A Névoa Verde

Resenha Crítica | A Névoa Verde (2017)

The Green Fog, de Evan Johnson, Galen Johnson e Guy Maddin

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

A ponte Golden Gate talvez seja o maior cartão-postal de São Francisco e foi explorada exaustivamente pelo cinema. Mas há toda uma atmosfera particular nos demais ambientes da cidade californiana, que tão bem abraça especialmente as tramas policiais e de mistério.

O diretor de 62 anos Guy Maddin sempre filmou no Canadá, mas claramente tem uma relação de amor com São Francisco justamente na posição de espectador de cinema. Em “A Névoa Verde”, ele soma esforços com Evan e Galen Johnson para outra de suas realizações experimentais, aqui prestando tributo ao município que hoje conta com quase 900 mil habitantes.

No entanto, a homenagem foi pensada tendo outro elemento como ponto de partida: “Um Corpo que Cai”, de Alfred Hitchcock. Além de extrair um trecho desse clássico de 1958, Maddin e os Johnson pensaram em imagens de forte impacto do suspense para reprisá-las com o uso de quase 100 filmes e atrações televisivas que também se passam em São Francisco.

Ainda que ambientados em um mesmo cenário, as obras com trechos selecionados não poderiam destoar mais entre si. Entre elas, há “007: Na Mira dos Assassinos”, “A Conversação”, “A Dama de Vermelho”, “A Rocha”, “Alta Ansiedade”, “Instinto Selvagem”, “Jade”, “Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa”, “Mudança de Hábito 1 & 2”, “Perseguidor Implacável”, “Precipícios d’Alma”, “Se Meu Fusca Falasse…”, “Sem Sol”, entre outras.

Com um senso de humor reconhecível em sua filmografia, Maddin costura algo que às vezes causa o riso por conta de algumas escolhas engraçadinhas em sua montagem, como a de limar os diálogos. Há também intervenções no material original. Na mais hilária delas, Rock Hudson e Susan Saint James contracenam juntos em uma cena do seriado setentista “McMillan & Wife” com uma tevê transmitindo um clipe da boy band “‘N Sync”.

Por parecer mais uma colagem do que necessariamente a (re)construção de todo um filme, o resultado pode soar cansativo em alguns momentos. Felizmente, Maddin ao menos está em sua versão mais branda, com uma metragem que totaliza um pouco mais de uma hora. Além do mais, vale a pena dar essa única chance de assistir “A Névoa Verde” na tela grande. Com evidente violação de direitos autorais, certamente não passaria no circuito comercial.

Rosas Selvagens

Resenha Crítica | Rosas Selvagens (2017)

Dzikie róze, de Anna Jadowska

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

A Polônia é um país tomado pelas temperaturas mais extremas em sua mudança de estações e costumamos ter um acesso ao registro mais cinza das vidas que a habitam. Em “Rosas Selvagens”, a cineasta Anna Jadowska (que está em seu quinto longa-metragem) propõe um filme tão solar que mesmo o público se sentirá em um clima de casa de campo.

Essa atmosfera radiante não condiz nada com os tormentos internos de Ewa (a expressiva Marta Nieradkiewicz). Após uma longa estadia em um hospital por razões que não são explicitadas, ela regressa ao lar que abandonou temporariamente, tendo deixado os seus dois filhos, Marysia (Natalia Bartnik) e Jas (Dominik Weslig), aos cuidados de sua mãe (Halina Rasiakówna).

O momento de reconexão com as suas crias bate com a volta de seu marido Andrzej (Michal Zurawski), que costuma ficar meses em outros países a trabalho. A reunião é extremamente conflituosa, pois não se sabe o que Ewa estava enfrentando em isolamento, criando uma dessintonia com Andrzej. Sem dizer as intervenções de Marcel (Konrad Skolimowski), um jovem estudante com quem teve algo íntimo em um passado muito recente.

