um ano fácil para os brasileiros, que perderam dois ícones da televisão. Mesmo diagnosticada com câncer em 2010, Hebe Camargo se mostrou um exemplo de vida ao encarar a adversidade com garra e seu inesquecível bom humor. E falando em humor, o Brasil ficou mais triste dia 23 de março, data que partiu o grande Chico Anysio, sem dúvida o maior comediante que já tivemos. Deixarão saudades também as atrizes Regina Dourado, dona de papéis marcantes em novelas como “Roque Santeiro”, “Tropicaliente” e “Renascer”, e Marly Bueno. Em Hollywood, os veteranos Celeste Holm, Ernest Borgnine e Ben Gazzara tiveram de dar adeus, assim como o diretor Tony Scott (que deixa como obra mais marcante o terror “Fome de Viver”) e Michael Clarke Duncan, grandalhão que emocionou a todos em “À Espera de Um Milagre”, filme para o qual concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Por fim, é preciso também mencionar Sylvia Kristel, de “Emmanuelle”. Ao viver a personagem-título, Kristel brincou com a imaginação de muitos espectadores. Inclusive deste que voz fala.

Os Vingadores [Bilheteria]

FENÔMENOS DE 2012

Antes um feito alcançado apenas por “Titanic”, atingir um bilhão de dólares em bilheterias mundiais não anda sendo uma grande novidade, apesar da alegria dos distribuidores. Em 2012, três títulos ultrapassaram a marca: “Os Vingadores”, “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” e “007 – Operação Skyfall”. Aqui no Brasil, temos uma outra marca, só que muito mais modesta: um milhão de espectadores. Por aqui, tivemos quatro sucessos estrondosos: “E aí, Comeu?” (2,5 milhões de ingressos vendidos), “Até que a Sorte nos Separe” (2,2 milhões), “Os Penetras” (1,6 milhões) e “Gonzaga – De Pai Pra Filho” (1,5 milhões). Lançado no último final de semana, “De Pernas Pro Ar 2” já foi visto por mais de 600 mil espectadores.

Retrospectiva 2011

Cena de “Amizade Colorida”, com Justin Timberlake e Mila Kunis

NOVOS RUMOS PARA AS COMÉDIAS ROMÂNTICAS

As comédias românticas representam o gênero cinematográfico mais manjado. Para ir ao cinema conferir a alguma fita desse gênero só acompanhado pela(o) namorada(o) ou quando não há opções melhores em cartaz. Mas eis que neste ano chegaram ao Brasil ao menos quatro filmes que parecem indicar uma nova forma de se encenar histórias tão previsíveis: com pouca roupa. “Amor e Outras Drogas“, “Sexo Sem Compromisso“, “Amizade Colorida” e “Qual Seu Número?” são os filmes que trazem protagonistas com corpos sarados à mostra. Nem todos se livraram do maldito lençol em “L”, mas tudo indica que daqui para frente não teremos filmes tão comportados assim, o que deverá deixar de cabelos em pé alguns censores.

“And thank you god for making me an atheist”

AS POLÊMICAS DE RICKY GERVAIS NO GLOBO DE OURO 2011

Há tempos não se via uma edição do Globo de Ouro que deixasse tão exposto o seu caráter de evento mais duvidoso de todos. Angelina Jolie e Johnny Depp sendo indicados por “O Turista“? “Burlesque” como melhor comédia/musical? Halle Berry ocupando vaga na categoria de melhor atriz dramática por um filme, “Frankie and Alice”, que ninguém viu? O seriado “Glee” novamente marcando forte presença? Não passa de desculpa esfarrapada para ocupar as mesas com as celebridades mais belas e comentadas do momento, o que ajuda a atrair uma boa audiência e, provavelmente, encher o bolso dos votantes com mimos dados por produtores que querem ver suas produções indicadas. Mas quer saber? Acompanhar o Globo de Ouro se revelou uma experiência menos tortuosa do que o Oscar. O motivo é composto por duas palavras: Ricky Gervais. O comediante britânico, ácido que só ele, não perdoou ninguém. Disse que nem ele mesmo viu “O Turista” e que o filme só estava ali por causa de suborno, citou os pontos mais vergonhosos da carreira de Bruce Willis e ainda o chamou de “pai de Ashton Kutcher”, desdenhou de Tim Allen e apontou que a categoria de melhor filme estrangeiro é uma que ninguém dali se importa. De bônus, houve ainda agradáveis surpresas. Entre elas, Paul Giamatti como melhor ator de comédia ou musical por “A Minha Versão do Amor” e Laura Linney como melhor atriz em seriado cômico ou musical por “The Big C”.

