Resenha Crítica | Lady Bird: A Hora de Voar (2017)

Lady Bird, de Greta Gerwig

Qualquer pessoa que cresce em uma cidade pequena, certamente visualiza uma grande vida fora dela. A formação no colegial se aproxima, as vocações e possibilidades se manifestam e o lar não parece ter um tamanho compatível com as ambições que se carregam. O dilema entre ficar e partir é experimentado por Christine MacPherson (Saoirse Ronan) e é verdadeiro porque a diretora e roteirista que o compartilha, Greta Gerwig, passou por ele.

Em “Lady Bird: A Hora de Voar”, Christine é vista em 2002 em Sacramento, cidade da Califórnia. Estudante de um colégio católico, tem inclinações artísticas, mas parece sufocada pelas expectativas ao seu redor, principalmente as criadas pela sua mãe Marion (Laurie Metcalf), com quem tem um convívio por vezes tempestuoso.

Indecisa nos rumos profissionais (especialmente com a expectativa pelos resultados dos exames que prestou em universidades de Nova York), ela também passa por momentos delicados na vida privada. As exigências se avolumam quando o seu pai Larry (Tracy Letts, dramaturgo que vem priorizando a carreira de intérprete) perde o emprego. Já as primeiras experiências amorosas não poderiam se dar com rapazes mais opostos, como o expansivo Danny (Lucas Hedges) e o antissocial Kyle (Timothée Chalamet).

De modo singelo, Greta Gerwig vai costurando uma narrativa em que os acontecimentos são ditados a partir das contradições enfrentadas pela sua protagonista (e alterego). É o coming of age da vez, um “Quase 18” de 2017 quando este já era um “Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer” de 2016 e por assim vai. O que não significa que o registro de Greta seja desprovido de autenticidade e afetuosidade, acertando principalmente na dureza de um relacionamento entre mãe e filha que vai se tornando mais central ao curso do filme.

Incomoda talvez os traços hipsters de uma artista que carrega alguns vícios incômodos do cinema independente americano do qual foi revelada. O próprio fato de Christine, uma garota de 17 anos, exigir que todos ao seu redor a chamem somente de Lady Bird causa uma estranheza que compromete a seriedade do filme, bem como posturas que estariam mais de acordo com uma pré-adolescente, como a de mentir sobre a residência que habita para uma nova amiga. Sente-se nesses fatos a ausência de algo mais apurado, à altura de suas contribuições com Noah Baumbach nos textos de “Frances Ha” e “Mistress America“.

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