Jadowska também assina o roteiro e a sua pauta central é, evidentemente, a maternidade. Com a velha tradição das tarefas familiares e domésticas sendo relegadas às mulheres, Ewa nos faz questionar essa condição com uma desestabilização emocional que a impede de encontrar um ponto de equilíbrio. É uma mulher que passará por inúmeras provações e que ao final ainda assim revelará uma humanidade que surpreenderá a qualquer um.

José

Resenha Crítica | José (2018)

José, de Li Cheng

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

O sexo geralmente é associado a uma troca íntima que se faz com aquele ao qual o amor é correspondido ou a um prazer intenso, mas momentâneo. Para José, o personagem-título do segundo longa-metragem do chinês Li Cheng, o ato está mais condizendo com uma fuga da realidade.

Temos como cenário uma Guatemala periférica e nada atrativa, com uma população que ganha o mínimo para sobreviver. Entre a permanência em casa e no trabalho, José (interpretado pelo estreante Enrique Salanic) recorre aos aplicativos para encontrar parceiros sexuais em segredo, com eles tendo algum êxtase no tempo pré-pago em um motel barato.

Com 19 anos, José esconde a sua orientação, mas tanta discrição vai abrindo portas para alguns deslizes, percebidos por sua mãe (Ana Cecilia Mota), uma senhora superprotetora, dedicada ao lar e ao filho e religiosa. Esse momento se dá quando encontra em Luis (Manolo Herrera) alguém para ir além de uma transa casual.

A Guatemala é um país que produz muito pouco cinema (“José” é um dos três longas de ficção feitos ao longo de 2018) e Li Cheng desenvolve com George F. Roberson um texto que estabelece inúmeras características de identificação mesmo com as barreiras culturais. O sentimento mais forte que fica ao final, entretanto, é a extensão de uma história que talvez estivesse mais confortável como curta-metragem, algo que se confirma com um terceiro ato mais à deriva que José.

As Quatro Irmãs

Resenha Crítica | As Quatro Irmãs (2018)

As Quatro Irmãs, de Evaldo Mocarzel

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

É impossível não amar Vera Holtz. Hoje uma atriz veterana com uma série de papéis marcantes na tevê e no teatro e com uma presença que volta a ficar mais constante no cinema, Holtz é também aquela que encontrou nas redes sociais uma plataforma para expor um trabalho de performance que talvez seja o mais interessante já feito por qualquer outro artista brasileiro. Isso sem dizer a mulher afável que é pessoalmente.

Por tudo isso, merece um espaço todo seu como o centro das atenções de um documentário ditado por experiências particulares vividas em Tatuí, cidade na qual nasceu em agosto de 1953. Porém, preferiu se reunir com Evaldo Mocarzel (de “Do Luto à Luta”) propondo uma realização um pouco distante das formalidades do formato.

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Entrevista com Vera Holtz e Evaldo Mocarzel sobre o documentário “As Quatro Irmãs”

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Em “As Quatro Irmãs”, Holtz se reencontra com as suas irmãs Maria Teresa, Rosa Cristina e Regina Maria não na função de depoentes de suas próprias histórias e sim como mulheres que emulam as atividades que praticavam juntas na infância e adolescência antes que cada uma encontrasse o seu próprio rumo. Há desde a conversa na mesa da cozinha enquanto fazem bordados em panos de prato até a reunião na sala de estar para tocar piano.

Para as quebras desse cotidiano, Mocarzel intervém com características oriundas da ficção, como os textos recitados por Holtz e as tomadas na praia que evocam uma estética particular. A se lamentar que as irmãs de Holtz, que não são atrizes, não tenham mais espaço para que as suas falas também assumam algum protagonismo no registro.

O Rosto

Resenha Crítica | O Rosto (2018)

Twarz, de Malgorzata Szumowska

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Talvez o melhor filme de Malgorzata Szumowska, “Body” evidenciou um grande interesse da cineasta polonesa por uma abordagem excêntrica sobre temas pouco fáceis, como a finitude da vida e o apego por crenças em situações adversas. Ao exibir esse drama com toques de comédia no Festival de Berlim em 2015, dividiu o prêmio de direção com o romeno Raul Jude, de “Aferim!”.