Enquanto Anne Hathaway se esforça, James Franco usa Twitter durante cerimônia do Oscar 2011

OSCAR 2011: MAIS INSOSSO DO QUE NUNCA

O Oscar é a premiação que todo cinéfilo aguarda roendo as unhas. Por outro lado, também é aquela onde todo mundo adora chutar o balde quando exibido. Na edição de 2011 não foi diferente, a começar com as críticas direcionadas aos apresentadores. Anne Hathaway é uma fofa, mas não há ser no mundo que consiga se sair bem quando precisa dividir um palco com um banana como James Franco, um dos atores que mais amo odiar e que parecia sob efeito de drogas pesadas. Outro problema foi a falta de momentos marcantes. Com exceção das presenças de Kirk Douglas (só o pó apresentando a categoria que rendeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante para Melissa Leo por “O Vencedor“) e Billy Cristal (boa notícia: ele será o próximo anfitrião), tudo correu de forma muito careta. O tom talvez reflita diretamente o vencedor da noite, a produção britânica “O Discurso do Rei“, cujo prêmio era possível ser antecipado com o prêmio de melhor diretor para Tom Hooper e a exibição do vídeo para a categoria de melhor filme que destacava em demasia a produção do rei gago. De qualquer maneira, mais da metade dos finalistas eram apáticos do jeito que os acadêmicos gostam e filmes que realmente tem um algo a mais como “Minhas Mães e Meu Pai” e “Inverno da Alma” tiveram que se contentar apenas com as indicações. E desculpe o comentário totalmente pessoal, mas como é bom ver Nicole Kidman se reerguendo como intérprete.

“I understand Hitler; I sympathize with him a bit”

PERSONA NON GRATA DE CANNES 2011

O Festival de Cannes é uma premiação que demora para surtir efeito em qualquer cinéfilo. Afinal, todos os longos, em competição ou não, têm suas primeiras exibições no evento e só depois de muito tempo eles chegam nos cinemas ou em home vídeo para nós prestigiarmos – até isso acontecer, os prêmios já foram distribuídos e restará apenas discutir com os amigos os resultados. Pois nada melhor do que encaixar comentários referente a última edição do Festival de Cannes nesta retrospectiva. Com Faye Dunaway estampando o cartaz do evento, tivemos “Beleza Adormecida”, da estreante Julia Leigh, como o filme de abertura, drama que de certa forma representou bem a ausência de unanimidade de Cannes, que sempre conta com vaias exageradas e aplausos ensurdecedores. Nas categorias principais, tivemos o prêmio de melhor direção para o trabalho do dinamarquês Nicolas Winding Refn em “Drive” (que em breve chegará aos cinemas brasileiros), melhor ator para o francês Jean Dujardin (“O Artista”), melhor atriz para o assombroso trabalho de Kirsten Dunst em “Melancolia” e, finalmente, a Palma de Ouro para “A Árvore da Vida” – sempre sumido, Terence Mallick não estava presente para receber pessoalmente o prêmio. Nada que se aproximasse do agito provocado por novos depoimentos da autoria de Lars von Trier, banido do festival após dizer, em tom de brincadeira, que compreendia Hitler. Se não tivesse dito tantas bobagens, provavelmente conseguiria com “Melancolia“, sua primeira obra-prima após “Dogville”, o prêmio máximo do evento.

“The ups and downs, the problems and stress, along with all the happiness, have given me optimism and hope because I am living proof of survival”

ADEUS ELIZABETH TAYLOR

Para alguém que superou várias fases onde o estado de saúde era crítico, pode-se dizer que Elizabeth Taylor foi capaz de viver muito bem. Ganhou dois Oscar (um deles, por “Disque Butterfield 8”, bem injusto, é verdade), foi a primeira a ganhar o cachê de um milhão de dólares (por “Cleópatra”), pôde se casar oito vezes (duas só com Richard Burton), foi mãe de quatro crianças e avó de outros nove, testemunhou grandes amigos como Michael Jackson e Rock Hudson partirem, saiu de várias cirúrgicas (inclusive uma para remover um tumor no cérebro) com sucesso, comprou muitos diamantes, pôde levantar fundos para campanhas contra a AIDS, criou sua própria linha de perfumes… É difícil em uma única existência conseguir tantos feitos e superar tantas adversidades, mas Elizabeth Taylor conseguiu isso e muito mais. Foi a maior estrela da Era de Ouro de Hollywood e se um momento teve que partir (faleceu no dia 23 de março), pôde deixar como testamento para seus fãs uma filmografia extensa. De altos e baixos sim, mas que não deixam de enaltecer seu talento inquestionável e sua beleza extrema.

Incoformados, paulistanos lutaram pela sobrevivência do cinema

O FIM DO CINE BELAS ARTES

Conforme o tempo passa, os famosos cinemas de rua são exterminados das grandes metrópoles. Redes de cinema como Cinemark e Playarte dominaram os shoppings centers e o público do circuito alternativo se esvai, o que infelizmente arrecatou no fechamento de cinemas como o Gemini, Astor e o Lilian Lemmertz. Quase há sete décadas em funcionamento, o Cine Belas Artes ficou comprometido com o rompimento do patrocínio mantido com o banco HSBC. A única saída foi mobilizar o público a aparecer com maior frequência ao estabelecimento ao mesmo tempo que André Sturm, sócio-proprietário do cinema, corria para fechar acordo com um novo patrocinador. Quando tudo parecia resolvido, um golpe do destino: Flávio Maluf, proprietário do imóvel, impôs um aumento absurdo de aluguel, inviável somando todas as outras despesas. Foram meses de mobilização de centenas de paulistanos e um processo de tombamento com resposta negativa. As portas do Cine Belas Artes tiveram que ser fechadas em março, deixando vários cinéfilos órfãos de um espaço cuja programação ainda incluía o famoso noitão, evento mensal que exibia três ou quatro filmes (um deles surpresa) pelo preço de um ao longo da madrugada – aqueles que como eu já foram sabem a falta que faz.

Michelle Pfeiffer foi inspiração para Elizabeth Olsen se tornar atriz

NASCE UMA ESTRELA: ELIZABETH OLSEN

Todo ano uma nova estrela surge com uma carreira promissora. Se em 2011 houve um nome que se destacou entre os demais sem dúvidas foi da jovem Elizabeth Olsen. O seu extraordinário trabalho em “Martha Marcy May Marlene” já lhe rendeu ao menos uma dúzia de prêmios e indicações, que surpreendentemente tem nesta produção independente o seu primeiro trabalho como atriz (embora o remake de “A Casa“, “The Silent House”, tenha sido filmado antes, “Martha Marcy May Marlene” ganhou lançamento primeiro). Prestes a completar vinte e três anos, Elizabeth Olsen é formada no Tisch School of the Arts e, contando com “The Silent House”, tem cinco filmes que ganharão o circuito em breve, entre eles “Red Lights” (suspense estrelado por Robert De Niro e dirigido por Rodrigo Cortés) e “Paz, Amor e Muito Mais”, novo retorno da veterana Jane Fonda. Os tabloides dizem que a o início de sua carreira como atriz é tão bem-sucedido que suas irmãs mais velhas, as gêmeas Olsen, estão morrendo de inveja.