Três anos depois, Szumowska voltou ao festival alemão com “O Rosto”. Trouxe para casa mais um reconhecimento em mãos, sendo o Grande Prêmio do Júri. Já a resposta da crítica não foi tão entusiasmada. Por muitas razões, como se percebe no desenvolvimento de sua narrativa.

O prólogo se prontifica em estabelecer o tom de “O Rosto”. Em uma loja de variedades, há um banner indicando que os consumidores que entrarem seminus serão contemplados com um desconto imperdível. Todos rumam diretamente para o departamento de televisores, o que desencadeia um embate físico daqueles.

O humor é nonsense e será replicado na trajetória do protagonista. Interpretado por Mateusz Kosciukiewicz, Jacek é um jovem bem relacionado na cidadezinha polonesa que habita. Quando não está trabalhando em construções civis, passa o tempo com Dagmara (Malgorzata Gorol), com a família meio disfuncional e a esmo ouvindo rock, principalmente “Metallica”, a sua banda favorita.

A obra da vez é uma estátua de Jesus Cristo erguida para rivalizar com o nosso Cristo Redentor e Jacek sofre um acidente que arruína todo o seu rosto. Mesmo com um transplante, a musculatura segue meio fora do lugar e ele passa a ter muitas dificuldades para dialogar e até mesmo comer.

Chega assim o instante em que Szumowska começa a gerenciar intenções com uma clareza duvidosa. Talvez a principal delas seja avaliar, com certa chacota, as posturas de indivíduos quando um conhecido passa a ser tratado como uma criatura de outro mundo. Estabelece campos de divisão, às vezes desfocando toda a metade do plano intencionalmente.

A única pessoa que segue leal a Jacek é a sua irmã (Agnieszka Podsiadlik). De resto, “O Rosto” ainda tece um comentário sobre a hipocrisia religiosa de um coletivo em que até mesmo o padre se revela adiante um homem com tendências à perversão. No fim das contas, é só tudo muito estranho e até um tanto dispensável.

A Casa que Jack Construiu

10 Filmes Para Assistir na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Na última quinta-feira (11) a 42ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo finalmente compartilhou para os cinéfilos a sua programação oficial. Composta por 336 títulos, ela ocorrerá ao longo de duas semanas, com direito a uma adicional chamada de repescagem, onde os destaques serão reprisados no CineSesc.

No início da cobertura da Mostra, o Cine Resenhas sempre prepara uma pequena lista formada por 10 longas que merecem ser priorizados no processo de montagem da programação de bolso. São muitas opções, desde aqueles que saíram badalados dos grandes festivais competitivos de cinema no mundo, de Sundance ao de San Sebastián.

A seguir, você pode ver as recomendações do Cine Resenhas acompanhadas de sinopse e breve ficha técnica.

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A Casa que Jack Construiu | The House that Jack Built | dir. Lars von Trier | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Um dia, durante um encontro casual na estrada, Jack mata uma mulher. Esse evento provoca nele um prazer inesperado e que o faz assassinar dezenas de pessoas ao longo de 12 anos. Devido ao descaso das autoridades e à indiferença dos habitantes locais, Jack não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executá-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio, em uma jornada rumo ao inferno.

A Favorita | The Favourite | dir. Yorgos Lanthimos | Site da Mostra | IMDb | Trailer

No início do século 18, a Inglaterra está em guerra com a França. A frágil rainha Anne ocupa o trono, mas é sua amiga lady Sarah que governa o país. É quando chega à corte uma nova e ambiciosa serva, Abigail. A novata acaba se aproximando da monarca, e a amizade crescente entre as duas desperta a ira de Sarah —mas Abigail não vai deixar ninguém atrapalhar seus objetivos.

Vencedor do Grande Prêmio Especial do Júri e da Copa Volpi de Melhor Atriz para Olivia Colman no Festival de Veneza.

A Madeline de Madeline | Madeline’s Madeline | dir. Josephine Decker | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Às vezes, Madeline é um gato, outras, uma tartaruga. No entanto, mesmo quando ela é Madeline, é difícil dizer se está apenas interpretando o papel de Madeline. Aos olhos de sua ansiosa mãe, a garota é uma criatura vulnerável cujo óbvio distúrbio mental requer cuidado e tratamento médico. Mas no palco, na oficina teatral dirigida pela exigente e por vezes até mesmo imprudente, Evangeline, Madeline é uma força da natureza.

Coincoin e os Inumanos | Coincoin et les Z’inhumains | dir. Bruno Dumont | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Continuação de O Pequeno Quinquin, também dirigido por Bruno Dumont, Coincoin e os Inumanos reúne os quatro episódios da série homônima. Na trama, Quinquin agora é um adolescente que responde pelo apelido de Coincoin. Ele participa de reuniões do Partido Nacionalista com seu amigo de infância Fatso e seu antigo amor, Eve, o abandonou por Corinne. Quando um misterioso magma surge perto da cidade, os habitantes repentinamente começam a se comportar de modo estranho. Junto com o capitão Van Der Weyden e seu fiel assistente Carpentier, eles investigam esse fenômeno, que tudo indica se tratar de um ataque alienígena.

Em Chamas | Beoning | dir. Lee Chang-dong | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Jongsu é um entregador que, no meio de um trabalho, reencontra Haemi, uma garota que já morou em sua vizinhança. A moça pergunta se ele poderia cuidar do seu gato enquanto ela estiver na África. Na volta, Haemi apresenta Jongsu a Ben, um jovem enigmático que ela conheceu durante a viagem. Um dia, Ben conta a Jongsu sobre seu hobby mais incomum. Baseado no conto Queimar Celeiros, do escritor japonês Haruki Murakami.

Vencedor do Prêmio da Crítica no Festival de Cannes.

Guerra Fria | Zimna wojna | dir. Paweł Pawlikowski | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Uma história de amor entre duas pessoas de origens distintas e temperamentos diferentes, fatalmente incompatíveis, mas ainda assim fatalmente condenadas uma à outra. Tendo como pano de fundo a Guerra Fria na década de 1950 na Polônia, em Berlim, na antiga Iugoslávia e em Paris, o filme retrata um amor impossível em tempos impossíveis.

Vencedor do Prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes.

Infiltrado na Klan | BlackKklansman | dir. Spike Lee | Site da Mostra | IMDb | Trailer

No início dos anos 1970, época de grandes convulsões sociais e luta pelos direitos civis, Ron Stallworth torna-se o primeiro detetive afro-americano no Departamento de Polícia de Colorado Springs. Mas sua chegada é recebida com ceticismo e hostilidade por parte da divisão. Destemido, Stallworth resolve fazer a diferença em sua comunidade e parte em uma perigosa missão: se infiltrar e expor a Ku Klux Klan.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes.

Poderia Me Perdoar? | Can You Ever Forgive Me? | dir. Marielle Heller | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Lee Israel é uma aclamada autora de biografias. Nas décadas de 1970 e 1980, publicou obras sobre Katharine Hepburn, Tallulah Bankhead e Estée Lauder. Quando não consegue mais emplacar propostas de livros porque suas ideias estavam fora de sintonia com o mercado, ela encontra outra saída para ganhar dinheiro. Lee começa a falsificar cartas, documentos e anotações de celebridades.

Vida Selvagem | Wildlife | dir. Paul Dano | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Joe tem 14 anos e é o único filho de Jeanette e Jerry. A família vive em uma pequena cidade no estado de Montana nos anos 1960. Perto dali, acontece um incêndio florestal nas proximidades da fronteira canadense. Quando Jerry perde o emprego, ele decide se juntar ao combate contra o incêndio, deixando a esposa e o filho sozinhos. Subitamente forçado a assumir o papel de adulto, Joe testemunha os esforços de sua mãe, enquanto ela tenta tocar a vida em frente.