Jessica Chastain: sete filmes em 2011

O ANO É DE JESSICA CHASTAIN

Considerar Jessica Chastain uma novata é um pouco equivocado, pois desde 2004 esta californiana nascida em 1981 tem trabalhado em séries de tevê e pequenos dramas independentes de pouca visibilidade. Pois a vida profissional de Jessica Chastain ganhou um up no último ano assim que lançou em Cannes “A Árvore da Vida“, filme que garantiu a Terence Mallick a Palma de Ouro. É difícil imaginar como Jessica Chastain teve tempo para respirar nesta fase tão conturbada de sua carreira, garantindo presença em inúmeros projetos além de “A Árvore da Vida“: “No Limite da Mentira”, “Coriolanus”, “Histórias Cruzadas“, “Em Busca de um Assassino”, “Wilde Salome” e “O Abrigo”. As interpretações de Jessica foram tão marcantes em todos esses projetos que a imprensa americana já a chama de a nova Meryl Streep.

A ação movida contra “A Serbian Film” diz que ele tem “cenas de incesto e violência a granel”

“A SERBIAN FILM” E A CENSURA

“A Serbian Film – Terror sem Limites” é uma produção tão tola que não merece uma linha de atenção. Afinal, suas sequências de sexo e violência extremos, das quais o diretor Srdjan Spasojevic confirma refletir sua indignação com o país onde vive, são apenas encenações repulsivas. Foi o suficiente para a produção atualizar o seu histórico de restrições pelos países que passou, pois “A Serbian Film – Terror sem Limites” teve a sua exibição vetada pelos censores, que o declarou como inapropriado para ser exibido em qualquer sala de cinema no país. A Petrini Filmes, distribuidora de “A Serbian Film – Terror sem Limites”, recorreu, mas teve que se contentar com uma estreia restrita no Rio de Janeiro e exibições em festivais undergrounds de cinema em uma ou outra cidade. A polêmica só rendeu mais fama ao filme, que foi um dos mais baixados no ano passado e que reabriu a já enterrada discussão sobre o direito de escolha do espectador em ver o que lhe der na telha sem que a censura interfira.

Os óculos provocam uma irritação…

O DECLÍNIO DO CINEMA 3D

A obsessão de James Cameron em sempre manter o título de cineasta visionário cansa. Se hoje dia a mania do 3D está mais forte do que nunca é porque “Avatar” existe. Atualmente a maior bilheteria de toda a história do cinema, “Avatar” é mesmo uma experiência marcante diante de óculos especiais. O problema é que qualquer filme se aproveita do recurso sem ao menos contar com uma história que o force como necessário. A boa notícia é que o 3D se desgastou rapidamente, tendo declínio expressivo com alguns filmes lançados em 2011. “Conan, O Bárbaro“, um dos maiores fracassos em tempos recentes, recebeu inúmeras cópias em 3D tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. “Besouro Verde“, outra bobagem, fechou o caixa com grana abaixo do esperado e recebeu comentários para lá de negativos a respeito de seu 3D estereoscópico. “Padre“, baseado em uma graphic novel coreana, não tem uma sequência sequer que justifique sua conversão para o formato. Também lançado em 3D, “Os Três Mosqueteiros” não foi capaz de reprisar a deliciosa experiência proporcionada em “Resident Evil 4: Recomeço“, também dirigido por Paul W.S. Anderson. E quem teve a péssima ideia de lançar também em 3D o remake do “terrir” “A Hora do Espanto”? Não apenas pela falta de qualidade, todos os títulos apontados e outros mais fracassaram porque cobraram muito mais para serem projetados em um formato que aborrece pela forma porca como foi concebida. E também ninguém merece sair de uma sala de cinema frustrado com um filme ruim e com os olhos irritados após uma chuva de informações visuais desastrosas.

Johnny Depp em “O Diário de Um Jornalista Bêbado”, um dos maiores fracassos de bilheteria em 2011

JOHNNY DEPP: AINDA O ASTRO N.º 1 DE HOLLYWOOD?

Se fosse necessário apontar um único astro para representar toda a década passada ele seria Johnny Depp sem pensar duas vezes. Camaleônico, este americano tem reunido as características de um ator irretocável: é carismático, sempre versátil na escolha de personagens e jamais trabalha no piloto automático. Porém, a imensa popularidade alcançada com o capitão Jack Sparrow da franquia “Piratas do Caribe” teve uma consequência negativa para Johnny Depp entre 2009 e 2011. Estampar seu rosto em tantos blockbusters sem um pingo de ousadia desgastou sua imagem diante dos americanos, atualmente pouco entusiasmados em conferi-lo nos cinemas. Não se discute o sucesso mundial de “Alice no País das Maravilhas” e “Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas“, cada um com mais de um bilhão de dólares arrecadados. Porém, considerando apenas a arrecadação de seus filmes em terras estadunidenses os números se revelam bem desapontadores. O fiasco de “O Diário de Um Jornalista Bêbado”, adaptação do romance homônimo de Hunter S. Thompson, pôs em cheque o poder de Johnny Depp em Hollywood. Isto porque a produção de 2011 rendeu pífios 13 milhões de dólares diante do orçamento de 45 milhões de dólares, um valor bem modesto diante de seus outros projetos como protagonista. Será que Johnny Depp conseguirá reconquistar a fama de cinco anos atrás?

Woody Allen dirige a primeira-dama francesa Carla Bruni

O SUCESSO DE “MEIA-NOITE EM PARIS

Woody Allen continua batendo cartão anualmente no cinema, mas até o momento não rodou um filme que superasse o já distante “Match Point”, sua última obra-prima produzida em 2005. Isto inclui seu filme mais recente, “Meia-noite em Paris“, cujos comentários são mais entusiasmados do que deveriam. Porém, diante do tópico bilheteria, o filme merece destaque. Isto porque “Meia-noite em Paris” é o filme de maior sucesso em toda a carreira de Woody Allen nos cinemas. Se o veterano nova-iorquino sempre se queixou pelos seus filmes não emplacarem ao chegar aos cinemas, ao menos nesta ocasião ele só tem a comemorar.

Diretor indicado seis vezes ao Oscar solicitou a remoção de seu nome em “A Casa dos Sonhos”

JIM SHERIDAN OU ALAN SMITHEE?

O veterano cineasta Jim Sheridan reascendeu no final de 2011 uma polêmica que há muito não acontecia. Descontente com o produto final de “A Casa dos Sonhos”, o pior e mais embaraçoso suspense do ano passado, Sheridan quis tomar uma atitude drástica: remover o seu nome dos créditos desta produção de 50 milhões de dólares estrelada por Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts. A solicitação enviada pelo próprio diretor para a Associação dos Diretores Americanos foi ignorada. Insatisfeito, Jim Sheridan voltou para a sua Irlanda natal para filmar “Sheriff Street”, do qual também é roteirista. Em tempo: Alan Smithee é o pseudônimo já usado por alguns cineastas como Kiefer Sutherland (“Procura-se”), Dennis Hopper (“Atraída Pelo Perigo”) e John Frankenheimer (o televisivo “Riviera”) que queriam desvincular seus nomes de projetos editados sem seus próprios consentimentos.

Drama registra a segunda vez de Selton Mello por trás das câmeras

POUCAS NOVIDADES PARA O CINEMA BRASILEIRO

Ao contrário do ano retrasado, 2011 teve pouquíssimos filmes nacionais que valeram o ingresso. Isto porque títulos como “Cilada.com“, “Qualquer Gato Vira-Lata”, “Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo” e uma dezena de outros miravam o grande público, mas todos não passavam de projetos amadores com uma sucessão de piadas vulgares, interpretações fora do tom e que defendiam moralismos grotescos. Obras mais elogiadas como “Trabalhar Cansa”, “Os 3”, “Os Monstros” e “Amanhã Nunca Mais” outra vez ganharam pouca visibilidade ao chegarem no circuito comercial. Há ao menos duas coisas que merecem ficar na memória: os sucessos de “O Palhaço”, produção que confirma o talento de Selton Mello como cineasta, e “Bruna Surfistinha“, cujos dois milhões de ingressos vendidos confirmam que o público está preparado para encarar sem preconceitos um filme que a princípio tinha todos os elementos para nos afastar. Além dos já citados “Cilada.com“, “Qualquer Gato Vira-Lata”, “O Palhaço” e “Bruna Surfistinha“, “O Homem do Futuro“, “Assalto ao Banco Central” e “De Pernas Pro Ar” foram outras produções a superarem a marca de um milhão de ingressos vendidos.