Vidas Duplas | Doubles vies | dir. Olivier Assayas | Site da Mostra | IMDb | Trailer

Alain é um bem-sucedido editor parisiense com dificuldade em se adaptar à revolução digital. Ele tem grandes dúvidas sobre o novo manuscrito de Léonard, um de seus autores de longa data, que lançará um trabalho de autoficção, reciclando seu caso de amor com uma celebridade. Selena, a esposa de Alain, famosa atriz de teatro, é de opinião contrária e elogia a publicação.

42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo divulga arte e instalação de Laurie Anderson

.:: 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Festival tradicional de cinema em São Paulo, a Mostra chega em 2018 em sua 42ª edição já divulgando para o público e a imprensa a sua programação na íntegra e os seus eventos paralelos. No fim de setembro, foi apresentado a arte da vez, assinada pela artista multimídia americana  de 71 anos Laurie Anderson. Há dois anos, os cinéfilos brasileiros prestigiaram o seu belo documentário “Coração de Cachorro“.

Representação de “uma luz no fim do túnel”, como defendeu a diretora da Mostra Renata De Almeida em coletiva para a imprensa realizada no sábado passado (6/10), a arte sinaliza para uma importante conquista tanto para o evento quanto para o CineSesc: a inauguração de um espaço expositivo que acontecerá em um anexo do cinema que abrigará uma realidade virtual de autoria de Anderson chamada Chalkroom.

Com coautoria do artista taiwanês Hsin-Chien Huang, ela é toda composta por palavras como se escritas com giz escolar. Para Anderson, o pôster da Mostra sintetiza “um espaço feito de palavras e imagens de palavras – é como caminhar para dentro de uma história e se tornar parte dela. É uma maneira de você poder andar dentro de livros e filmes e deixar eles serem parte de sua própria história”. A cenografia da instalação é de Daniela Thomas e Felipe Tassara.

Com entrada gratuita, Chalkroom estará aberta a todos a partir do dia 18 de outubro, justamente o início da 42ª Mostra. O horário de funcionamento ainda será definido.

Como é feito anualmente, o Cine Resenhas fará cobertura da Mostra, iniciada com a publicação desse artigo. Além das breves análises dos filmes assistidos, haverá neste espaço a publicação de entrevistas e de informativos sobre o que acontece ao longo das três semanas do evento (a considerar também o período de repescagem). Abaixo, assista a vinheta da 42ª edição e consulte o serviço.

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SERVIÇO

42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
De 18 a 30 de outubro de 2018
Encontre as salas aqui

Permanentes e Pacotes Integrais
Permanente Integral – R$ 500,00
Permanente Integral Folha (15% de desconto para o titular da assinatura, mediante apresentação da carteirinha de assinante) – R$ 425,00
Permanente Especial (para sessões de segunda a sexta-feira até as 17:55; não contempla finais de semana nem sessões noturnas) – R$ 117,00
Permanente Especial Folha (15% de desconto para o titular da assinatura para sessões segunda a sexta-feira até as 17:55; não contempla finais de semana nem sessões noturnas) – R$ 99,45
Pacote de 40 ingressos – R$ 374,00
Pacote de 20 ingressos – R$ 220,00
*O desconto de 15% da Folha é válido somente para o assinante do jornal, mediante a apresentação do cupom impresso por meio do site da Folha (Clube Folha), sendo válido somente para o titular da assinatura.
*Desconto de 50% na compra de até dois ingressos por sessão para a força de trabalho do sistema Petrobras e para titulares do Cartão Petrobras em todas as sessões da Mostra.

Ingressos Individuais
Segundas, terças, quartas e quintas: R$ 20,00 (inteira) | R$ 10,00 (meia).
Sextas, sábados e domingos: R$ 24,00 (inteira) | R$ 12,00 (meia).
*Para adquirir ingressos no dia da sessão, somente nas salas de cinema.
*A Central da Mostra não vende ingressos avulsos, apenas os pacotes.

Vendas pela Internet
No site veloxtickets.com, o ingresso poderá ser adquirido com antecedência de quatro dias a um dia da sessão.

Contato
ABMIC – Associação Brasileira Mostra Internacional de Cinema
Rua dos Pinheiros, 240 – cj.32 – 3ºandar | CEP 05422-000 | São Paulo – SP | Brasil
+55 11 3141-2548 | info@mostra.org

Site: http://www.mostra.org
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Twitter: @mostrasp
Instagram: @mostrasp

Custódia

Resenha Crítica | Custódia (2017)

Jusqu’à la garde, de Xavier Legrand

.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

.:: Festival Varilux de Cinema Francês 2018 ::.

Produzido em 2013, “Avant que de tout perdre” exibia a desestruturação de uma família, na qual uma mulher e seus dois filhos temiam as ações impulsivas do marido e pai. No ano seguinte, essa história recebeu uma indicação ao Oscar e a vitória no César na categoria de Melhor Curta-Metragem de Ficção.

Agora, o diretor e roteirista Xavier Legrand, que outrora tentou seguir a carreira de ator sem sucesso, retoma a situação e os seus dois protagonistas, Léa Drucker e Denis Ménochet, para encorpar o argumento em “Custódia”. A aclamação se repetiu, desta vez com duas vitórias importantes no último Festival de Veneza (inclusive na categoria de Melhor Direção) e o prêmio da crítica na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, nesta considerado por muitos espectadores como o filme de terror da sua 41ª edição.

Em tempos em que o abuso contra a mulher tem sido uma pauta central de discussão na sociedade, “Custódia” é lançado em um momento oportuno, ainda mais por flagrar o crime dentro do contexto doméstico, talvez o mais ignorado pelas portas que terceiros fecham e trancam como medida para não intervir em crises que acontecem no vizinho na casa do vizinho.

Na realidade, Miriam Besson (papel de Léa Drucker) já tentou dar um basta na situação, efetivando a separação com Antoine (Ménochet). A questão é que, ao contrário da filha mais velha Joséphine (Mathilde Auneveux), Julien (Thomas Gioria) é ainda um pré-adolescente e a justiça de termina que a sua guarda deve ser cedida quinzenalmente ao seu pai.

Como roteirista, é evidente algumas extensões nem sempre bem ajambradas de Xavier Legrand com base em seu curta, como a cerimônia com a qual encena a suspeita de gravidez de Joséphine. Já como diretor, a sua condução é, sem exageros, digna de veterano alçado a gênio.

Isso se dá porque Legrand sabe como sugerir o que se deu ao longo da vida dos Besson, conduzindo um elenco que carrega em olhares e retrações um histórico de violência que dispensa o uso de artificialismos como uma confirmação, a exemplo de flashbacks. Porém, são nas inevitáveis explosões de desequilíbrio que “Custódia” nos torna cúmplices absolutos, culminando em um terceiro ato que se revela um verdadeiro pesadelo imersivo.

Sem Amor

Resenha Crítica | Sem Amor (2017)

Nelyubov, de Andrey Zvyagintsev

.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Desde “O Retorno” (2003), longa-metragem de estreia laureado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza, que o cineasta Andrey Zvyagintsev vem diagnosticando a falência da família como instituição e a constituição de uma sociedade operada a partir de suas divergências sociais e éticas. O melhor é o progresso que demonstrou como realizador autoral, entregando desde “Elena” um drama superior ao anterior.

“Sem Amor” é a sua mais exemplar demonstração de excelência até aqui, em parte reconhecida com o Prêmio do Júri no Festival de Cannes do ano passado e com indicações ao Oscar, Bafta e Globo de Ouro a Melhor Filme Estrangeiro. Não à toa, a sua única exibição na 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo rendeu alvoroço entre o público na bilheteria.