FILMES QUE ESTREARAM NOS CINEMAS BRASILEIROS E QUE, PARA O BEM OU PARA O MAL, MARCARAM 2011: Mesmo com o chato final feliz, “Enrolados” é mais um acerto da Disney | Clint Eastwood discute sobre a vida e a morte em “Além da Vida” | “O Mágico” comove o público adulto com poucas palavras | “Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, ainda provoca diversas reações | Sofia Coppola mais chata do que nunca em “Um Lugar Qualquer” | “Inverno da Alma” mostra um lado pouco explorado da América e revela o talento de Jennifer Lawrence | “Cisne Negro” é considerado por muitos o filme do ano | “O Vencedor” traz drama familiar mais empolgante que a ação no ringue de boxe | “Bravura Indômita” é o novo acerto dos irmãos Coen | Mesmo careta, “O Discurso do Rei” emocionou o público e arrebatou o Oscar | “Burlesque” é um exemplo de como não se fazer um musical | “Bruna Surfistinha” derrubou preconceitos e foi visto por mais de dois milhões de espectadores | Será “Incêndios” o melhor filme de 2011? | “Poesia” mostra o lado triste de envelhecer | Nicole Kidman rouba a cena em “Esposa de Mentirinha” | “Rango” é uma rara animação ao investir no faroeste | O experiente Brad Anderson comete seu primeiro tropeço com “Mistério da Rua 7” | “Em Um Mundo Melhor” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro | “Jogo de Poder” é uma tensa história real de agente que tem sua identidade revelada | “Cópia Fiel” faz um jogo sobre o que é ou não autêntico | As maravilhas da vida sob um prisma melancólico em “Não Me Abandone Jamais” | “O Sequestro de Um Herói” traz uma das melhores conclusões do ano | “Sucker Punch – Mundo Surreal” é um deleite estético | Wagner Moura novamente camaleônico em “VIPs” | Não há moralismos no inventivo “Sem Limites” | “Ricky” é um dos melhores filmes de François Ozon | “Rio” não tem boa historia, mas conquistou os brasileiros com a sua ginga | Wes Craven mostra porque é um dos grandes mestres do terror em “Pânico 4” | “Sobrenatural” resgata o que de melhor havia no terror dos anos 1970 e 1980 | “A Minha Versão do Amor” conta com Paul Giamatti em seu melhor como ator | “Água Para Elefantes” é uma péssima adaptação do excelente romance de Sara Gruen | Nicole Kidman de volta ao topo com seu comovente desempenho em “Reencontrando a Felicidade” | O romance científico “Os Agentes do Destino” convence | As conseqüências do adultério são relatadas de forma crível no italiano “Que Mais Posso Querer” | “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas” é aventura cansativa | “Se Beber, Não Case! Parte II” apenas repete o filme original | “Um Novo Despertar” é redenção de Mel Gibson | “X–Men – Primeira Classe” é de longe a melhor adaptação de histórias em quadrinhos dos últimos anos | Michelle Williams e Ryan Gosling vivem um casal em seus altos e baixos em “Namorados Para Sempre” | Woody Allen tem seu maior sucesso com “Meia-noite em Paris” | “Vênus Negra” é uma experiência difícil de ser repetida | “A Casa” é de fazer qualquer um dormir de luz acessa | Será “Transformers: O Lado Oculto da Lua” o último filme da franquia? | “Cilada.com” é o pior filme nacional de 2011 | Kristen Stewart prova que sabe atuar em “Corações Perdidos” | Finalmente acabou! “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II” é a última aventura do bruxo mais careta do cinema |  Vinicius de Oliveira