Boris (Aleksey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak) estão com o casamento desfeito e já sustentam relacionamentos com outros companheiros, o primeiro com uma mulher a qual engravidou e a segunda, com um homem mais velho e bem-sucedido. Os elos que restaram são o apartamento que habitam e Alyosha (Matvey Novikov), o filho de 12 anos em que estão desinteressados em lutar pela custódia.

Sem deixar vestígios, Alyosha desaparece. A desolação bate para Boris e Zhenya, mas as discussões são muito mais pautadas sobre a culpa que um transfere para o outro pela irresponsabilidade como pais do que necessariamente sobre as pistas que podem ter sido deixadas para trás e que devem contribuir para as buscas.

A frieza é reforçada por uma fotografia de Mikhail Krichman amparada pelo cinza das arquiteturas e do clima invernal permanente. Há também um microcosmo que se desenha e que recebe grandes proporções principalmente com a música de Evgueni Galperine e Sacha Galperine, que nada ficam a dever a Philip Glass, de quem Zvyagintsev se apropriou em oportunidades anteriores.

Com isso, “Sem Amor” vai avaliando um estado de indiferença que parece contaminar uma nação, comentário que explicita principalmente com o modo como os seus personagens seguem com o seu cotidiano sendo alheios às pequenas tragédias ao fundo noticiadas em rádios. Indiferença essa que é inclusive capaz de deletar de todo um contexto uma presença humana indesejada que por um período ali habitou.

Resenha Crítica | A Noiva do Deserto (2017)

La novia del desierto, de Cecilia Atán e Valeria Pivato

.:: 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.

Mesmo agregando créditos desde 1984, quando debutou na tevê, a chilena Paulina García demorou quase 30 anos para se tornar um atriz reconhecido mundialmente, graças à repercussão do formidável “Gloria“, filme pelo qual foi premiada no Festival de Berlim pela sua interpretação e que agora está prestes a receber uma refilmagem dirigida pelo próprio Sebastián Lelio e protagonizada por Julianne Moore. Hoje, o seu nome é item de interesse comercial, como demostra o cartaz e a possibilidade de lançamento comercial no Brasil de “A Noiva do Deserto”.

Aqui, Paulina García vive Teresa, uma mulher com 54 anos desorientada com a recente demissão. Por um longo tempo, trabalhou como doméstica em uma bela e grande residência em Buenos Aires. Por isso mesmo, aceita um serviço para auxiliar na preparação de um casamento que acontecerá em uma cidade do interior, forçando-a a apanhar um ônibus de viagem para se deslocar.

As coisas começam a sair fora do planejado quando o tal veículo interrompe o trajeto após apresentar um problema, obrigando Teresa a permanecer por horas a fio em um vilarejo popular pelo seu santuário. É nesse ambiente que conhece Gringo (Claudio Rissi), vendedor ambulante que vai passando de um mero desconhecido a um homem que atrai o interesse de Teresa quando esta esquece a sua bolsa no trailer dele.

Guardadas as devidas proporções, “A Noiva do Deserto” lembra demais o brasileiro “Pela Janela“, em que Magali Biff também se via sem chão ao perder o emprego com uma idade já avançada. E bem como a cineasta Caroline Leone, a dupla Cecilia Atán e Valeria Pivato tenta buscar na singeleza um peso dramático que inexiste. Resta assim apreciar por menos de 80 minutos a inestimável presença de Paulina García, que faz milagre com uma narrativa nada cinematográfica.

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Lançamento em streaming:
Disponível a partir do dia 21 de junho
iTunes: R$ 19,90 (Compra) | R$ 11,90 (VOD)
Google: R$ 29,90 (Compra) | R$ 9,90 (VOD)
Now: R$ 14,90 (VOD)
VivoPlay: R$ 11,90 (VOD)