rouba a cena em “Assalto ao Banco Central” | Philip Seymour Hoffman em desnecessária estreia como diretor em “Vejo Você no Próximo Verão” | “Mamute” é um road-movie francês estranho | “Melancolia” é a mais nova obra-prima de Lars von Trier | “Quero Matar Meu Chefe” traz Jennifer Aniston longe da imagem de Namoradinha da América | “A Árvore da Vida” é uma exuberante viagem sensorial | “Super 8” é Spielberg de segunda | “Professora Sem Classe” tem Cameron Diaz do jeito que o público gosta | “Um Sonho de Amor” é nova razão de Tilda Swinton ser uma das melhores atrizes do cinema contemporâneo | “Planeta dos Macacos – A Origem” é um prequel que deu muito certo | “Um Conto Chinês” é uma inusitada história real | “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual” é uma terna história sobre os anônimos virtuais de hoje | Tom Hanks e Julia Roberts provam que há muito perderam o prestígio com “Larry Crowne – O Amor Está de Volta” | Kate Hudson enfrenta um câncer irreversível em “Pronta Para Amar” | “Confiar” alerta sobre os perigos do mundo virtual | “Missão Madrinha de Casamento” é o filme mais engraçado de 2011 | O 3D de “Premonição 5” foi o único que valeu o ingresso no ano passado | “Contra o Tempo” comprova talento do filho de David Bowie, Duncan Jones | “Trabalhar Cansa” fez sucesso no circuito alternativo | “Os Três Mosqueteiros” é versão desnecessária do romance de Alexandre Dumas | Hilary Swank em outro grande desempenho em “A Condenação” | “Contágio” é tão bom que nem parece ser um filme de Steven Soderbergh | Oliver Parker é um diretor tão ruim que faz do genial Rowan Atkinson um comediante sem graça em “O Retorno de Johnny English” | Selton Mello comove o público em “O Palhaço” | “A Casa dos Sonhos” é tão ruim que até o seu diretor quis retirar seu nome dos créditos | Pedro Almodóvar decepciona em “A Pele Que Habito” | A dor de pais de um jovem assassino expressa em “Tarde Demais” | “Pronto Para Recomeçar” tem desempenho surpreendente de Will Farrell | O que Nicolas Cage e Nicole Kidman estão fazendo em “Reféns”? | “A Chave de Sarah” mostra que a Segunda Guerra Mundial ainda atinge as novas gerações | “Amanhecer – Parte 1” é a parte mais constrangedora de “A Saga Crepúsculo” | Gus van Sant não ganhou elogios com “Inquietos” | “Isto Não é Um Filme” acompanha cineasta proibido de filmar | “Os Muppets” é pura nostalgia | “Desaparecidos” é investida nacional no sub-gênero found footage | “Gato de Botas” vai além da cinesérie “Shrek” | “Margin Call – O Dia Antes do Fim” tem elenco sensacional | Sexo sem pudor em “Para Poucos” e “Trângulo Amoroso” | “Tudo Pelo Poder” é o melhor filme de George Clooney como cineasta | Tom Cruise quer provar que ainda há vida para Ethan Hunt com “Missão Impossível – Protocolo Fantasma” | “Compramos Um Zoológico” marca o retorno de Cameron Crowe | “Micmacs – Um Plano Complicado“, “Alexandria“, “Reino Animal“, “Esquizofrenia – Entre o Real e o Imaginário“, “O Primeiro Amor“, “As Coisas Impossíveis do Amor“, “A Mentira“, “Revolução em Dagenham“, “Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão“, “Dominados Pelo Ódio” e “Hanna” foram bons filmes que não ganharam exibição nos cinemas, mas que chegaram direto em DVD | P.S.: o excelente vídeo em anexo é um trabalho de Vinícius Pereira para a Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.